Mostrar mensagens com a etiqueta alejandra lerma. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta alejandra lerma. Mostrar todas as mensagens

21 agosto 2017

alejandra lerma

Retrato de mi abuela

Mi abuela vive en lo oscuro
pasa horas infinitas mirando al techo
dice que le duele el dolor
arrastra sus temblores junto a la silla de ruedas
a veces se olvida de su nombre

Sus manos se agitan al comer
recuerdo que una vez me alimentó
que me limpió la boca
y me enseñó palabras
todo lo hizo muy firme
estuvo viva para que yo viviera

No soy buena cuidándola
me asusta su tristeza

Temo envejecer con tanta angustia
mirarme en un reflejo
verme como ella
preguntarme dónde están mis hijos
y no poder llorar de la vergüenza

Marina
nunca ha visto el mar
siempre evitó los viajes y el amor
se fue quedando muda
cansada de escucharse
entre la soledad de las pastillas

La miro desde lejos
como a una extraña
se mece entre sus dedos la camándula
el olor de lo que muere la corroe

No comprendo la inclinación de la balanza
quién le ofrendó su peso
cuándo vendrán por ella
dónde guardaron
bajo llave
su alegría.


Retrato da minha avó

A minha avó vive às escuras
passa horas infinitas a olhar para o teto
diz que lhe dói a dor
arrasta as suas tremuras ao pé da cadeira de rodas
às esquece o seu nome

As suas mãos agitam-se a comer
lembro-me que uma vez me deu de comer
limpou-me a boca
e me ensinou palavras
fez tudo com firmeza
esteve viva para que eu vivesse

Não sou boa a tratar dela
assusta-me a sua tristeza

Temo envelhecer com tanta angústia
ver-me num reflexo
ver-me como ela
perguntar onde estão os meus filhos
e não poder chorar de vergonha

Marina
nunca viu o mar
sempre evitou as viagens e o amor
foi ficando muda
cansada de se ouvir
entre a solidão e as pastilhas

Olho-a de longe
como uma estranha
mexe-se entre seus dedos o rosário
o cheiro do que morre corrói-a

Não compreendo a inclinação da balança
quem lhe oferendou o seu peso
quando virão por ela
onde guardaram
à chave
a sua alegria.