Mostrar mensagens com a etiqueta cecilia de marchi. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta cecilia de marchi. Mostrar todas as mensagens

22 janeiro 2023

cecilia de marchi

 

[El loco Palla-Palla]


¿Era necesario este viaje?

Me vi poseída por el ansia de saber qué

o quién

habitaba esta orilla.

/

Fíjate en la fuerza de las posesiones:

en mi pueblo cuentan la historia del loco Palla-Palla

que toma el cuerpo de su víctima

lo lleva al éxtasis

y luego lo empuja al barranco.

/

Un hombre había controlado al Palla-Palla

nunca había caído

pero acumulaba gallinas.

Tenía no una, sino veinte en

cada habitación.

/

La acumulación de gallinas es cosa seria.

No podía comérselas,

ni matarlas,

ni tomar decisiones.

Eran un recordatorio de su cobardía.

/

Esperaba el hombre entre sus gallinas

que pase lo que tenga que pasar”, decía,

yo renuncio a la acción”, decía,

mientras recogía los huevos en la mañana

y los guardaba en sus bolsillos.

/

Al hombre se le están pudriendo los dientes.

Primero fueron los bordes y él

les puso fundas de metal.

La podredumbre se fue

al centro del diente.

/

Cuando el hombre sonríe

tiene fundas brillantes que rodean

masas negras deformes.

Las que quedan, claro,

las otras dejaron vacíos.

/

Me habla de su vida y su trabajo

y su familia y la literatura.

Yo lo escucho pero pienso en su boca

En el olor fétido de sus palabras

En las fundas que resguardan bacterias.

/

Es necesario convertirse en un monstruo

o en un ser formidable”,

dice.

/

A ratos se queda en silencio y mira a la nada.

Yo vi al loco Palla-Palla”

dice con voz de metal, bacterias y muerte.

/

Es difícil resistirse al abismo.





[O louco Palla-Palla]


Era necessária esta viagem?

Vi-me possuída pela ânsia de saber o quê

- ou quem

habitava esta margem

/

Repara na força das possessões:

na minha cidade contam a história do louco Palla-Palla

que pega no corpo da sua vítima

leva-o ao êxtase

e depois empurra-o para a ravina.

/

Um homem tinha controlado o Palla-Palla

nunca tinha caído

mas acumulava galinhas.

Tinha não uma, mas vinte em

cada quarto.

/

A acumulação de galinhas é coisa séria.

Não podia comê-las,

nem matá-las,

nem tomar decisões.

Eram uma lembrança da sua covardia.

/

Esperava o homem entre suas galinhas

"aconteça o que acontecer", dizia,

"eu renuncio à ação", dizia,

enquanto recolhia os ovos pela manhã

e os guardava nos seus bolsos.

/

Os dentes do homem estão a apodrecer.

Primeiro foram as bordas e ele

pôs-lhes capas de metal.

A podridão foi

para o centro do dente.

/

Quando o homem sorri

tem capas brilhantes que rodeiam

massas negras deformadas.

As que ficaram, claro,

as outras deixaram vazios.

/

Fala-me da sua vida e do seu trabalho

e da sua família e da literatura.

Eu ouço-o mas penso na sua boca

No odor fétido das suas palavras

Nas capas que guardam bactérias.

/

"É necessário convertermo-nos num monstro

ou num ser formidável",

diz.

/

Às vezes fica em silêncio e olha para o nada.

"Eu vi o louco Palla-Palla"

diz com voz de metal, bactérias e morte.

/

É difícil resistir ao abismo.