Vortex
Allongée sur la moquette,
les yeux fermés
je vois
des choses éparses
sans rapport.
Le bloc de soupe orange glacée que ma mère sortait du
frigo, qui devenait liquide quand elle le réchauffait.
Les coulisses du théâtre municipal, avant le spectacle de
fin d’année avec la chorale.
Le feutre plume rose marbré,
des carnets.
Leur odeur, leur texture.
Les jours de liberté où je n’allais pas à l’école et
restais seule à la maison.
Pourquoi l’enfance a-t-elle duré si longtemps ?
Cette histoire qui s’écrit avec la Syrie, qui semble sans
issue, c’est aussi une histoire qui entraîne le monde
entier vers le fond.
Ne pas comprendre le sens d’une vie trop brève,
et ne pas comprendre les sens d’une vie trop longue.
Ne pas comprendre le sens d’une vie solitaire
et ne pas comprendre le sens d’une vie en famille.
Descendre les poubelles avant le début du feuilleton.
Faire des listes.
Expliquer aux enfants qu’un poème peut être une liste.
Être toujours du côté des enfants.
Racheter la cafetière brûlée.
Alep-Alep-Alep-Alep.
Le planning serré des sorties cochées sur le programme.
Vivre dans la ville pauvre où être pauvre
est encore possible.
Inaptitude à l’emploi salarié.
Un numéro d’allocataire qui emprisonne.
Se dire que la vieillesse sera terrible.
Hier, j’ai fait du pain.
J’ai rêvé que l’on déterrait un squelette
et cela résolvait
une affaire de meurtre
jamais élucidée.
– Nous étions euphoriques.
Vortex
Esparramada sobre o tapete,
de olhos fechados
vejo
coisas esparsas
sem relação.
O bloco de sopa laranja gelada que a minha mãe tirava do
frigorífico, que se tornava líquido quando o aquecia.
Os bastidores do Teatro Municipal, antes do espetáculo de
fim de ano com o coro.
A caneta marcador rosa marmoreado,
dos cadernos.
O seu cheiro, a sua textura.
Os dias de liberdade em que eu não ia à escola e
ficava sozinha em casa.
Por que durou a infância tanto tempo?
Esta história que se escreve com a Síria, que parece sem
saída, é também uma história que arrasta o mundo
inteiro para o fundo.
Não entender o sentido de uma vida demasiado breve,
e não entender os sentidos de uma vida demasiado longa.
Não entender o sentido de uma vida solitária
e não compreender o sentido de uma vida em família.
Levar o lixo para baixo antes do início da telenovela.
Fazer listas.
Explicar às crianças que um poema pode ser uma lista.
Estar sempre do lado das crianças.
Compor a cafeteira queimada.
Aleppo-Aleppo-Aleppo.
O calendário de saídas está marcado na agenda.
Viver na cidade pobre ou ser pobre
ainda é possível.
Incapacidade para o trabalho assalariado.
Um número de pensionista que aprisona.
Pensar que a velhice será terrível.
Ontem fiz pão.
Sonhei que desenterrávamos um esqueleto
e isso resolveu
um caso de homicídio
nunca esclarecido.
- Estávamos eufóricos.