The cat song
Mine, says the cat, putting out his paw of darkness.
My lover, my friend, my slave, my toy, says
the cat making on your chest his gesture of drawing
milk from his mother’s forgotten breasts.
Let us walk in the woods, says the cat.
I’ll teach you to read the tabloid of scents,
to fade into shadow, wait like a trap, to hunt.
Now I lay this plump warm mouse on your mat.
You feed me, I try to feed you, we are friends,
says the cat, although I am more equal than you.
Can you leap twenty times the height of your body?
Can you run up and down trees? Jump between roofs?
Let us rub our bodies together and talk of touch.
My emotions are pure as salt crystals and as hard.
My lusts glow like my eyes. I sing to you in the
mornings
walking round and round your bed and into your face.
Come I will teach you to dance as naturally
as falling asleep and waking and stretching long,
long.
I speak greed with my paws and fear with my whiskers.
Envy lashes my tail. Love speaks me entire, a word
of fur. I will teach you to be still as an egg
and to slip like the ghost of wind through the grass.
Cantiga
do gato
Minha, diz o gato,
pondo a sua pata fora do escuro.
Minha amante, minha
amiga, minha escrava, meu brinquedo, diz
o gato, performando
no teu peito o seu passo de
leite das tetas
esquecidas da mãe.
Vamos andar pelos
bosques, diz o gato.
Vou ensinar-te a ler
o manual dos aromas,
a camuflares-te nas
sombras, a esperar como uma armadilha, a caçar.
Agora deixo-te este
bojudo rato quente no teu tapete.
Alimentas-me, eu
tento alimentar-se, somos amigos,
diz o gato, embora eu
seja mais igual que tu.
Consegues saltar
vinte vezes mais do que a altura do teu corpo?
Consegues subir e
descer árvores a correr? Saltar entre telhados?
Vamos esfregar os nossos
corpos juntos e falar de toque.
As minhas emoções são
como cristais de sal, puras e duras.
O meu desejo brilha
como os meus olhos. De manhã canto para ti
passeando vezes sem
conta na tua cama e no teu rosto.
Vem, vou ensinar-te a
dançar com a mesma naturalidade
de adormecer e
acordar e espreguiçar longo, longo.
Digo ganância com as
minhas patas e medo com os meus bigodes.
Inveja chicoteia
minha cauda. O amor fala-me inteiro, uma palavra
de pelo. Vou
ensinar-te a ficar imóvel como um ovo
e a caminhares em
silêncio como o fantasma do vento pela relva