[El loco Palla-Palla]
¿Era necesario este viaje?
Me vi poseída por el ansia de saber qué
– o quién
habitaba esta orilla.
/
Fíjate en la fuerza de las posesiones:
en mi pueblo cuentan la historia del loco Palla-Palla
que toma el cuerpo de su víctima
lo lleva al éxtasis
y luego lo empuja al barranco.
/
Un hombre había controlado al Palla-Palla
nunca había caído
pero acumulaba gallinas.
Tenía no una, sino veinte en
cada habitación.
/
La acumulación de gallinas es cosa seria.
No podía comérselas,
ni matarlas,
ni tomar decisiones.
Eran un recordatorio de su cobardía.
/
Esperaba el hombre entre sus gallinas
“que pase lo que tenga que pasar”, decía,
“yo renuncio a la acción”, decía,
mientras recogía los huevos en la mañana
y los guardaba en sus bolsillos.
/
Al hombre se le están pudriendo los dientes.
Primero fueron los bordes y él
les puso fundas de metal.
La podredumbre se fue
al centro del diente.
/
Cuando el hombre sonríe
tiene fundas brillantes que rodean
masas negras deformes.
Las que quedan, claro,
las otras dejaron vacíos.
/
Me habla de su vida y su trabajo
y su familia y la literatura.
Yo lo escucho pero pienso en su boca
En el olor fétido de sus palabras
En las fundas que resguardan bacterias.
/
“Es necesario convertirse en un monstruo
o en un ser formidable”,
dice.
/
A ratos se queda en silencio y mira a la nada.
“Yo vi al loco Palla-Palla”
dice con voz de metal, bacterias y muerte.
/
Es difícil resistirse al abismo.
[O louco Palla-Palla]
Era necessária esta viagem?
Vi-me possuída pela ânsia de saber o quê
- ou quem
habitava esta margem
/
Repara na força das possessões:
na minha cidade contam a história do louco Palla-Palla
que pega no corpo da sua vítima
leva-o ao êxtase
e depois empurra-o para a ravina.
/
Um homem tinha controlado o Palla-Palla
nunca tinha caído
mas acumulava galinhas.
Tinha não uma, mas vinte em
cada quarto.
/
A acumulação de galinhas é coisa séria.
Não podia comê-las,
nem matá-las,
nem tomar decisões.
Eram uma lembrança da sua covardia.
/
Esperava o homem entre suas galinhas
"aconteça o que acontecer", dizia,
"eu renuncio à ação", dizia,
enquanto recolhia os ovos pela manhã
e os guardava nos seus bolsos.
/
Os dentes do homem estão a apodrecer.
Primeiro foram as bordas e ele
pôs-lhes capas de metal.
A podridão foi
para o centro do dente.
/
Quando o homem sorri
tem capas brilhantes que rodeiam
massas negras deformadas.
As que ficaram, claro,
as outras deixaram vazios.
/
Fala-me da sua vida e do seu trabalho
e da sua família e da literatura.
Eu ouço-o mas penso na sua boca
No odor fétido das suas palavras
Nas capas que guardam bactérias.
/
"É necessário convertermo-nos num monstro
ou num ser formidável",
diz.
/
Às vezes fica em silêncio e olha para o nada.
"Eu vi o louco Palla-Palla"
diz com voz de metal, bactérias e morte.
/
É difícil resistir ao abismo.