El
reverso
Tiene
estrategias que no conoces. Piensas que es una cuestión de docilidad
y de dar la vuelta, pero no es así. No sabes qué verso desde el
final de la página subirá hasta aquí para picarte los ojos. No
trae idea de suicidio, no hereda los males visibles de tu casa. No
tiene que ver con el miedo ni con los sueños en donde no llegas
nunca a la estación.
El
reverso se burla de tus sueños, de las rajaduras en el piso de tu
casa y el temblor. Está aunque lo ignores. Entre el cuerpo de tu
abuela y la sábana de flores. Entre su piel y la pijama que conserva
su olor. El reverso no respira por ti ni por tus hermanos. Te ignora
pero tú no debes ignorarlo a él.
¿Forma
parte de una fibra en tu corazón? ¿Está parado en la fila del
colegio? Se ríe de tus decisiones pero no es el mal. Posibilita lo
que no concebías y no daña con ello. No aumenta la creciente del
río, no se lamenta, no tiene prisa, no se esconde bajo tu chamarra
de cuero. No se anuncia y no tiene lista de verbos favoritos. No te
condiciona pero tampoco te mira como crees.
Si
fuera silencio habría tapado tu boca, tampoco es sorpresa. Es lo que
es. No la parte interna del cuenco ni su base, tampoco los poros
fríos en la cerámica. No se manifiesta visiblemente pero no hay
molécula ni mínima constitución que desconozca. No está bajo la
tapa ni en la parte posterior del ojo. No ubica el nervio óptico, no
invierte ninguna imagen.
No
opaca la piel de las manzanas. Consume la cera de las velas. Se traga
las horas con gula y confía demasiado en su imagen.
¿Tiene
oído para los pájaros? ¿Le importa tu propio tiempo? ¿La profunda
gana de crecer del tabachín? ¿Leerá la línea de Malinowsky
dibujada en el muro de tu casa?:
Se
acordará el viento de la hierba y de nosotros.
El
reverso no distingue gama de grises. No puede diferenciar entre el
grafito y la tinta china. Le dan igual las sombras. No le incomoda el
negro de los funerales, no conoce el peso de los hombros. Nunca ha
visto un bulto lanzarse por la ventana. No tiene iniciativa, tampoco
voluntad. No escribe malos poemas ni poéticas para despertar a Li
Po. No fabrica nada mal hecho, no acumula ni guarda nada para sí.
Permite que te veas de otro modo. No conoce la bondad pero quizá
intervenga en el crecimiento. No tiene culpa ni compromiso. Conoce al
derecho y al revés tu casa. Cada uno de tus pensamientos, pero no
los atesora ni los aborrece.
El
reverso te sostiene pero no moldea tu gravedad. Va a contratiempo. No
le preocupa la eternidad, un goteo mal arreglado en la cocina.
Tampoco la cara leal de tus amigos. No está oculto a tus ojos, pero
nada de tus pertenencias le conviene. Tampoco le interesa el pan que
no vendes, el que se endurece; ni la madera que astilló tus dedos ni
los actos que te pusieron el gesto rudo. No sabe de cuerpos adheridos
ni de heridas que se distienden. No tiene principio ni fin. Tampoco
se enreda en la mitología. No se anuncia en visiones y jamás
conoció el rostro de Blake. No guió ninguno de sus carbones. No
caligrafió ninguno de sus textos, no lamió nunca su torso.
No
sabe nunca cómo detenerse.
O reverso
Tem estratégias que não conheces. Pensas que é uma questão de
docilidade e de dar a volta, mas não. Não sabes que verso desde o
fim da página subirá até aqui para te picar os olhos. Não traz
ideia de suicídio, não herda os males visíveis da tua casa. Não
tem a ver com o medo nem com os sonhos aonde nunca chegas à estação.
O reverso está a marimbar-se dos teus sonhos, das rachas no andar
da tua casa e das tremuras. Está mesmo que o ignores. Entre o corpo
da tua avó e o lençol de flores. Entre a sua pele e o pijama que
conserva o seu cheiro. O reverso não respira por ti nem pelos teus
irmãos. Ignora-te mas não o deves ignorar.
Faz parte de uma fibra no teu coração? ¿Está parado na fila do
colégio? Ri-se das tuas decisões mas não é o mal. Possibilita o
que não concebias e com isso não prejudica. Não aumenta a
crescente do rio, não se lamenta, não tem pressa, não se esconde
sob a tua samarra de couro. Não se anuncia e não tem lista de
verbos favoritos. Não te condiciona nem tão pouco observa como
acreditas.
Se fosse silêncio teria tapado a tua boca, nem sequer é
surpresa. É o que é. Não a parte interna da tigela nem a sua base,
sequer os portos frios na cerâmica. Não se manifesta visivelmente
mas não há molécula nem mínima constituição que desconheça.
Não está debaixo da tampa nem na parte posterior do olho. Não
situa o nervo ótico, não inverte qualquer imagem.
Não opaca a pele das maçãs. Consome a cera das velas. Engole as
horas com gula e confia demasiado na sua imagem.
Tem ouvido para os pássaros? Importa-lhe o teu próprio tempo? A
profunda gana de crescer do tabachín? Lerá a linha de Malinowsky
desenhada na parede da tua casa?:
Lembrar-se-á o vento da erva e de nós.
O reverso não distingue gama de cinzentos. Não consegue
diferenciar entre o grafite e a tinta da china. As sombras são-lhe
todas iguais. Não lhe incomoda o negro dos funerais, não conhece o
peso dos ombros. Nunca viu um vulto atirar-se pela janela. Não tem
iniciativa, sequer vontade. Não escreve maus poemas nem poéticas
para despertar Li Po. Não fabrica nada mal feito, não acumula nem
guarda nada para si. Permite que te vejas de outro modo. Não conhece
a bondade mas talvez intervenha no crescimento. Não tem culpa nem
compromisso. Conhece o direito e o avesso da tua casa. Cada um dos
teus pensamentos, mas não os valoriza nem os subestima.
O reverso sustém-te mas não molda a tua gravidade. Anda em
contratempo. Não o preocupa a eternidade, um gotejar insolucionado
na cozinha. Sequer a cara leal dos teus amigos. Não está oculto aos
teus olhos, mas nada dos teus pertences lhe convém. Sequer lhe
interessa o pão que não vendes, o que endurece; nem a madeira que
estilhaçou os teus dedos nem os atos que te puseram o gesto rude.
Não sabe de corpos aderidos nem de feridas que se distendem. Não
tem principio nem fim. Sequer se enreda na mitologia. Não se anuncia
em visões e nunca conheceu o rosto de Blake. Não guiou nenhum dos
seus carvões. Não caligrafou qualquer dos seus textos, não lambeu
nunca o seu torso.
Não sabe nunca como se deter.