el sol entraba por la ventana solo para pintarnos las piernas
y vos estabas conmigo
y teníamos el pelo muy largo las dos,
yo tenía una fantasía vos me ponías
flores blancas y me hacías
trenzas hasta la cintura. al otro día
me mostraste una acuarela
de una chica que era
ojona y con cara de turca como yo
tenía flores por todo el pelo y me dijiste
“no sé, ni idea de dónde me salió”
si tuviera que reconstruir nuestra historia
sería algo así: estábamos desnudas en el suelo
tu pelo rojo tenía tonos naranjas a la luz
tu piel algunos tonos verdes, yo me arrodillé
y vos miraste hacia arriba, tus ojos
también tenían tonos verdes,
puse mis dedos como una pistola
que apunté justo sobre tu boca y dije
“te equivocaste
fui yo la que nunca te quiso”
o sol entrava pela janela só para pintarmos as pernas
e estavas comigo
e tínhamos os cabelos muito compridos as duas,
eu tinha uma fantasia, tu colocavas-me
flores brancas e fazias-me
tranças até à cintura. No outro dia
mostraste-me uma aguarela
de uma rapariga que tinha
olhos grandes e cara de turca como eu
tinha flores em todo o cabelo e disseste-me
“não sei, não faço ideia de onde me saiu”
se tivesse que reconstruir a nossa historia
seria mais ou menos assim: estávamos nuas no chão
o teu cabelo vermelho tinhas tons laranja à luz
a tua pele alguns tons verdes, eu ajoelhei-me
e tu olhaste para cima, os teus olhos
também tinham tons verdes,
juntei os dedos como uma pistola
que apontei mesmo sobre a tua boca e disse
“estás enganada
fui eu quem nunca te quis”