En su armario no caben mis zapatos
Dijo que no
le abriría puertas a la casa.
No dejaría entrar mis miedos,
tenderlos en las paredes
al lado de sus grietas recién cosidas.
No me sentaría en su mesa,
ni tejería manteles con mis recuerdos;
tampoco haría girar
mi espalda sobre ellos.
Se negaba a compartir
las lluvias que inundan el ombligo
y demandan secarse al sol,
en la hamaca verde y almendra
de la piel con la montaña.
Ni siquiera estaba dispuesta
a planear domingos por senderos
y recoger esas flores diminutas
de los años que comienzan.
Prefería,
dejar intactos los estantes
habitarse sola
y no volver a vaciar
la mitad de las gavetas.
No seu armário não cabem os meus sapatos
Disse que não
abriria portas na casa.
Não deixaria entrar os meus medos,
estendê-los pelas paredes
ao lado das fendas recém cosidas.
Não me sentaria na sua mesa,
nem teceria toalhas de mesa com as minhas lembranças;
nem faria girar
minhas costas sobre elas.
Recusava-se a compartilhar
as chuvas que inundam o umbigo
e exigem serem secas ao sol,
na rede verde e amêndoa
da pele com a montanha.
Nem sequer estava disposta
a planear domingos em trilhos
e recolher essas flores pequenas
dos anos que começam.
Preferia
deixar as prateleiras intactas
habitar sozinha
e não voltar a esvaziar
metade das gavetas.