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04 maio 2020

rocío acebal



Hijos de la bonanza

Mi infancia son recuerdos de un piso a las afueras
y un huerto descuidado en la ventana;
mi juventud, veinte años de cuadernos de inglés.

Conseguirás —dijeron—
mucho más que tus padres y sus padres:
estudia cuatro años y tendrás un trabajo,
trabaja y vivirás siempre tranquila;
trabaja y serás digna de un futuro.
Asentí, como todos —hijos de la bonanza—.

No atendimos a aquel presentimiento
aquel olor a pólvora —aún distante—
que asomaba en voz baja
como un eco de angustia a puertas de palacio.

De aquel país ajeno a las fronteras
solo guardo el recuerdo de la luz
y una aversión a la palabra patria.


Filhos da bonança

A minha infância são lembranças de um apartamento nos subúrbios
e um horto negligenciado na janela;
a minha juventude, vinte anos de cadernos de inglês.

Conseguirás — diziam
muito mais que os teus pais e os pais deles:
estuda quatro anos e terás trabalho,
trabalha e viverás sempre tranquila;
trabalha e serás digna de um futuro.
Assenti, como todos — filhos da bonança —.

Não prestámos atenção àquele pressentimento
àquele cheiro a pólvora – ainda distante -
que assomava em voz baixa
como um eco de angústia às portas do palácio.

Daquele país alheio às fronteiras
só guardo a lembrança da luz
e uma aversão à palavra pátria.