Mostrar mensagens com a etiqueta maría julia magistratti. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta maría julia magistratti. Mostrar todas as mensagens

16 julho 2018

maría julia magistratti


La grieta

Donde yo veía una grieta
un albañil me dijo “la casa ha trabajado”.

Hay agujeros en las personas
sitios inhóspitos en los que no habitaría un pájaro.
Lugares sin abrigo adonde acude el lenguaje
con su instante en fuga,
su residuo desesperado.

“La vida ha trabajado”, le digo,
y me observo las manos solas,
toco esta cabeza que por la madrugada escucha a los gallos
delatar la cartografía de un pueblo a oscuras.
Las ratas que hacen surcos para llegar a alguna parte.
Los alimentos que desovan en la oscuridad del estómago.

“El olvido ha trabajado”, me digo,
y cierro los ojos que dan a otros ojos,
reúno los caminos que nos vieron pasar.
Como si alguna vez volviera la primera vez de todo,
y yo fuera una grieta que anda por el aire y que aún no encontró la casa.


A fenda

Onde eu via uma fenda
um trolha disse-me “a casa trabalhou”.

Há buracos nas pessoas
sítios inóspitos onde não habitaria um pássaro.
Lugares sem abrigo onde emerge a linguagem
com o seu instante em fuga,
seu resíduo desesperado.

A vida trabalhou”, digo-lhe
e vejo as minhas mãos sós,
toco esta cabeça que pela madrugada escuta os galos
delatar a cartografia de um povo às escuras.
As ratas que fazem sulcos para chegar a algum lado,
Os alimentos que desovam na escuridão do estômago.

O esquecimento trabalhou”, digo-me
e fecho os olhos que dão para outros olhos,
reúno os caminhos que nos viram passar.
Como se alguma vez voltasse a primeira vez de tudo,
e eu fosse uma fenda que anda no ar e ainda não encontrou a casa.