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01 setembro 2020

lü yue


诗歌不知道自己已经死了

诗歌不知道自己已经死了
在一千个洞的高尔夫球场上为它举行了国葬
眼皮上撒上花瓣,花瓣上洒上几滴眼泪
一滴来自希腊人,一滴来自印第安人
一滴来自海豹
墓志铭由拉丁文和甲骨文写成
所有长着两条腿的人都看到它终于死了
身穿黑色和金色织成的寿衣
嘴角似笑非笑

草履虫活着,蜥蜴活着,蝴蝶活着
所有爬行和飞行的东西都活着
恐龙正和小学生一起去动物园春游
挺着喝饱了奶的小肚子
教皇活着,正坐飞机去非洲
非洲活着
第九代机器人也将活着
诗歌不知道自己已经死了
它梦见自己带着所有的死者,孩子和孕妇
在天堂跳伞
在地狱发射火箭
在第三世界的大街上穿着防弹背心跑马拉松

葬礼上,一个孩子发现它的眼睛还在眼皮下转动
但它捐出了自己的眼角膜
所以它将永远看不见自己的死亡


A poesia desconhece que morreu

A poesia desconhece que morreu.
Faz-se um funeral de Estado num campo de golfe com mil buracos,
suas pálpebras são polvilhadas com pétalas
e as pétalas transportam umas certas lágrimas
uma do grego, outra do latino
e as restantes, dos crocodilos.
O seu epitáfio é uma inscrição oracular chinesa.
Todo aquele que tenha duas pernas foi testemunha da sua morte,
finalmente morreu
envolta em preto e ouro,
com a boca levemente a sorrir.

Os gafanhotos estão vivos,
é por isso que agora são lagartos e borboletas.
Todos os que se arrastam estão vivos.
Os dinossauros chegam ao jardim zoológico juntamente com as crianças
para uma excursão de primavera,
têm os seus pequenos ventres inchados de leite fresco.
O Papa está vivo, no seu caminho para África pelo ar.
África está viva.
Os robôs de nona geração estarão vivos também.
Só a poesia está morta, mas ainda não sabe.
Ainda sonha com paraquedas no céu com todos os viventes,
pequena ou prenhe
Ainda sonha em lançar foguetes.
Correr maratonas nas ruas do Terceiro Mundo
Com um colete anti-bala

No funeral
uma criança vê a poesia mexendo os olhos
por dentro das pálpebras.
Doou as suas córneas,
Nunca verá a sua própria morte.