Síncope
Pasaron una piedra. Por los huesos
de mi papá era noche. Su cuerpo grávido,
como la luna que insta al lobo ser lobo
y le repite que no dormirá
la locura. Llegó a su mano enajenada
la parálisis de no asistir,
no ser presente en las quinientas horas,
ni escribir el cambio de fechas.
Cada que despierta, el sudor es tanto
que mi mamá sueña con un barco
donde las amuras ya no resisten
ventoleras
que quieren derribar las puertas.
Donde exista una migaja segura
el lobo sopla a las paredes.
De su locura, mi papá dice que es triste.
Me lo dijo de noche,
con la mirada que crea lunas.
Con su nariz desafortunada
da miedo acercar nuestra mano
y no saber quién. Debajo del disfraz,
¿la edad no es triste?
Pregunta mi papá mientras
se desplaza por la sala
persiguiendo las fotos familiares
y su propia cola que confunde
con la del perro que tiene prohibido
lamer su mano en reposo.
Da miedo acercarse.
Mi papá no sabe en qué momento
se metió una piedra en sus huesos,
me dice aullando. Con la mirada que crea bosques
mi mamá repite que la locura
entra por la puerta y hay que mantener la calma
mientras se repite la canción lunar.
Síncope
Passaram uma pedra. Pelos ossos
do meu pai era noite. Seu corpo grávido,
como a lua que insta o lobo a ser lobo
e lhe repete que não dormirá
a loucura. Chegou à sua mão alheada
a paralisia de não assistir,
não estar presente nas quinhentas horas,
nem escrever a mudança de datas.
Cada vez que acorda, o suor é tanto
que a minha mãe sonha com um barco
onde as amuras já não resistem
ventoleiras
que querem derrubar as portas.
Onde haja uma migalha segura
o lobo sopra nas paredes.
Da sua loucura, o meu pai diz que é triste.
Disse-mo à noite,
com o olhar que cria luas.
Com seu nariz infeliz
dá medo aproximar a nossa mão
e não saber quem. Debaixo do disfarce,
a idade não é triste?
Pergunta o meu pai enquanto
se movimenta pela sala
perseguindo as fotos de família
e a sua própria cauda que confunde
com a do cão que está proibido
de lamber a sua mão em repouso.
Dá medo chegar perto.
O meu pai não sabe em que momento
enfiou uma pedra em seus ossos,
diz-me uivando. Com o olhar que cria bosques
a minha mãe repete que a loucura
entra pela porta e tem que manter a calma
enquanto se repete a canção lunar.