30 janeiro 2022

geraldine gutiérrez-wienken

 

XI

La polilla pegada del techo se

ha topado con la serpentina

de un sueño

alguien cruza los dedos

alguien despierta de su insomnio

alguien dice que está

insatisfecho con la insatisfacción

la mesa desmantelada

el centro de la mesa

hecho polvo

alguien cuenta los pasos perdidos

de la cucharilla a un plato llano

alguien está ahogándose

en el paraíso

nadie hace siesta

y las butacas se retapizan de flores

grandes desarraigos. Y de polvo



XI

A traça colada ao teto

colidiu com a serpentina

de um sonho

alguém cruza os dedos

alguém acorda da sua insónia

alguém diz que está

insatisfeito com a insatisfação

a mesa desmantelada

o centro da mesa

reduzido a pó

alguém conta os passos perdidos

da colher para um prato raso

alguém se está a afogar

no paraíso

ninguém faz sesta

e os sofás estão estofados de flores

grandes desenraizamentos. E de pó


29 janeiro 2022

noée maire


Je choisis l’absence, la fenêtre.

Je prends soin.

Je fourbis mes faiblesses quand

l’herbe drue, la terre dure

s’illuminent et se retirent

n’invitent personne.


S’allonger ventre en contact

où je ne laisserai pas d’empreinte.

Que mes yeux s’écoulent aux collines

aux nuages rapides

que mes paumes s’écorchent aux racines.



Escolho a ausência, a janela.

Estou a tratar disso.

Restauro as minhas fraquezas quando

a erva viçosa, a terra dura

se iluminam e se retiram

não convidam ninguém.


Deitar de barriga para baixo

onde não deixarei marca.

Que os meus olhos se escoem nas colinas

nas nuvens rápidas

as minhas palmas esfolam-se nas raízes.


28 janeiro 2022

florencia deFelippe

 

El terreno baldío


Nunca supe cómo cruzar el terreno baldío

ni atravesar en skate las calles de tierra

ni hacer chistes visionarios y precisos

pero me trepaba a los árboles

y a los postes de luz

con la habilidad de un chimpancé.

Podía ver entonces la proyección diminuta de:


la casa los primos el lomo de un perro


el viento allá arriba era otro y el silencio

me pertenecía como

pocas cosas pueden pertenecer en la vida.


Después estaba el vértigo, y ese mareo de hamacas

cuando se arrojan las piernas

como serpentinas al cielo

en un primer instinto de supervivencia.



O terreno baldio


Nunca soube como cruzar o terreno baldio

nem atravessar de skate as ruas de terra

nem fazer piadas visionárias e precisas

mas subia às árvores

e aos postes de luz

com a habilidade de um chimpanzé.

Podia ver então a projeção diminuta de:


a casa os primos o lombo de um cão


o vento lá em cima era outro e o silêncio

pertencia-me como

poucas coisas podem pertencer na vida.


Depois havia a vertigem, e essa tontura de redes

quando se atiram as pernas

como serpentinas para o céu

num primeiro instinto de sobrevivência.


27 janeiro 2022

mercedes halfon

 

Estoy tomando nafta con una amiga


es normal

es algo que la gente hace en un país como éste

ya no hay nada barato, ni cerca, ni fácil

la extensión se despliega como una luz azul

cuando tenga tiempo voy a volver sobre mis pasos

los bolsillos son sigilosos

no recuerdo donde guardé

las plantas que estaban vivas

una sirena se adelanta a la velocidad

si pudiera saber algo de lo que quiero

no estaría acá

trasladando sombras de un lado a otro.



Estou a beber nafta com una amiga


é normal

é algo que as pessoas fazem num país como este

já não há nada barato, nem perto, nem fácil

a extensão desdobra-se como uma luz azul

quando tiver tempo vou voltar aos meus passos

os bolsos são sigilosos

não me lembro onde guardei

as plantas que estavam vivas

uma sirene adianta-se à velocidade

se pudesse saber algo do que quero

não estaria aqui

a trasladar sombras de um lado para o outro.


