Subitus
se separó
fue demasiado lejos en la soledad
y supo –tuvo que saber–
que de allí no se vuelve
se alejó –me alejé–
no por desprecio (claro es que
nuestro orgullo es infernal)
sino porque una es extranjera
una es de otra parte,
ellos se casan,
procrean,
veranean,
tienen horarios,
no se asustan por la tenebrosa
ambigüedad del lenguaje
Alejandra Pizarnik
“¿Estabas preparada?”
Preguntó, como si el mundo entero
deviniera cinismo
en un instante,
por todas partes,
y sobre todo en su más secreto centro,
desde donde rendimos homenaje
al milagro, con el rito.
¿…preparada? como si la realidad fuera
el vidrio que no resistió al calor
cuando debió
porque escondía plástico;
o como si la realidad fuera, en fin,
una tela finísima
sobre el abismo
que jugaba a ser tierra firme.
Y preparada
ni ella, ni sus constantes problemas digestivos,
ni sus preocupaciones simuladas,
ni las reales
ni su terror a ser demasiado diferente
o demasiado parecida
a las reacciones humanas
espontáneas.
¿Lo estabas…?
Ni el polvo acumulado
de varias generaciones
que guarda
en casa cada ser que ella ama,
y que ha nacido muy próximo a la muerte
en lugares que, los que tienen voz,
no reconocen.
Ni preparadas
la enfermedad ni la desgracia.
“Siempre estoy lista”.
Subitus
separou-se
foi demasiado longe na solidão
e soube - foi obrigada a saber -
que dali não se volta
afastou-se - afastei-me-
não por desprezo (claro que
o nosso orgulho é infernal)
mas porque estou estrangeira
estou de outra parte,
eles casam-se,
procriam,
veraneiam,
têm horários,
não se assustam com a tenebrosa
ambiguidade da linguagem
Alejandra Pizarnik
"Estavas preparada?"
Perguntou, como se o mundo inteiro
se tivesse tornado cinismo
num instante,
em todo o lado,
e sobretudo no seu mais secreto centro,
de onde prestamos homenagem
ao milagre, com o ritual.
... preparada? como se a realidade fosse
o vidro que não resistiu ao calor
quando devia
porque escondia plástico;
ou como se a realidade fosse, enfim,
uma tela finíssima
sobre o abismo
que brincava a ser terra firme.
E preparada
nem ela, nem os seus constantes problemas digestivos,
nem as suas preocupações simuladas,
nem as reais
nem o seu terror de ser muito diferente
ou demasiado parecida
às reacções humanas
espontâneas.
Estavas...?
Nem o pó acumulado
de várias gerações
que guarda
em casa cada ser que ela ama,
e que nasceu muito perto da morte
em lugares que, aqueles que têm voz,
não reconhecem.
Nem preparadas
a doença e a desgraça.
"Eu estou sempre pronta".