Mostrar mensagens com a etiqueta sereine berlottier. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta sereine berlottier. Mostrar todas as mensagens

14 fevereiro 2023

sereine berlottier

 

3

Combien de livres peuvent entrer dans le corps d’une femme, d’un homme, combien peuvent s’y tenir debout? On trouve, dans les Derniers cahiers de Kafka, d’étranges phrases inachevées, privées de commencement. On se demande alors si ces phrases sont comme des vers de terre dont on raconte que, même amputés, ils continueront à vivre ou que du moins ils seront en mesure, se régénérant, de se reconstruire. On comprend bien qu’on puisse se passer de finir, ou remettre cette épreuve à plus tard, mais se passer de commencer ?



3

Quantos livros podem entrar no corpo de uma mulher, de um homem, quantos podem lá ficar de pé? Encontramos nos Últimos Cadernos de Kafka, estranhas frases inacabadas, privadas do seu início. Perguntamo-nos então se essas frases são como as minhocas das quais se diz que, mesmo amputadas, continuarão a viver ou que pelo menos serão capazes, regenerando-se, de se reconstruir. Compreendemos perfeitamente que possamos passar sem terminar, ou adiar essa prova para mais tarde, mas deixar de começar?


10 dezembro 2017

sereine berlottier

3 janvier

On ouvre le cahier
à la dernière limite des forces du jour
et il fait nuit.

On ouvre le cahier comme si
c’était la toute dernière des tâches, la moins hésitante, la plus
bornée.
On se sent sale
de toutes les choses du jour.
On les porte encore
Elles s’interposent
On ne les quitte pas.

On ouvre le cahier
et le temps de faire un peu de silence
et d’avancer
les mèches de soucis qu’on a dans les yeux

On écoute
ce sont d’autres pas dans la rue qui traversent

Une musique ailleurs et le bruit d’un enfant plus tard

On colle l’oreille à ce ventre
comme si on cherchait pour de bon

si on a mal
on fait comme si
c’était une façon d’avoir une histoire encore

3 de janeiro

Abre-se o caderno
no derradeiro limite das forças do dia
e é noite.

Abre-se o caderno como se
fosse a última das tarefas, a menos hesitante, a mais
obstinada.
Sentimo-nos sujos
por todas as coisas do dia,
Ainda com elas andamos
Estão interpostas
Não as deixamos.

Abre-se o caderno
e o tempo de instaurar algum silêncio
e seguir
as mechas de angústias que levamos nos olhos

Escutamos
são outros passos na rua que atravessam

Uma música algures e o barulho de uma criança mais tarde

Colamos o ouvido a este ventre
como se procurássemos para sempre

se estamos mal
fazemos como se
fosse uma maneira de ainda ter uma história.