26 janeiro 2022

laura sánchez solorio

 

Nos levantan como el viento arrastra las hojas secas

apenas pueden contarnos


arrojadas en bolsas de basura….en mitad de barrancas….camino del bosque para ver a la abuela


somos tantas y tantas que no pueden encontrarnos a todas

hoy muy temprano salieron a buscar lo que de nosotras resta

madres abuelas tías amigas

clandestinas

en fosas bajo la tierra



Levantam-nos como o vento arrasta as folhas secas

mal nos conseguem contar


atiradas para sacos de lixo.... no meio de barrancas.... caminho do bosque para ver a avó


somos tantas e tantas que não conseguem encontrar-nos a todas

hoje muito cedo saíram para procurar o que resta de nós

mães avós tias amigas

clandestinas

em valas debaixo da terra


25 janeiro 2022

mary jo bang

 

Costumes Exchanging Glances


The rhinestone lights blink off and on.

Pretend stars.

I'm sick of explanations. A life is like Russell said

of electricity, not a thing but the way things behave.

A science of motion toward some flat surface,

some heat, some cold. Some light

can leave some after-image but it doesn't last.

Isn't that what they say? That and that

historical events exchange glances with nothingness.



Máscaras em troca de olhares


As diamantíferas luzes piscam em intermitência.

Falsas estrelas.

Estou farta de explicações. Uma vida é o que Russell

disse da eletricidade, não uma coisa mas a forma como as coisas funcionam.

Uma ciência do andamento até determinada superfície plana,

algum calor, algum frio. Algumas luzes

podem deixar algo de pós-imagem, mas não dura muito.

Não é o que dizem? Isso e que os

acontecimentos históricos trocam olhinhos com nada.


24 janeiro 2022

julia erazo

 

ruido salvage


el invierno sepulta tus huellas irremediablemente


una araña recupera sus hilos sueltos

unos pies corren descalzos por la casa


no quedan rastros de ti

solo un poco de azúcar derramado sobre la mesa



ruído selvagem


o inverno sepulta os teus vestígios irremediavelmente


uma aranha recupera os seus fios soltos

há pés a correr descalços pela casa


não ficam sulcos de ti

só um pouquinho de açúcar espalhado sobre a mesa


23 janeiro 2022

sabrina foschini

 

Michele


Ho il sangue dell’amico sotto i miei piedi.

Il suo morso sul dente della mia lancia.

Noi eravamo vicini, dividevamo a metà i sogni,

avevamo le stesse insegne sulla corazza.

Le sue ali erano più larghe delle mie,

coprivano meglio le distanze.

Più veloce nella corsa e nel riso,

più svelto a prevenire i desideri del genitore.

Egli ci guardava sorridendo, come a godere della nostra somiglianza.

Ma il suo viso era più bello del mio.

Meno sporco di approssimazione.

Spesso mi diceva che la gioia assoluta dell’eternità lo spaventava.

Parlava piano, come se in questo modo il padre non potesse udirlo.

Vedevo che questo pensiero gli cambiava le mani,

inceneriva la sua pelle.

Ho schizzi di sangue sulle pieghe nette della tunica.

Una striscia di terra attorcigliata alla cintura.

Una corona spinata attorno alla mia mano destra…

Lui mi aveva sempre battuto nella lotta

ma il dubbio lo aveva indebolito,

lavorato ai fianchi come una marea.

Quando è precipitato ho fatto in tempo a vedere i suoi occhi infuocarsi.

Credo che nel mondo questo si chiami piangere.

Un verbo che ho imparato da lui.

In segreto studiava le parole degli uomini

e i loro movimenti mancini.

Aveva sete di tutto.

Aveva invidia della terra.

Mentre cadeva sotto la geometria aguzza dei colpi

mi è sembrato che sorridesse.

O forse preferisco crederlo.

Dico che non avrei voluto questo compito.

Ho fatto io, quell’angolo vuoto accanto al Padre.

Da allora la mia mano impugna in ogni gesto un’arma.

E tengo l’amico sotto i miei piedi.




Miguel


Tenho debaixo dos pés o sangue do meu amigo.

Sua mordida no fio da minha lança.

Éramos vizinhos, partilhávamos sonhos,

usávamos os mesmos emblemas na couraça.

As suas asas eram maiores do que as minhas,

cobriam melhor as distâncias.

