Mostrar mensagens com a etiqueta lisette lombé. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta lisette lombé. Mostrar todas as mensagens

28 março 2023

lisette lombé

 

OUBLIE!


Oublie ceux qui t'observent comme on observe une folle.

Oublie ceux qui ne comprennent pas ta danse.

Ceux qui aiment la musique des gitans mais ne souffrent pas les odeurs des gens.

Oublie ceux qui menacent ton tapis de leurs chaussures crasseuses.

Oublie le ciel, oublie les cieux.

Il n'y a rien pour toi là-haut.

Rien pour le repos. Rien pour le sommeil du juste.

Rien. Rien pour assourdir la litanie des souffrances.

Rien contre l'hémorragie du monde.

Sens la cheville que comprime encore le souvenir de la chaussure crasseuse.

Sens le pied qui prolonge la cheville.

La plante de pied, chaque orteil.

Sens la crasse entre les orteils, la crasse sous la semelle, la semelle sur le tapis.

Tapis. Bitume. Tapis. Brin d'herbe.

Et ce Dieu qui ne t'arrive pas à la cheville

Chaque fois

Chaque fois qu'une giclée de sperme splitsh splatsh sur la joue d'un môme.

Chaque fois qu'un ouragan arrache le toit d'une baraque pour le taper sur le toit

d'une autre baraque et planter une tôle ondulée dans la poitrine d'une femme.

Chaque fois que des plus jeunes que toi, très jeunes, très très jeunes tombent

comme des mouches.

Pour chaque fois que

Jeté par dessus bord.

Lancé dans les orties.

Rangé dans le placard.

Dieu ne t'arrive pas à la cheville.

Oublie le ciel, oublie les cieux.

Agenouillée, tu te sens mouche, ouragan dans la mouche. Sperme dans les orties.

Tu te sens toi.




ESQUECE!


Esquece as pessoas que olham para ti como se fosses louca.

Esquece os que não entendem a tua dança.

Aqueles que amam a música dos ciganos, mas não sofrem os cheiros das pessoas.

Esquece aqueles que ameaçam o teu tapete com os seus sapatos sujos.

Esquece o céu, esquece os céus.

Não há nada para ti lá em cima.

Nada para o descanso. Nada para o sono dos justos.

Nada. Nada para abafar as ladainhas do sofrimento.

Nada contra a hemorragia do mundo.

Sente o tornozelo a comprimir a memória do sapato sujo.

Sente o pé a estender o tornozelo.

A planta do pé, cada dedo.

Sente a sujidade entre os dedos dos pés, a sujidade sob a sola, a sola sobre o tapete.

Sente o tornozelo que comprime ainda a lembrança do calçado imundo.

Sente o pé que prolonga o calçado.

A planta do pé, cada dedo.

Sente a porcaria entre os dedos dos pés, a porcaria debaixo da sola, a sola sobre o tapete.

Tapete. Betume. Tapete. Fio de erva.

E esse Deus que não te chegue ao tornozelo

De cada vez

De cada vez que um esguicho de esperma splitsh splatsh na bochecha de um miúdo.

De cada vez que um furacão arranca o teto de uma casa para bater no telhado

de outra barraca e espetar uma chapa metálica no peito de uma mulher.

De cada vez que os mais jovens do que tu, muito jovens, muito muito jovens caem

como moscas.

Para cada vez que

Foste lançado borda fora.

Atirado às urtigas.

Posto no armário.

Deus não te chega ao tornozelo.

Esquece o céu, esquece os céus.

Ajoelhada, sentes-te mosca, furacão na mosca. Esperma nas urtigas.

Sentes-te tu.