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20 agosto 2022

marie uguay

 

maintenant nous sommes assis à la grande terrasse

où paraît le soir et les voix parlent un langage inconnu

de plus en plus s’efface la limite entre le ciel et la terre

et surgissent du miroir de vigoureuses étoiles

calmes et filantes


plus loin un long mur blanc

et sa corolle de fenêtres noires


ton visage a la douceur de qui pense à autre chose

ton front se pose sur mon front

des portes claquent des pas surgissent dans l’écho

un sable léger court sur l’asphalte

comme une légère fontaine suffocante


en cette heure tardive et gisante

les banlieues sont des braises d’orange


tu ne finis pas tes phrases

comme s’il fallait comprendre de l’œil

la solitude du verbe

tu es assis au bord du lit

et parfois un grand éclair de chaleur

découvre les toits et ton corps




agora estamos sentados no grande terraço

onde aparece a noite e as vozes falam uma linguagem desconhecida

cada vez mais se desvanece o limite entre céu e terra

e surgem do espelho estrelas vigorosas

calmas e cadentes


mais longe uma longa parede branca

e a sua corola de janelas pretas


o teu rosto tem a doçura de quem pensa noutra coisa

a tua testa pousa na minha testa

as portas batem os passos aparecem no eco

uma areia leve curta no asfalto

como uma leve fonte sufocante


a esta hora tardia e caída

os subúrbios são brasas de laranja


tu não terminas as frases

como se alguém precisasse de um olho para perceber

a solidão do verbo

estás sentado à beira da cama

e às vezes um grande relâmpago de calor

descobre os telhados e o teu corpo