Mais rápido na corrida e no riso,

mais hábil em prevenir os desejos do pai.

Ele olhava- nos sorrindo, como se desfrutasse de nossa semelhança.

Mas seu rosto era mais bonito que o meu.

Menos manchado pelas imprecisões.

Dizia-me muitas vezes que o gozo absoluto da eternidade o assustava.

Falava devagar como se o pai não o pudesse ouvir.

Eu via que este pensamento lhe mudava as mãos,

lhe escurecia a pele.

Tenho manchas de sangue nas dobras limpas da túnica.

Uma faixa de terra atada à cintura.

Uma coroa de espinhos ao redor da minha mão direita...

Sempre me levou a melhor na luta

mas a dúvida tinha-o debilitado,

erodindo-lhe os quadris como uma maré.

Quando caiu, tive tempo para ver os seus olhos a arder.

Acho que no mundo a isso se chama chorar.

Um verbo que aprendi com ele.

Em segredo estudava as palavras dos homens,

e os seus movimentos falsos.

Tinha sede de tudo.

Tinha inveja da terra.

Enquanto caía sob a simetria aguda dos golpes

Pareceu-me que estava a sorrir.

Ou assim quero crer.

Confesso que teria preferido não cumprir esta missão.

Fui eu quem deixou esse vazio no Pai.

Desde então minha mão empunha em cada gesto uma arma.

E tenho o meu amigo debaixo dos pés.


22 janeiro 2022

ivelisse álvarez

 

Hold


He amaestrado bumeranes

como un pretexto de los vientos.


En la plaza, alguien

ahuyenta las palomas,

pero ninguna se mueve.


Quise lanzar un avión de papel,

que volara en falso

y aprendí el «adiós»

porque nadie saludaba.


He amaestrado este miedo

con una sola mano


fingiendo.




Hold


Tenho treinado bumerangues

como um pretexto dos ventos.


Na praça, alguém

afugenta as pombas,

mas nenhuma se mexe.


Quis lançar um avião de papel,

que voasse em falso

e aprendi o «adeus»

porque ninguém acenava.


Treinei este medo

com uma só mão

fingindo.


21 janeiro 2022

maria àngels anglada


Des de les closes, II

 

Recorda sempre aquesta claror

de la tarda –assuavida

pel trenat dels xiprers i dels llorers flairosos–

com la veus, ja enyorant-la, darrera els finestrals.

 

Recorda sempre aquesta claror

gràvida d’ocells quasi tots invisibles

fora d’una cardina que es gronxa

a la branca més alta del més alt xiprer.

 

Així la tarda del cor, abans resplendent,

és entelada d’ombres allargades

i d’aquest gris que em crida

el nom més estimat.

I també els ocells que em cantaven a dintre

s’encauen, errívols, i només

molt de tant en tant

un s’escapa, s’eleva del llac del silenci

i assaja una cançó des de la branca arrelada

en la llum de la fonda amorosa memòria.



Desde as cercas, II


Lembra-te sempre deste claro

da tarde - suavizada

pelo entrançado dos ciprestes e dos cheirosos louros -

como o vês, já com saudades suas, atrás das janelas. 


Lembra-te sempre deste claro

grávido de pássaros quase todos invisíveis

fora de um pintassilgo que balança

no ramo mais alto do mais alto cipreste.


Assim a tarde do coração, antes resplandecente,

é manchada por sombras longilíneas

e por este cinzento que me grita

o nome mais amado.


E também os pássaros que me cantavam por dentro

escondem-se, errantes, e só

muito de vez em quando

um escapa, eleva-se do lago do silêncio

e ensaia uma canção no ramo radicado

à luz da funda memória amorosa.


20 janeiro 2022

paola loreto


Non c’è posto migliore del fondo,

il luogo del riposo, della pausa,

dello spogliamento.

L’anticipo di un vero

troppo reale

per mancarlo, tradirlo.

Non c’è spazio più caro

più raro (più mio)

di questa fine

inizio.



Não se encontra melhor que o fundo

lugar do sossego, do vagar,

da desposse.

O antecipar de um veraz

demasiado real

para ser perdido, traído.

Não há sítio mais ameno

mais raro (mais meu)

deste fim

início.


