Hijos de la
bonanza
Mi infancia son
recuerdos de un piso a las afueras
y un huerto
descuidado en la ventana;
mi juventud, veinte
años de cuadernos de inglés.
Conseguirás
—dijeron—
mucho más que tus
padres y sus padres:
estudia cuatro años
y tendrás un trabajo,
trabaja y vivirás
siempre tranquila;
trabaja y serás
digna de un futuro.
Asentí, como todos
—hijos de la bonanza—.
No atendimos a aquel
presentimiento
aquel olor a pólvora
—aún distante—
que asomaba en voz
baja
como un eco de
angustia a puertas de palacio.
De aquel país ajeno
a las fronteras
solo guardo el
recuerdo de la luz
y una aversión a la
palabra patria.
Filhos
da bonança
A
minha infância são lembranças de um apartamento nos subúrbios
e
um horto negligenciado na janela;
a
minha juventude, vinte anos de cadernos de inglês.
Conseguirás
— diziam —
muito
mais que os teus pais e os pais deles:
estuda
quatro anos e terás trabalho,
trabalha
e viverás sempre tranquila;
trabalha
e serás digna de um futuro.
Assenti,
como todos — filhos
da bonança —.
Não
prestámos atenção àquele pressentimento
àquele
cheiro a pólvora – ainda distante -
que
assomava em voz baixa
como
um eco de angústia às portas do palácio.
Daquele
país alheio às fronteiras
só
guardo a lembrança da luz
e
uma aversão à palavra pátria.