Mostrar mensagens com a etiqueta safiya sinclair. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta safiya sinclair. Mostrar todas as mensagens

04 outubro 2023

safiya sinclair

 
Family Portrait
 
At our table we don’t say grace.
We sit silent in the face of our questions,
a crown of mosquitos swarming our heads.
 
In this picture, some hot day in March,
the sun makes a strange halo around my ear,
light exploding in our dining room window.
 
Outside, the mongrels whine against our door,
two pups forbidden shelter for their impurity,
my weak heart dividing to offer all its scraps.
 
But what could I offer them, when I knew nothing
of love, and took my corrections with the belt
every evening? There in that city of exile, cobbled
 
square of salt-rust and rebellion, my father’s face looms
its last obstruction, where the dark folds of bougainvillea
remain unclimbing; the one clipped flower
 
of my objection. That withering bloom still hangs limply
in its tangled brooch; my dress, my hands, bruised and falling
loosely about my thighs, unable to ask for a single thing.
 
And perhaps it was only the rain that howled in my ear,
as I observe my doppelganger in the shadows of the frame,
setting fire to the curtains while we slept. Poisoning
 
whatever dark potion filled my father’s cup, my mother
at his shoulder with her fixed pitcher, pouring. She was
pregnant then, and still wore the mouth of her youth,
 
so quiet and unsure of itself, her fingers’ twelve points
streaked across the jug’s fogged glass. There I am again.
I am not myself—long before I shed my Medusa hair,
 
before anyone caught my sister eating black bits
of a millipede, shell and yellow fur snagged in her teeth,
I had my crooked guilt. My brother with his dagger
 
at my throat. This is us. This is all of us.
Before we knew this life would shatter, moving wild
and unwanted through the dark and the light.
 
 
 
Retrato de família
 
 
Na nossa mesa não damos graças.
Sentamos em silêncio diante das nossas perguntas,
Uma coroa de mosquitos fervilha nas nossas cabeças.
 
Nesta foto, um dia quente de maio,
o sol forma um halo insólito em volta da minha orelha,
luz a explodir na janela da sala de jantar.
 
Lá fora, os cães gemem ao pé da porta,
dois cachorros sem abrigo pela sua impureza,
o meu coração frágil a partir-se para oferecer os seus restos.
 
Porém o que poderia eu oferecer, quando não sabia nada
do amor, e recebia as minhas correções com o cinturão
todas as noites? Lá, nessa cidade de exílio, praça
 
empedrada de rebelião, roída pelo sal, o rosto do meu pai
paira sobre a sua última obstrução, onde as escuras dobras
da buganvília continuam sem trepar; a única flor cortada
 
da minha objeção. Esse broto murcho ainda se pendura flácido
no seu alfinete; o meu vestido, as minhas mãos, feridas e caindo
vagas junto às minhas coxas, incapazes de pedir uma só coisa.
 
E talvez tenha sido só a chuva uivando no meu ouvido
enquanto observo o meu duplo nas sombras da moldura,
ateia fogo às cortinas enquanto dormimos. Envenena
 
essa poção negra que ocupa a taça de meu pai, a minha mãe
ao pé do seu ombro com a jarra sempre fixa, servindo.
Estava grávida e ainda vestia a boca da sua juventude,
 
tão calada e insegura, os doze pontos dos seus dedos
riscando o vidro embaçado do vaso. Ali estou eu de novo.
Não sou eu; muito antes de que atirasse o meu cabelo de Medusa,
 
antes que alguém encontrasse a minha irmã a comer
pedaços negros de um milhafre, casca e pelo amarelo entre os seus dentes,
eu já tinha minha culpa arqueada. O meu irmão com a sua faca
 
na minha garganta. Estes somos nós. Todos nós.
Antes de saber que esta vida se quebraria, tremendo
selvagem e indesejada através da escuridão e da luz.