À la chaux de nos silences
Ma bouche ne sait plus
mes mots ne peuvent rien
je ne sais plus faire
plus rien faire que ça
empiler le passé sur les saisons
avorter le printemps dans l’été
lisser la mémoire au fer rouge
a repasser les trous les ronces les horizons
blanchir mes nuits à la chaux de nos silences
ceux qui hurlent en dedans
ceux qui s’accrochent dans la portée du ventre
(silences) se cherchent entre le soupir et la
pause
mais ne se taisent jamais vraiment
ils se frottent blancs vifs brûlés
aux murs où balancent nos échos
lambeaux de chairs
pendus aux crocs de tout ce tout ce qu’on
aurait voulu mais qu’on n’a pas osé
ils s’agitent possédés
corps qui tremblent de n’être empoignés
œil entrecuisse desséchée
silence silence blanche la nuit blanche ronde
il faudra bien que les doigts trouvent
il faudra bien que je me fasse dormir
pas rêver non pas je n’espère même plus l’obscurité
juste un peu de clarté humide
une pensée qui desceller la commissure
les doigts viendront au moins
précipiter le naufrage
remuer les sédiments
jusqu’à cette île à la tiédeur d’oiseau
un chant plus loin
l’aurore mouille ensablée l’embouchure
Na cal dos nossos silêncios
Minha boca já não sabe
as minhas palavras não podem nada
não sei já fazer
mais nada fazer do que isso
empilhar o passado nas estações
abortar a primavera no verão
passar a memória a ferro vermelho
engomar os buracos, os espinhos e os horizontes
embranquecer as minhas noites na cal dos nossos silêncios
aqueles que gritam dentro
aqueles que se fixam no espaço do ventre
(silêncios) procuram-se entre o suspiro e a
pausa
mas nunca se calam verdadeiramente
esfregam-se brancos vivos queimados
às paredes onde balançam os nossos ecos
pedaços de carne
pendurados nos ganchos de tudo o que
tínhamos querido sem nos atrevermos
agitam-se possuídos
corpos que tremem por não serem agarrados
olho virilha seca
silêncio silêncio branco a noite branca redonda
será necessário que os dedos encontrem
será necessário que eu me ponha a dormir
não sonhar não não não espero sequer a escuridão
apenas um pouco de claridade húmida
um pensamento para deamarrar a comissura
os dedos virão pelo menos
precipitar o naufrágio
agitar os sedimentos
até esta ilha com tibieza de pássaro
um canto mais longe
a alba molha encalhada a foz