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18 janeiro 2023

gaëlle fonlupt

 

À la chaux de nos silences


Ma bouche ne sait plus

mes mots ne peuvent rien

je ne sais plus faire

plus rien faire que ça


empiler le passé sur les saisons

avorter le printemps dans l’été


lisser la mémoire au fer rouge

a repasser les trous les ronces les horizons


blanchir mes nuits à la chaux de nos silences

ceux qui hurlent en dedans

ceux qui s’accrochent dans la portée du ventre

(silences) se cherchent entre le soupir et la

pause

mais ne se taisent jamais vraiment


ils se frottent blancs vifs brûlés

aux murs où balancent nos échos

lambeaux de chairs

pendus aux crocs de tout ce tout ce qu’on

aurait voulu mais qu’on n’a pas osé


ils s’agitent possédés

corps qui tremblent de n’être empoignés

œil entrecuisse desséchée


silence silence blanche la nuit blanche ronde

il faudra bien que les doigts trouvent

il faudra bien que je me fasse dormir


pas rêver non pas je n’espère même plus l’obscurité

juste un peu de clarté humide

une pensée qui desceller la commissure


les doigts viendront au moins

précipiter le naufrage

remuer les sédiments

jusqu’à cette île à la tiédeur d’oiseau


un chant plus loin

l’aurore mouille ensablée l’embouchure




Na cal dos nossos silêncios


Minha boca já não sabe

as minhas palavras não podem nada

não sei já fazer

mais nada fazer do que isso


empilhar o passado nas estações

abortar a primavera no verão


passar a memória a ferro vermelho

engomar os buracos, os espinhos e os horizontes


embranquecer as minhas noites na cal dos nossos silêncios

aqueles que gritam dentro

aqueles que se fixam no espaço do ventre

(silêncios) procuram-se entre o suspiro e a

pausa

mas nunca se calam verdadeiramente


esfregam-se brancos vivos queimados

às paredes onde balançam os nossos ecos

pedaços de carne

pendurados nos ganchos de tudo o que

tínhamos querido sem nos atrevermos


agitam-se possuídos

corpos que tremem por não serem agarrados

olho virilha seca


silêncio silêncio branco a noite branca redonda

será necessário que os dedos encontrem

será necessário que eu me ponha a dormir


não sonhar não não não espero sequer a escuridão

apenas um pouco de claridade húmida

um pensamento para deamarrar a comissura


os dedos virão pelo menos

precipitar o naufrágio

agitar os sedimentos

até esta ilha com tibieza de pássaro


um canto mais longe

a alba molha encalhada a foz