Mostrar mensagens com a etiqueta enriqueta ulzurrun. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta enriqueta ulzurrun. Mostrar todas as mensagens

16 janeiro 2022

enriqueta ulzurrun

 

El vestido


Estoy en ropa interior mientras

el médico palpa mis costillas.

Presiona ligeramente,

no necesita excavar demasiado,

los huesos se ven a simple vista.

Para ellos soy un yacimiento.

Me mide, pesa y apunta en silencio.

La enfermera y él hacen un diagnóstico

de mis restos, quieren saber

cómo pueden sacarme de la tierra.

No les dije que mamá consiguió ahorrar

para comprarme el vestido

rosa con botones de margaritas.

Ese día, sola en la habitación,

tiré el uniforme del colegio sobre la cama

y deslicé la prenda sobre los muslos.

Esta se clavó contra el vientre

señalando el enclave exacto

donde ahora los médicos buscan

las pruebas de mi devastación.

Me escondí para que nadie pudiera tocarme.

Tener un cuerpo parece cosa fácil.

Los hay que lo mueven sin apenas

esfuerzo aparente, con pequeños apoyos,

como un acto de fe.

Yo debo aprender a sostenerlo de nuevo

con un sinfín de trucos.

La suciedad bajo mis uñas me recuerda

que lo dejé vacío

y ahora vivo en una casa

donde alguien se ajusta los zapatos

apaga las luces y cierra la puerta,

esperando no volver.



O vestido


Estou em lingerie enquanto

o médico me apalpa as costelas.

Pressiona ligeiramente,

não precisa de aprofundar muito,

os ossos são visíveis a olho nu.

Para eles, sou um jazigo.

Mede-me, pesa-me e anota em silêncio.

Ele e a enfermeira fazem um diagnóstico

dos meus restos, querem saber

como podem tirar-me da terra.

Não lhes disse que minha mãe conseguiu economizar

para me comprar o vestido

rosa com botões de margaridas.

Nesse dia, sozinha no quarto,

atirei o uniforme da escola para a cama

e deslizei a prenda pelas coxas.

Esta cravou-se contra o ventre

assinalando o local exato

onde agora os médicos procuram

as provas da minha devastação.

Escondi-me para que ninguém me pudesse tocar.

Ter um corpo parece coisa fácil.

Há os que o movem sem qualquer

esforço aparente, com pequenos apoios,

como um ato de fé.

Tenho de aprender a sustentá-lo de novo

com uma infinidade de truques.

O sujo das minhas unhas lembra-me

que o deixei vazio

e agora vivo numa casa

onde alguém encaixa os sapatos

apaga as luzes e fecha a porta,

esperando não voltar.