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02 março 2021

valzhyna mort

 

Ars Poetica


Not books, but

a street opened my mouth like a doctor’s spatula.

One by one, streets introduced themselves

with the names of national

murderers.

In the State Archives, covers

hardened like scabs

over the ledgers.


Inside a tiny apartment

I built myself

into a separate room,

peopled it

with the Calibans

of plans for the future.


Future that runs on the schedule of public buses,

from the zoo to the circus, what future;

what is your alibi for these ledgers, these streets, this apartment, this future?


In the purse which held—

through seven wars—

the birth certificates

of the dead, my grandmother

hid—from me—

chocolates. The purse opened like a screaming mouth.

Its two shiny buckles watched me

through doors, through walls, through jazz.


Who has taught you to be a frightening face, purse?

I kiss your buckles, I swear myself your subject.


August. Apples. I have nobody.

August. For me, a ripe apple is a little brother.


For me, a four-legged table is a pet.


In the temple of Supermarket

I stand

like a candle


in the line to the priestesses who preserve

the knowledge of sausage prices, the virginity

of milk cartons. My future, small

change after buying necessities.


Future that runs on the schedule of public buses,

streets introduced themselves with the names

of national murderers. I build myself

into a separate room, where memory—

the illegal migrant in time—cleans up

after imagination.


In a room where memory strips the beds—

linens that hardened like scabs

on the mattresses—I kiss


little apples—my brothers—I kiss the buckles

that watch us through walls, through years, through jazz;

chocolates from a purse that held—through seven wars—

birth certificates of the dead!


Hold me, brother-apple.



Ars Poetica


Não os livros, mas

uma rua abriu-me a boca como uma espátula de médico.

Uma por uma, as ruas apresentaram-se

com os nomes dos nacionais

assassinos.

Nos Arquivos Estatais, as capas

dos livros de contabilidade

endureceram como crostas.


Futuro que circula nos horários dos transportes públicos,

do jardim zoológico ao circo, qual futuro;

qual é a tua desculpa para estes livros de contabilidade, estas ruas, este apartamento, este futuro?


Na mala que manteve

durante sete guerras-

as certidões de nascimento

dos mortos, a minha avó

escondeu - de mim -

chocolates.

A mala abriu-se como uma boca a gritar.

As suas duas fivelas brilhantes observavam-me

através de portas, através de paredes, através do jazz.


Quem te ensinou a ser uma cara aterradora, mala?

Beijo as tuas fivelas, juro que sou teu súbdito.


Agosto. Maçãs. Não tenho ninguém.

Agosto. Para mim, uma maçã madura é um irmão.


Para mim, uma mesa de quatro pernas é um animal de estimação.


No templo do supermercado

ergo-me

como uma vela.


na fila para as sacerdotisas que preservam

o conhecimento dos preços das salsichas, a virgindade

do leite nos pacotes. Meu futuro, pequena

mudança depois da compra de necessidades.


Futuro que circula nos horários dos transportes públicos,

ruas que se apresentam a elas próprias

com os nomes dos assassinos nacionais.

Construí-me a mim própria

num quarto separado, onde a memória -

o migrante ilegal no tempo – faz a limpeza

depois da imaginação.


Numa sala onde a memória rasga as camas-

lençóis que endureceram como crostas

nos colchões - Beijo


pequenas maçãs—meus irmãos— Beijo as fivelas

que nos observam através das paredes, através dos anos, através do jazz;

chocolates de uma mala que aguentou – durante sete guerras -

as certidões de nascimento dos mortos!


Abraça-me, irmão-maçã.