Elogio del hastío
Ángel de la esperanza y los calendarios,
¿Conoces La Desesperación?
Anne Sexton
Frente a mí el desayuno se derrite
como el espacio del recinto que lo contiene.
Los árboles me han dejado de hablar.
Gasto tiempo en nimias distracciones:
Me convierto en barro,
en docenas de raíces que tejo y destejo.
Exploro bajo la arcilla y cosecho cuarzos lilas,
ópalos transparentes ante mi asombro.
Como pececillo ansioso
el tiempo escapa de mis muslos
ciego, líquido y sediento.
¿Cuánto más mis vértebras sin danza y fuego?
Erróneas como el miembro extirpado que palpita
o las desgarradas alas de una mariposa,
ante la palabra vuelo se enervan.
A muchos kilómetros,
una ola que muere en la orilla
trae consigo la voz del mundo.
Lejos de mojar mis pies en ella,
ofrendo mi cuerpo a quien pueda seguir luchando
con los huesos que me faltan.
Elogio do tédio
Anjo da esperança e dos calendários,
Já ouviste falar no Desespero?
Anne Sexton
À minha frente o café se derrete-se o pequeno-almoço
como o espaço do compartimento que o contém.
As árvores deixaram de me falar.
Desperdiço tempo com insignificantes distrações:
Converto-me em lama,
em dezenas de raízes que teço e desteço.
Exploro sob a argila e colho quartzos lilás,
opalas transparentes diante do meu espanto.
Como um peixinho ansioso
o tempo escapa das minhas coxas
cego, líquido e sedento.
Por quanto mais as minhas vértebras sem dança e fogo?
Erradas como o membro extirpado que palpita
ou as desgarradas asas de uma borboleta,
perante a palavra voo, enervam-se.
A muitos quilómetros de distância,
uma onda que morre na praia
traz consigo a voz do mundo.
Longe de molhar os meus pés nela,
oferendo o meu corpo a quem possa continuar a lutar
com os ossos que me faltam.