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22 maio 2016

gloria peirano

Aquello que no es dolor es sustancia entre los pabellones del Hospital Español de Temperley. Estoy en la cocina, vos deambulás por el hospital geriátrico, cruzás el camino bordeado por moreras, te parás, te estirás en puntas de pie, arrancás una mora madura, de un rojo arterial, la mirás un instante antes de comerla. De alguna manera, ya entendés el mecanismo que te acompañará durante tu vida, y que consiste, fundamentalmente, en esa conciencia que te desdobla del camino de moreras y te permite gozar en el acto de morder una mora no como si fueras otra, sino como una extensión alucinada, una suerte de continuidad borrosa de vos misma. Más tarde, regresarás lentamente por la franja de sombra hacía mí, que siempre confío en que las entrañas de cualquier hospital te devolverán sana y salva.
En un hospital, una mora es la sustancia. La sombra del camino, también. No podrás ejercer reserva alguna sobre esa sensualidad, y siempre querrás que te espere, que alguien lo haga, una espera sensata, inmensa, a la altura de esa exigencia, cuando quieras volver.


O que não é dor é substância, entre os pavilhões do Hospital Espanhol de Temperley. Estou na cozinha, vocês deambulam pelo hospital geriátrico, cruzam o caminho bordejado por amoreiras, param, estiram-se em pontas de pé, arrancam uma amora madura, de um vermelho arterial, olham-na um cisco antes de a comerem. De alguma maneira, já compreendem o mecanismo que vos acompanhará durante a vossa vida e que consiste, fundamentalmente, nessa consciência que vos desdobra do caminho das amoreiras e vos permite gozar no acto de morder uma amora, não como se fossem outros, mas como uma extensão alucinada, uma espécie de continuidade turva de vós próprios. Mais tarde, regressarão lentamente pela franja de sombra até mim que acredito sempre que as entranhas de qualquer hospital vos devolverão sãos e salvos.
Num hospital, uma amora é a substância. A sombra do caminho também. Não conseguirão exercer qualquer reserva sobre essa sensualidade e vocês quererão sempre que vos espere, que alguém o faça, uma espera sensata, imensa, à altura dessa exigência, quando queiram voltar.