Mostrar mensagens com a etiqueta montserrat álvarez. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta montserrat álvarez. Mostrar todas as mensagens

11 janeiro 2022

montserrat álvarez

 

Última foto


Para tomarte una foto noventosa

ponte un vaquero roto

y la campera de cuero de tu padre

gafas oscuras y las manos en los bolsillos

No mires a la cámara

la popularidad no te interesa

Naciste mala y sola

y mala y desolada morirás

La campera de cuero de tu padre

te queda grande

como todos los símbolos

de autoridad o poder

o de cuanto pueda ser noble o respetable

Chica mala

veneno y núcleo de la oscuridad

yérguete con orgullo de monstruo ante la cámara

Nunca habrá una campera a tu medida

porque naciste mala y desolada

y nada de esto está hecho para ti

ni siquiera el lenguaje

ya no intentes hablar

porque si dijeras tus palabras

—tus genuinas palabras—

no serían palabras

serían cuchilladas

que te destrozarían al salir

y te desgarrarían las entrañas

Así que olvídalo

Prepara con orgullo esta última escena

No vuelvas a ser cómplice de nada

porque tú en nada crees

ni has creído jamás

Enciende un cigarrillo

Que no haya en esta foto

ni luz ni movimiento ni color

No sonrías

Vuélvete el corazón de las tinieblas

No le devuelvas al mundo la mirada



Última foto


Para tirares uma foto dos anos noventa

põe umas jeans rotas

e o casaco de couro do teu pai

óculos escuros e mãos nos bolsos

Não olhes para a câmara

a popularidade não te interessa

Nasceste má e sozinha

e má e desolada morrerás

O casaco de couro do teu pai

fica-te grande

como todos os símbolos

de autoridade ou poder

ou de quanto possa ser nobre ou respeitável

Rapariga má

veneno e núcleo da escuridão

ergue-te com orgulho de monstro diante da câmara

Nunca haverá um casaco à tua medida

porque nasceste má e desolada

e nada disto foi feito para ti

nem sequer a linguagem

não mais tentes falar

porque se dissesses as tuas palavras

- as tuas genuínas palavras -

não seriam palavras

seriam facadas

que te destroçariam ao sair

e te rasgariam as entranhas

Por isso esquece

Prepara com orgulho esta última cena

Não voltes a ser cúmplice de nada

porque não acreditas em nada

nem nunca acreditaste

Acende um cigarro

Que não haja nesta foto

luz, movimento, cor

Não sorrias

Voltar-te-á o coração das trevas

Não devolvas ao mundo o olhar