Mostrar mensagens com a etiqueta piedad bonnett. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta piedad bonnett. Mostrar todas as mensagens

22 junho 2021

piedad bonnett

 

De tarde en tarde


A mi madre le gusta ir a ese café de sobrias lámparas,

pedir galletas de vainilla,

tomar dos tazas de té negro con parsimonia

como un acto ceremonial.

Hoy la he traído, pues, cediendo al gesto filial mi tarde laboriosa.

Tras los enormes ventanales vemos correr la vida afuera

mientras hablamos de otros días

y la tibieza del lugar sugiere que la felicidad no es más que esto.

De repente

como recuperando las palabras de un sueño

ella dice: “Qué lástima que todo se termina”.

Lo dice con sonrisa liviana, pues sabe

que ser trascendental no conviene a la tarde.

(Mi madre cumplió setenta y cuatro años

y alguna vez fue bella).

Al fondo de las tazas el té pinta sus signos.

Yo no sé qué decir.

Miramos la avenida, las caras planas de los transeúntes,

los árboles que callan. Anochece.



De tarde em tarde


A minha mãe gosta de ir àquele café de sóbrias lâmpadas,

pedir biscoitos de baunilha,

tomar duas xícaras de chá preto com parcimónia

como um ato cerimonial.

Hoje trouxe-a, pois, cedendo ao gesto filial a minha tarde labutante.

Através das enormes janelas vemos correr a vida lá fora

enquanto falamos de outros dias

e a mornidão do lugar sugere que a felicidade não é mais que isto.

De repente

como recuperando as palavras de um sonho

ela diz: "Que pena que tudo acabe".

Di-lo com um sorriso leve, pois sabe

que ser transcendental não convém da parte da tarde.

(Minha mãe completou setenta e quatro anos

e já foi bela).

No fundo das chávenas, o chá pinta os seus sinais.

Não sei o que dizer.

Olhamos a avenida, as caras planas dos transeuntes,

as árvores que calam. Anoitece.