coni banús

 
Si me cortan las piernas treparé con los dientes
y si ya no tuviera será con la mirada,
y aunque ciega no pueda decir lo que nos pasa,
con un hilito de aire,
moveré la sonrisa enamorada
pero,
si no pudiera,
porque hubiera muerto, mi boca,
en la batalla,
recordando tu encanto y mi hechizo de hadas,
vendré como tormenta en lágrima del mundo,
de aguasal la sangre se partirá en llamas,
y entonces,
con las voces del pueblo y su silencio
me montaré en las nubes que llegan a tu casa
y seré tantas formas de blancas cosas raras
que por más que disparen no le darán a nada
 
Si me cortan las piernas, la lengua, la garganta,
las ganas de nombrarte,
de noche, de mañana
me uniré a lo infinito
(ni muerta, ni enterrada)
y moveré las alas
que -a fuerza de patadas-
clavaron en mi espalda
me montaré en cada nube
que llegue hasta tu casa
me llamaré confianza,
libertad
esperanza
y me armaré de tiempo
para saber que existo
en todos y todas las cosas que me faltan.
 
 
 
Se me cortarem as pernas subirei com os dentes
e se já não as tiver será com o olhar,
e embora cega não consiga dizer o que se passa,
com uma pequena pontinha de ar,
moverei o sorriso apaixonado
mas
se não conseguir,
por se ter morto, a minha boca,
na batalha,
recordando o teu encanto e o meu feitiço de fadas,
virei como tempestade em lágrima do mundo,
de água e sal o sangue partir-se-á em chamas,
e então,
com as vozes do povo e o seu silêncio
montarei nas nuvens que chegam a tua casa
e serei tantas formas de coisas brancas estranhas
que por mais que disparem não acertarão em nada
 
Se me cortarem as pernas, a língua, a garganta,
a vontade de te nomear,
de noite, de manhã
unir-me-ei ao infinito
(nem morta, nem enterrada)
e moverei as asas
que - à força de pontapés -
cravaram nas minhas costas
montarei em cada nuvem
que chegar até à tua casa
chamar-me-ei confiança,
liberdade
esperança
e armar-me-ei de tempo
para saber que existo
em todos e em todas as coisas que me faltam.