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12 julho 2022

aniela rodríguez

 

del día que me quedé sentada,

esperando


I

nunca me he sentido más sola que el día que mi abuela dijo que iba a cruzar la calle

en veinte años yo tendría que ayudarla y aprender a seguir sus huellas

y sería yo el jinete que guiaría sus pasos

ella sería el caballo negro

que todos los días amanece mudo en el retablo

y que aprendemos a querer

con un silencio

que no se dice

ni se enseña

mi abuela me enseñó el misterio del fuego y el poder de la alquimia

cuando yo no sabía contar ni siquiera hasta el siete

adecir how are you fine thank you

mi abuela sabía que cruzar las vías es más importante que quemar las naves

por eso arrancaba las etiquetas de mis suéteres

para que nadie supiera mi nombre

para que nadie me quitara la costumbre

de contar los rieles

y derramar mi helado

mientras el tren se asomaba con recelo a nuestras piernas

mientras los caballos como tropas

se quedaban mudos

cuando mi abuela cruzaba a trompicones

y levantaba la frente

para galopar con ellos


la cicatriz en su cerebro

está quedándose

tiesa


la siguen

a pasitos

los fantasmas

de mi infancia



II

alguien me dijo

que no tendría por qué esperar

que se cerraran nuestros ojos

como catacumbas

si de todos modos

por las manos

se nos están trepando los gusanos del miedo

y nos quedamos

poco a poco

como fantasmas partidos por la ausencia

como insectos devorando el cadáver de una fruta


alguien me dijo

que nos iríamos quedando sin nosotros mismos

yo

que no conocía la historia del fuego

arranqué de tus labios una postal de la ausencia

donde escribías

que no hay nada sin lo nuestro

y que la lluvia

estaba siendo una perra

yo esperé sentada


alguien me dijo que dejara de creer en la esperanza

y tomé una enciclopedia

ahí estaba escrito tu futuro

en negritas

y una anotación que prometía

un mapa al fondo de la Atlántida

y el tesoro escondido

en las minas de tus manos


porque me quedé esperando

con una lata entre las piernas

cuando alguien me dijo

que me levantara


III

nuestros miedos son dos cometas que intentamos hacer pasar por accidentes

y que se estrellaron hace tiempo

en el jardín de casa

tienen las rodillas hechas trizas

de tanto jugar al escondite

nuestros miedos son más débiles que larvas

no tienen la ferocidad del tiempo

no saben que a nosotros nos bendice la memoria

se estrellan fugaces en las paredes

dejan costras del color de la mentira

no se caen

aprenden a volverse rémoras

nuestros miedos tienen el silencio de una procesión infinita

por donde los marchantes

no recuerdan el nombre de su santo

y tienen que colgarse una estampita al cuello

para evitar perderse entre las trampas del olvido

nuestros miedos son dos brazos inmóviles

que rezan sin tener que pegarse al cielo

y que ríen y que lloran

han aprendido a comprender la calma

escuchan, impacientes, las esquelas anatómicas

y caen fulminados

ante el monumento

de nuestras cicatrices




do dia em que fiquei sentada,

à espera


I

Nunca me senti tão sozinha como no dia em que a minha avó disse que ia atravessar a rua

em vinte anos eu teria que ajudá-la e aprender a seguir os seus rastros

e seria eu o cavaleiro que guiaria seus passos

ela seria o cavalo negro

que todos os dias amanhece mudo no retábulo

e que aprendemos a amar

com um silêncio

que não se diz

nem se ensina

a minha avó ensinou-me o mistério do fogo e o poder da alquimia

quando eu não sabia contar nem sequer até sete

ajustar how are you fine thank you

a minha avó sabia que atravessar os trilhos é mais importante que queimar as naves

por isso arrancava as etiquetas das minhas camisolas

para que ninguém soubesse o meu nome

para que ninguém me tirasse o costume

de contar os carris

e derramar o meu gelado

enquanto o comboio espreitava com receio as nossas pernas

enquanto os cavalos como tropas

ficavam mudos

quando a minha avó atravessava aos tropeções

e levantava a cabeça

para galopar com eles


a cicatriz no seu cérebro

está a ficar

rígida


está seguida

mesmo ao lado

pelos fantasmas

da minha infância



II

alguém me disse

que não haveria razão para esperar

que os nossos olhos se fechassem

como catacumbas

se de qualquer maneira

pelas mãos

nos estão a subir os vermes do medo

e nós ficamos

pouco a pouco

como fantasmas partidos pela ausência

como insetos devorando o cadáver de uma fruta


alguém me disse

que iríamos ficar sem nós mesmos

eu

que não conhecia a história do fogo

arranquei dos teus lábios um postal da ausência

onde escrevias

que não há nada sem o que somos

e que a chuva

estava a ser uma cadela

eu esperei sentada


alguém me disse para deixar de acreditar na esperança

e peguei numa enciclopédia

aí estava escrito o teu futuro

em negrito

e uma anotação que prometia

um mapa do fundo da Atlântida

e o tesouro escondido

nas minas das tuas mãos


porque fiquei à espera

com uma lata entre as pernas

quando alguém me disse

para me levantar


III

os nossos medos são dois cometas que tentamos fazer passar por acidentes

e que se estrelaram há tempos

no jardim de casa

têm os joelhos em pcacos

de tanto jogar às escondidas

os nossos medos são mais débeis que as larvas

não têm a ferocidade do tempo

não sabem que a nós nos abençoa a memória

estrelam-se fugazes nas paredes

deixam crostas da cor da mentira

não caem



III

aprendem a tornar-se rémoras

os nossos medos têm o silêncio de uma procissão infinita

onde os procissantes

não se lembram do nome do seu santo

e têm que pendurar uma imagenzinha ao pescoço

para evitarem perder-se entre as armadilhas do esquecimento

os nossos medos são dois braços imóveis

que rezam sem terem de se colar ao céu

que riem e choram

aprenderam a compreender a calma

escutam, impacientes, o obituário anatómico

e caem fulminados

diante do monumento

das nossas cicatrizes