giovanna enríquez

 
Bocatientas
 
De las bocas que he quemado
aprendí a tragarme las cenizas.
 
Para hablar de esos olvidos
valdrá eructar el humo
y encontrar en las llamas
palabras,
escondidas en bocas corruptas
que me obligaron a llamarme mestiza
enrabiada,
mujer cometa que le nace fuego,
callada de nombres,
inventora de vuelos tímidos.
 
De las bocas que he temido,
aprendí a negociar las sospechas
que palpitan en labios
de bocas temblando
que nunca me han pedido declarar
el conteo de mi sangre
o la falsedad etimológica de mis apellidos
huérfanos
de voluntad.
 
 
 
Bocàsaranhas
 
Das bocas que queimei
aprendi a engolir as cinzas
 
Para falar desses esquecimentos
vale arrotar a fumaça
e encontrar nas chamas
palavras,
escondidas em bocas corruptas
que me obrigaram a chamar-me mestiça
raivosa,
mulher cometa à qual nasce fogo,
calada de nomes,
inventora de voos tímidos.
 
Das bocas que temi,
aprendi a negociar as suspeitas
que pulsam nos lábios
de bocas a tremer
que nunca me pediram para testemunhar
a contagem do meu sangue
ou a falsidade etimológica dos meus apelidos
órfãos
de vontade.