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21 janeiro 2023

carolina campos

 

En su armario no caben mis zapatos


Dijo que no

le abriría puertas a la casa.

No dejaría entrar mis miedos,

tenderlos en las paredes

al lado de sus grietas recién cosidas.

No me sentaría en su mesa,

ni tejería manteles con mis recuerdos;

tampoco haría girar

mi espalda sobre ellos.

Se negaba a compartir

las lluvias que inundan el ombligo

y demandan secarse al sol,

en la hamaca verde y almendra

de la piel con la montaña.

Ni siquiera estaba dispuesta

a planear domingos por senderos

y recoger esas flores diminutas

de los años que comienzan.


Prefería,

dejar intactos los estantes

habitarse sola

y no volver a vaciar

la mitad de las gavetas.




No seu armário não cabem os meus sapatos


Disse que não

abriria portas na casa.

Não deixaria entrar os meus medos,

estendê-los pelas paredes

ao lado das fendas recém cosidas.

Não me sentaria na sua mesa,

nem teceria toalhas de mesa com as minhas lembranças;

nem faria girar

minhas costas sobre elas.

Recusava-se a compartilhar

as chuvas que inundam o umbigo

e exigem serem secas ao sol,

na rede verde e amêndoa

da pele com a montanha.

Nem sequer estava disposta

a planear domingos em trilhos

e recolher essas flores pequenas

dos anos que começam.


Preferia

deixar as prateleiras intactas

habitar sozinha

e não voltar a esvaziar

metade das gavetas.