Lobster
El sueño es una segunda vida
Gérard de Nerval, Aurelia
Tantos agostos amaneciendo en Beirut
bajo los escombros de un lenguaje mutilado
Esta noche en la que no soy hombre ni dios
desearía hacer carne los dominios de la locura
ir a dormir con el exoesqueleto de frazada
Aurelia si basara mi vida en un solo dogma
rezar Gérard de Nerval fue un sueño
si la memoria no fuera un caldero hirviendo
ni los escombros de los hombres palabras
para las langostas en Beirut
Podría callarme podría no decir
un psiquiátrico es la visión más diáfana de la poesía
de un país
pero no soy hombre ni dios
Apenas se me ha confiado recoger los escombros
de agostos mutilados
volviendo todas las noches a las entrañas deshechas
de un país que reescribo
con la mantequilla caliente sobre la espalda
y alguien afilando los cubiertos sobre la mesa
Lobster
O sonho é uma segunda vida
Gérard de Nerval, Aurélia
Tantos agostos amanhecendo em Beirute
sob os escombros de uma linguagem mutilada
Esta noite em que não sou homem nem deus
gostaria de fazer carne os domínios da loucura
ir dormir com o exoesqueleto como manta
Aurelia se baseasse minha vida num único dogma
rezar Gérard de Nerval foi um sonho
se a memória não fosse um caldeirão a ferver
nem os escombros dos homens palavras
para as lagostas em Beirute
Poderia calar-me poderia não dizer
um psiquiatra é a visão mais diáfana da poesia
de um país
mas não sou homem nem deus
Apenas me foi confiado recolher os escombros
de agostos mutilados
voltando todas as noites às entranhas desfeitas
de um país que reescrevo
com manteiga quente nas costas
e alguém afiando os talheres sobre a mesa