La memoria
Mientras yo avanzo,
hay otra que sigue mi pie
y copia mis movimientos como una sombra,
una que abre la puerta
por la que ya he salido,
otra que nace
y otra que llora.
Hay un momento en que me estoy enamorando siempre
y en que pierdo el amor,
momento sucesivo:
circulación de una película invariable,
agua cincelada que ya no se derrama.
Otra siempre
calza la huella de mi pie
y otra a su vez hay que calza su huella.
Ciempiés que simultáneo avanza
en todos los instantes
irrigando ruinas y despojos:
viejo ferrocarril de la memoria
que cruzas por un túnel de excavadas madrugadas,
conoces sólo un cielo diluido,
y el gesto, en otro tiempo acto,
repitiendo besos, pasos y murmullos.
Vida gastada ya en vivirla,
termes
que a su paso dejó un termes hueco.
A memória
Enquanto vou em frente,
outra há que segue os meus andanços
e copia os meus movimentos como uma sombra,
uma que abre a porta
pela qual já saí,
outra que nasce
e outra que chora.
Há uma altura em que estou sempre a apaixonar-me
e em que perco o amor,
momento sucessivo:
circulação de um filme invariável,
água cinzelada que já não se derrama.
Outra sempre
calça a pegada do meu pé
e outras vezes calça a sua pegada.
Centopeia que em simultâneao avança
em todos os instantes
irrigando ruínas e despojos:
velha ferrovia da memória
que atravessas um túnel de escavadas madrugadas,
só conheces um céu diluído,
e o gesto, em outro tempo ato,
repetindo beijos, passos e murmúrios.
Vida gasta já em vivê-la,
prazos
que ao passar deixou um prazo oco.