Primer mundo
Hoy soy diminuta
soy una mosca
perdida en habitación extranjera
y todos los que me
miran son arañas
todo se mueve tan
lento
y me entra una pena
tan grande
que desde mis ojos
se ve el río Thames
Todo es tan exacto
que mi lenguaje
oblicuo rebota en sus esquinas
todo es tan exacto
que mi rostro indio
no entra en sus espejos
todo es tan exacto
que mis besos no
caben en sus mejillas
todo es tan exacto
que después de un
polvo
tengo que despedirme
de lejos
como pidiendo
disculpas
sin mirarlos a los
ojos
todo es tan exacto
que me avergüenza
mi cuerpo
la velocidad de mi
lengua
y mis dos apellidos
mi pasaporte tiene
una mancha debajo de la palabra
nacionalidad
me da pena
a él nunca le pude
contar que yo también sonrío cuando veo una polilla
que me dan ternura
las abejas
que me hacen llorar
las hojas secas
y que cuando lloro
no termina
y lo que se ve en
mis pupilas
no es el río Thames
es el Rímac
y se me va a las
rodillas
y que todos los días
me muero demasiado
quiero demasiado
necesito demasiado
pero solo miro una
silla
pero solo miro una
silla
pero solo
miro
una silla
el calor me abraza
de nuevo
como a las bancas
donde duermen vagabundos
vagabundos tan
blancos
vagabundos tan
rubios
y me pierdo en buses
de negros para sentir calma
les sonrío grande y
loca
me sonríen grande y
loco de vuelta
no estamos en el
primer mundo nos decimos con las cejas
les beso toda la
cara
y me la besan toda
de vuelta
y nos vamos a un
barrio pobre
para sentirnos en
casa.
Primeiro
mundo
Hoje
estou diminuta
estou
uma mosca perdida num quarto estranho
e
todos os que me olham são aranhas
Tudo
se movo muito lentamente
e
entra-me uma pena tão grande
que
a partir dos meus olhos se vê o rio Tamisa
Tudo
é tão exacto
que
a minha linguagem oblíqua
faz
ricochete nos seus cantos
tudo
é tão exacto
que
o meu rosto índio não entra nos seus espelhos
tudo
é tão exacto
que
os meus beijos não cabem nas suas bochechas
tudo
é tão exacto
que
depois de uma queca
tenho
de despedir-me de longe
como
a pedir desculpas
sem
os olhar nos olhos
tudo
é tão exacto
que
me envergonha o meu corpo
a
velocidade da minha língua
e os
meus dois apelidos
o
meu passaporte tem uma nódoa debaixo da palavra
nacionalidade
tenho
pena
a
ele nunca lhe pude contar que eu também sorrio quando vejo uma traça
que
me dão ternura as abelhas
que
me fazem chorar as folhas secas
e
que quando choro não acaba
e o
que se vê nas minhas pupilas
não
é o rio Tamisa
é o
Rímac
e
dá-me pelos joelhos
e
que todos os dias
me
morre demasiado
quero
demasiado
preciso
demasiado
mas
só vejo uma cadeira
mas
só vejo uma cadeira
mas
só
vejo
uma
cadeira
o
calor abraça-me de novo
como
nos bancos onde dormem vagabundos
vagabundos
tão brancos
vagabundos
tão ruivos
e
perco-me em autocarros de negros para estar calma
sorrio-lhes
grande e louca
sorriem-me
de volta grandes e loucos
não
estamos no primeiro mundo dizemo-nos com as sobrancelhas
beijo-lhes
toda a cara
e
beijam-ma em resposta
vamos
para um bairro pobre
para
nos sentirmos em casa.