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25 março 2023

maría belén milla altabás

 

La domesticación de los afectos


Yo había sido hermosa

como un club campestre

mi belleza periférica y mi amor

se sostuvo con pitas y mala hierba

y superficies melosas

mi amor, el asunto transversal

en un cuarto de pensión sin ventanas

yo había sido veloz

y valiente

politeísta, compatriota

corta de vista, de buen talante

gran protagonista de esta, mi

boda

el mejor evento para la deuda emocional:

enfocada en cortar las pequeñas panzas

llenas de maicena de mis amantes

con exuberancia latina, qué tremenda

persona

qué emociones fuertes

ya adulta ya casada

ya lejos de la vida no gobernable

mírala, su blonda de novia atravesada por

animales y dientes

tu agridulce, tu sana

tu guerra balcánica

me oscurezco como una ermita

la farsante, la afamada

cazando fortunas con el cuerpo limpio y solo

con el cuerpo vengándose

desalada, magnífica pero a qué precio

seré bella pero a qué precio

sí, hubo un amante, el varón santo

con música bajita más allá de la especie

mi amante desde su catedral se lanza

y se recupera: sí, mi carismático

y todavía sus mosaicos brillantes! todavía solares!

todavía cúpula! Giotto!

pasó también que mi marido resultó

céntrico y visible

bien ejercitado en las pruebas de lealtad

resarcido, se dejaba ver como la fachada

no terminada de un edificio

me gustaba el sonido de su culpa,

acaramelada, de verdad

se arrepentía

de sus otras mujeres, aquellas

otras unidades de medida:

por entonces su cuerpo era opaco y yo lo bendecía

escarmentado se paraba en el centro de la alfombra

como un pichón lamido por su madre

y la boda volvía a empezar

con canapés y borlas y mariscos

y cuerpos estrechados, decorados, buscándose

celestes, salvajes como el frío

yo había sido hermosa

como una relación de pertenencia

una mentira

muy tierna

abriéndome el costado




A domesticação dos afectos


Eu tinha sido linda

como um clube campestre

a minha beleza periférica e o meu amor

segurou-se com agaves e ervas daninhas

e superfícies melosas

o meu amor, o assunto transversal

num quarto de pensão sem janelas

eu tinha sido veloz

e de coragem

politeísta, compatriota

curta de vista, de boa disposição

grande protagonista desta, o meu

casamento

o melhor evento para a dívida emocional:

focada em cortar as pequenas barrigas

cheias de milho dos meus amantes

com exuberância latina, que tremenda

pessoa

que emoções fortes

já adulta já casada

já longe da vida não governável

olha para ela, a sua renda de noiva atravessada por

animais e dentes

o teu agridoce, a tua sanidade

a tua guerra balcânica

obscuro-me como uma ermida

a farsante, a famosa

caçando fortunas com o corpo limpo e sozinho

com o corpo a vingar-se

desasada, magnífica mas a que preço

serei bela mas a que preço

sim, houve um amante, o varão santo

com música baixinha para lá da espécie

o meu amante da sua catedral se atira

e recupera: sim, o meu carismático

e ainda os seus mosaicos brilhantes! ainda solares!

ainda cúpula! Giotto!

aconteceu também que o meu marido tornou-se

central e visível

bem exercitado nas provas de lealdade

ressarcido, deixava-se ver como a fachada

não terminada de um edifício

Eu gostava do som da sua culpa,

acaramelada, de facto

arrependia-se

das suas outras mulheres, essas

outras unidades de medida:

nessa altura o seu corpo era opaco e eu o abençoava

escarmentado parava no centro da alcatifa

como um pombo lambido por sua mãe

e o casamento voltava a começar

com canapés e borlas e mariscos

e corpos estreitos, decorados, à procura

celestes, selvagens como o frio

eu tinha sido linda

como uma relação de pertença

uma mentira

muito terna

abrindo-me o flanco



02 junho 2021

maría belén milla altabás

 

a la manera de un tren en movimiento

esta es la lengua que me asfixia

los verbos para asfixiarse son sencillos, explícitos como un picnic

copio aquí la evidencia: oprimir, sofocar, ahogar (no les falta eficacia)

es rápido: uno se va adormeciendo en los rincones y deja

que su esófago se convierta en un lugar impreciso

a menudo ocurre que la felicidad es una montaña demasiado alta y para eso

sirven este tipo de términos:

me asfixia tu voz de casa amarilla

me oprime el iceberg que hay en todas mis palabras

pero esto no es lo que me ocurre ahora

ahora, que reflejo lo opaco del mundo

(el espejo se cubre de moho, mis quinientos ojos, mis niñas idiotas mirando el cielo)

cómo digo —con qué palabra explico

la velocidad con la que se empieza a llenar mi boca de piedras

la forma en la que mi corazón se va pareciendo cada vez más a una prótesis

hecha en las fábricas de un país asiático —explotado por la miseria de lo rápido

y me da pena



assim como um comboio em movimento

esta é a língua que me asfixia

os verbos para se asfixiar são simples, explícitos como um piquenique

copio aqui a evidência: oprimir, sufocar, afogar (não lhes falta eficácia)

é rápido: vamos adormecendo nos cantos e deixamos

que o nosso esófago se converta em lugar impreciso

muitas vezes acontece que a felicidade é uma montanha muito alta e para isso

servem este tipo de termos:

asfixia-me a tua voz de casa amarela

oprime-me o icebergue que há em todas as minhas palavras

mas não é isso que agora me ocorre

agora, que reflito o opaco do mundo

(o espelho cobre-se de mofo, os meus quinhentos olhos, as minhas meninas idiotas olhando para o céu)

como digo - com que palavra explico

a velocidade com que começa a encher a minha boca de pedras

a forma como meu coração se parece cada vez mais com uma prótese

feita nas fábricas de um país asiático - explorado pela miséria do rápido

e dá-me pena