Mostrar mensagens com a etiqueta paula simonetti. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta paula simonetti. Mostrar todas as mensagens

24 junho 2020

paula simonetti


La conversación

Me quedo quieta para oírte mejor
a ratos veo que el sonido de tu voz
se enreda con el frío y con el humo
como si no estuvieras diciendo palabras
sino echando monedas de aire al aire

estás indefensa
ante las palabras que decís

te volviste tan alta como yo
sin que nos diéramos cuenta
crecías mientras tomaba el tren
charlaba con amigas que a su vez
tenían hijos o compraban autos
y se separaban
iba y venía del supermercado
y no te decía más que cómo estás
qué linda estás cómo te fue te felicito
querés venir querés que vaya a visitarte

pero me quedo quieta y miro
las piedritas que tirás
en el agua estancada
de esta conversación que no repara
de esta compañía que no alberga
la promesa de permanecer más que este rato

que te acompaño, te digo
apoyo lento mi mano sobre tu rodilla
todavía más frágil que la mía
y te acompaño, repito
como si a fuerza de reiteración
mis palabras se volvieran cosas ciertas

la silueta de una mariposa muerta
se te forma en la mirada y se te pudre
la boca antes de hablar

una familia es un paisaje
de abandonos y de mesas
la luz menor que da este encendedor
no es suficiente para ir hacia atrás
río adentro
cerrar la última habitación
donde hubo infancia
decir que no, gritar que no
prender la luz

y ver cómo se incendia y se disipa
por fin todo el terror debajo
de tu cama

y no te alcanza


A conversa

Fico imóvel para te ouvir melhor
por vezes perceciono que o som da tua voz
se enreda com o frio e com o fumo
como se não estivesses a dizer palavras
mas sim a deitar moedas de ar para o ar

estás indefesa
diante das palavras que dizes

tornaste-te tão alta quanto eu
sem que déssemos conta
crescias enquanto apanhava o comboio
parlendava com amigas que por sua vez
tinham filhos ou compravam carros
e se separavam
ia e vinha do supermercado
e apenas te dizia como estás
que linda estás como vão as coisas parabéns
queres vir queres que vá visitar-te

mas fico imóvel e olho
os seixos que atiras
para a água estagnada
desta conversa que não repara
desta companhia que não hospeda
a promessa de permanecer mais que este instante.

Acompanho-te, digo-te
apoio lentamente a minha mão sobre o teu joelho
ainda mais frágil que o meu
acompanho-te, repito
como se por força de reiteração
as minhas palavras se tornassem coisas certas

a silhueta de uma borboleta morta
forma-se no teu olhar e apodrece-te
a boca antes de falar

uma família é uma paisagem
de abandonos e de mesas
a luz menor que dá este isqueiro
não é suficiente para ir para trás
rio adentro
fechar o último quarto
onde houve infância
dizer que não, gritar que não
acender a luz

e ver como se incendeia e dissipa
por fim todo o terror debaixo
da tua cama

e não te alcança