19 janeiro 2022

nancy garcía gallegos

 
deseo de alas blancas
en habitación de madera y orquídeas:
intento la voz
pero del cuerpo me salen cenizas
y no puedo escribir la palabra barco
para tener la posibilidad de arrojarme desde una de sus orillas
punta lengua rota me voy a quedar
porque el viento
devolvió
ante mis ojos
la botella
llena de tristeza
que arrojé al mar


desejo de asas brancas
em quarto de madeira e orquídeas:
tento a voz
mas do corpo saem-me cinzas
e não consigo escrever a palavra barco
para ter a possibilidade de me atirar de uma das suas bordas
ponta língua partida vou ficar
porque o vento
devolveu
aos meus olhos
a garrafa
cheia de tristeza
que lancei ao mar


18 janeiro 2022

patricia colchado

 

Cordón umbilical


Todavía me tienta la muerte,

me tiende a diario sus manos,

cual rojas mariposas forcejeando

en la debilidad de mis huesos.

Mas este niño es mi cordón umbilical

que me ata a la vida.

Él, a pesar de su tristeza me ayuda a respirar,

me ayuda a extender las manos;

compartimos las migajas de un pan negro

que sabe a cielo dulce.

Nuestro pasado es una herida

que el viento sopla furioso.

Somos de arcilla, adquirimos una nueva forma

según la mirada del otro.

Él grita, yo grito,

este niño es mi eco huérfano y miedoso.



Cordão umbilical


Ainda me tenta a morte,

estende-me todos os dias as mãos,

como borboletas vermelhas em sarrafusca

na debilidade dos meus ossos.


Mas esta menino é o meu cordão umbilical

que me prende à vida.

Ele, apesar da sua tristeza ajuda-me a respirar,

ajuda-me a estender as mãos;

compartilhamos as migalhas de um pão preto

que sabe a céu doce.


O nosso passado é uma ferida

que o vento sopra furioso.

Somos de argila, adquirimos uma nova forma

segundo o olhar do outro.


Ele grita, eu grito,

Este menino é o meu eco órfão e medroso.


17 janeiro 2022

legna rodriguez iglesias


11

yo te odio como una liebre a otra liebre de la cual depende para correr juntas en la estepa y te odio más que una liebre a la estepa por ser este el lugar a donde corren las liebres acompañadas por otras liebres la subordinación da lugar a sentimientos mezquinos sentimientos razonables en un país victorioso nadie depende de nadie es algo erradicado hace mucho tiempo incluso hubo algo llamado los independientes de color algo que debió tener afinidad con la poesía o por lo menos con las artes algo de una esencia pocas veces alcanzada yo te odio por eso porque pocas veces he alcanzado una esencia dan deseos de quedarse parado sobre la mesa con los pies en la comida los independientes de color se paraban sobre la mesa con los pies en la comida y empezaban a marchar hacia el color la independencia nunca llegaron a un lugar ni al otro pero al menos se paraban marchaban y aborrecían la comida como signo de consumo como única combinación entre la liebre la estepa y la próxima liebre los triángulos también dan lugar a sentimientos mezquinos sentimientos razonables

11

odeio-te como uma lebre odeia outra lebre da qual depende para correrem juntas nas estepes e odeio-te mais que uma lebre à estepe por ser esse o lugar onde correm as lebres acompanhadas por outras lebres a subordinação dá lugar a sentimentos mesquinhos sentimentos razoáveis num país vitorioso ninguém depende de ninguém é uma coisa erradicada há muito tempo houve mesmo algo chamado os independentes da cor que deve ter tido afinidade com a poesia ou pelo menos com as artes uma espécie de essência poucas vezes alcançada odeio-te por isso porque poucas vezes atingi uma essência dá vontade de estar parado em cima da mesa com os pés na comida os independentes da cor estacionavam em cima da mesa com os pés na comida e começavam a andar em direção à cor a independência nunca chegaram a um lugar ou a outro mas pelo menos paravam, andavam detestavam a comida como sinal de consumo como única combinação entre a lebre a estepe e a próxima lebre os triângulos também originam sentimentos mesquinhos sentimentos razoáveis

 


16 janeiro 2022

enriqueta ulzurrun

 

El vestido


Estoy en ropa interior mientras

el médico palpa mis costillas.

