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13 setembro 2022

maría beneyto

 

Amigo íntimo


Y, con todo, ya veis, no tengo miedo.

Lo tuve, sí, lo tuve cuando era

la luna un círculo de luz helada,

el agua una llamada irresistible,

los árboles un grito monstruoso

de la tierra, y mis manos un extraño

temblor. Hoy no. Estoy libre, estoy atenta

a mis propias pisadas, que no evitan

tropezar con los huesos esparcidos

de la desolación que me rodea.

Estoy casi contenta de irme lejos,

acarreo abundancias abusivas,

enseres inservibles, semilleros

que tienen que brotar por el camino…

El miedo era un hermano muy pequeño

que había que cuidar de que pudiera

caerse y añadirse hasta volverse

un pánico feroz, era una leve

suavísima ternura, tan querida,

que había que cubrir hasta asfixiarla

para que no creciese más. (Su muerte

se duerme aquí en la mía de algún modo).

No tengo miedo, y por lograr ahora

la paz, me voy sin él. (Dadle una tierra

benigna a su cadáver, casi el mío).

Ya veis, por no tener, ya ni siquiera

tengo a mi amor de siempre, al pobre miedo

que tan fiel compañía dio a mi vida.




Amigo íntimo


E, apesar de tudo, como vêem, não tenho medo.

Tive-o, sim, tive-o quando era

a lua um círculo de luz gelada,

a água uma chamada irresistível,

as árvores um grito monstruoso

da terra, e as minhas mãos um estranho

tremor. Hoje não. Estou livre, estou atenta

aos meus próprios passos, que não evitam

tropeçar nos ossos espalhados

da desolação que me rodeia.

Estou quase contente de ir para longe,

carrego abundâncias abusivas,

adereços inutilizáveis, sementeiras

que têm que brotar pelo caminho...

O medo era um irmão muito pequeno

que era preciso vigiar para que não pudesse

cair e ser acrescentado até se tornar

um pânico feroz, era uma leve

suavíssima ternura, tão querida,

que tinha que ser coberta até à asfixia

para que não crescesse mais. (A sua morte

dorme aqui na minha de algum modo).

Não tenho medo, e para conseguir agora

a paz, vou sem ele. (Dêem-lhe uma terra

benigna ao seu cadáver, quase o meu).

Como vêem, por não ter, já nem sequer

tenho o meu amor de sempre, o pobre medo

que fiel companhia deu á minha vida.