Presiona ligeramente,

no necesita excavar demasiado,

los huesos se ven a simple vista.

Para ellos soy un yacimiento.

Me mide, pesa y apunta en silencio.

La enfermera y él hacen un diagnóstico

de mis restos, quieren saber

cómo pueden sacarme de la tierra.

No les dije que mamá consiguió ahorrar

para comprarme el vestido

rosa con botones de margaritas.

Ese día, sola en la habitación,

tiré el uniforme del colegio sobre la cama

y deslicé la prenda sobre los muslos.

Esta se clavó contra el vientre

señalando el enclave exacto

donde ahora los médicos buscan

las pruebas de mi devastación.

Me escondí para que nadie pudiera tocarme.

Tener un cuerpo parece cosa fácil.

Los hay que lo mueven sin apenas

esfuerzo aparente, con pequeños apoyos,

como un acto de fe.

Yo debo aprender a sostenerlo de nuevo

con un sinfín de trucos.

La suciedad bajo mis uñas me recuerda

que lo dejé vacío

y ahora vivo en una casa

donde alguien se ajusta los zapatos

apaga las luces y cierra la puerta,

esperando no volver.



O vestido


Estou em lingerie enquanto

o médico me apalpa as costelas.

Pressiona ligeiramente,

não precisa de aprofundar muito,

os ossos são visíveis a olho nu.

Para eles, sou um jazigo.

Mede-me, pesa-me e anota em silêncio.

Ele e a enfermeira fazem um diagnóstico

dos meus restos, querem saber

como podem tirar-me da terra.

Não lhes disse que minha mãe conseguiu economizar

para me comprar o vestido

rosa com botões de margaridas.

Nesse dia, sozinha no quarto,

atirei o uniforme da escola para a cama

e deslizei a prenda pelas coxas.

Esta cravou-se contra o ventre

assinalando o local exato

onde agora os médicos procuram

as provas da minha devastação.

Escondi-me para que ninguém me pudesse tocar.

Ter um corpo parece coisa fácil.

Há os que o movem sem qualquer

esforço aparente, com pequenos apoios,

como um ato de fé.

Tenho de aprender a sustentá-lo de novo

com uma infinidade de truques.

O sujo das minhas unhas lembra-me

que o deixei vazio

e agora vivo numa casa

onde alguém encaixa os sapatos

apaga as luzes e fecha a porta,

esperando não voltar.


15 janeiro 2022

celia carrasco gil

 

Este sol de la infancia


Como un limón bruñido

o coágulo de albor en los mimbres del mundo

amamanta a la luciérnaga su tumba de resina.

Juegas al escondite debajo del patíbulo

y desde allí haces al ahorcado ser pendiente,

tesoro faraónico que cuelga del ajuar,

joyel momificado del instante en tu lumbre

detenida.

El cuento

atrás

se pausa.

Y la voz es relámpago de exequias.

Pavesa interrogante que ha iniciado su búsqueda

y diluye en la noche

un llanto de pabilo incandescente,

un perfume de luz anegado por la cera que lo acuna,

el sonido de emergencia de una gota tullida.

El día que se incendia en su apogeo último

y que anuncia en la cuenta de la vida

una amable tragedia o el golpe de dulzura

que nos brinda la cidra si se pudre.



Este sol da infância


Como um limão brunido

ou coágulo de alba nos vimes do mundo 

amamenta o pirilampo em sua tumba de resina.

Brincas às escondidas debaixo do patíbulo

e daí fazes o enforcado ser pendente,

tesouro faraónico pendurado no enxoval,

joia mumificada do instante em tua luz

detida.

O conto

lá atrás

pausa.

E a voz é relâmpago de exéquias.

Faísca interrogante que iniciou a sua procura

e dilui na noite

um pranto de pavio incandescente,

um perfume de luz encharcado pela cera que o embala,

o som de emergência de uma gota tolhida.

O dia em que se incendeia no seu apogeu último

e que anuncia na conta da vida

uma amável tragédia ou o golpe de doçura

que nos dá a cidra se apodrecer.