15 fevereiro 2022

janneth rico preciado

 

Un hombre desnudo y prendido fuego

 

Un hombre posó mis manos en su simiente.

En mis sueños caminé desnuda por esas calles donde el sol tiene una fuerza extraña.     

Vi un funeral y decidí ocultar mis pezones, afilados como balas. Temía hacerle daño al penitente. Del cielo se desplegaba el deseo de una ciudad antigua, donde canta el mar que vio los últimos trozos de la máscara de Ulises.

En mis sueños el espejo se multiplica.

Seguí desnuda hasta el amanecer y despojada de cuchillos me quedó la palabra entre los labios. La calle angosta y las voces infantiles me recordaron el ocaso de los dioses.

Un hombre posó mis manos sobre sus párpados y sentí un recuerdo vago; lo recorrí como quien toca una cicatriz que sobresale madera apacible y tibia, serena bajo la mirada de mi alma, que al cerrar los ojos guarda el secreto.

Nuestro roce son plegarias para los ciegos y los sonámbulos.

Si rompo el espejo sabré de mí. Temo dejar de caminar desnuda. Solo mis huesos saben del crujir de un grito agudo.

Desde el fondo de su cuerpo recuerdo la infancia de las rosas.

 

 

Um homem nu e em chamas

 

Um homem pousou as minhas mãos na sua semente.

Em meus sonhos caminhei nua por essas ruas onde o sol tem uma força estranha.

Vi um funeral e decidi esconder meus mamilos, afiados como balas. Temia fazer mal ao penitente. Do céu desdobrava-se o desejo de uma cidade antiga, onde canta o mar que viu os últimos pedaços da máscara de Ulisses.

Nos meus sonhos, o espelho multiplica-se.

Continuei nua até o amanhecer e despojada de facas ficou-me a palavra entre os lábios. A rua estreita e as vozes infantis me lembraram o ocaso dos deuses.

Um homem pousou as minhas mãos sobre as suas pálpebras e senti uma vaga lembrança; passei-lhe as mãos como quem toca uma cicatriz que sobressai madeira suave e morna, serena sob o olhar de minha alma, que ao fechar os olhos guarda o segredo.

O nosso tocar é uma oração para cegos e sonâmbulos.

Se quebrar o espelho saberei de mim. Tenho medo de deixar de andar nua. Só os meus ossos sabem do ranger de um grito agudo.

Do fundo do seu corpo, lembro-me da infância das rosas.


14 fevereiro 2022

stefhany rojas wagner

 

Introducción a la fragilidad


Mis párpados se llenan de sangre,

asisto a mi nacimiento como si fuera mi madre,

me siento sobre mis piernas

y empujo.

 

A veces quisiera cortarme para huir más rápido,

Esta fragilidad es bella,

este desequilibrio es bello,

lo que vomitan mis huesos está vivo,

me abro de piernas

y empujo.

 

La ciudad convulsiona con sus luces,

mi saliva es púrpura como un muro,

pero cierro los ojos y ahí sigue la sangre,

el lenguaje crece en este cuerpo desmembrándome.

 

Poco a poco

saco los dedos de mi casa

donde nunca deja de llover

y toco las grietas de mi boca.

 

¿Estoy callada o estoy muerta?

Acudo a mi primera luz.

 

 

Introdução à fragilidade

 

As minhas pálpebras enchem-se sangue,

assisto ao meu nascimento como se fosse a minha mãe,

sento-me nas minhas pernas

e empurro.

 

Às vezes queria cortar-me para fugir mais depressa,

Esta fragilidade é bela,

este desequilíbrio é belo,

o que vomitam os meus ossos está vivo,

abro as minhas pernas

e empurro.

 

A cidade convulsiona com as suas luzes,

a minha saliva é púrpura como uma parede,

mas fecho os olhos e aí o sangue continua,

a linguagem cresce neste corpo desmembrando-me.

 

Pouco a pouco

tiro os dedos da minha casa

onde nunca pára de chover

e toco as fendas da minha boca.

 

Estou calada ou estou morta?

Respondo à minha primeira luz.

 

13 fevereiro 2022

carolina sánchez


Genealogía

 

Presiento el pájaro

vestido de negro,

era mi abuela

llegando de tierras lejanas,

donde la soledad era una forma de vida.

 

Presiento a mi abuela pájaro

aterrizar en este páramo,

huérfana, extranjera,

de silencio filoso,

la posición rígida

bajo el cuello isabelino.

 

Austera,

como una casa de protestantes en el campo,

aséptica y cruel.

 

Mi abuela comprendió pronto:

no podía hablar, no podía pensar,

no podía.

Cumplió su sentencia, sabía:

lo único permitido era morir.

 

El pájaro de mal agüero que era mi abuela,

sigue viendo el mundo con espanto

a través de mis ojos.

 

 

Genealogia

 

Pressinto o pássaro

vestido de preto,

era a minha avó

vindo de terras distantes,

onde a solidão era uma forma de vida.

 

Pressinto a minha avó pássaro

aterrar neste terreno baldio,

órfã, estrangeira,

de silêncio afiado,

a posição rígida

sob o pescoço isabelino.

 

Austera,

como una casa de protestantes no campo,

asséptica e cruel.

 

Minha avó percebeu de imediato:

não podia falar, não podia pensar,

não podia.

Cumpriu sua sentença, sabia:

a única coisa permitida era morrer.

 

O pássaro de mau agoiro que era minha avó,

continua a ver o mundo com espanto

através dos meus olhos.

 

12 fevereiro 2022

micaela paredes

 

El peso de otra isla

 

Los cuerpos, dominados por la luz,

se repliegan ante el asesinato de la piel.

Virgilio Piñera

 

Ojalá pudiera hablar de la maldita circunstancia

más allá de la epidermis

enumerar las formas exteriores de la miseria

su proliferación convertida en fuego

testar el barro que penetra en los oídos

describir cómo se revientan córneas e incineran cuerpos

en una isla real y su horrorosa circunstancia.

Palpar el tiempo en los escombros de la carne

no tener más el derecho a imaginar

las circunstancias mientras sostengo todo el peso

de una isla inexistente en la cabeza.


 

O peso de outra ilha


Os corpos, dominados pela luz,

dobram-se ante o assassinato da pele.

Virgilio Piñera

 

Oxalá pudesse falar da maldita circunstância

para além da epiderme

enumerar as formas exteriores da miséria

sua proliferação convertida em fogo

testar a lama que penetra nos ouvidos

descrever como rebentam córneas e incineram corpos

numa ilha real e na sua horrorosa circunstância.

Sentir o tempo nos escombros da carne

não ter mais o direito de imaginar

as circunstâncias enquanto eu segurar todo o peso

de uma ilha inexistente na cabeça.

 

11 fevereiro 2022

miren agur meabe

 

Potxingoa Moilan


Zeure buruari begira zaude potxingo batean, eta ostadarrak apaintzen dizu aurpegia. Paradisu zahar batera zaramatza gasolio-aztarnak.

Argiak atzenengoz atera du mihia zure ektoplasma uretan ezabatu orduko. Barrenean ikusten zara, sahats ondoan istripua onarturiko Ofelia bat bezala.

Eztabaidan zabiltza guardasolaren muturrak zure islari diktatzen dizkion zirkuluekin.

Iletargiak atoian dakartza eguzkitan sendatzen jarritako potinak, galipota, hondarrean utzi eta hondarrak lauskitutako oinatzak, odola, sareak, algen usaina ilean, kresalarena gonan.

Arraunez mintzo den abesti bat diozu zurmurka. (…)



Charco no cais

Olhas para ti numa poça da do molhe e um véu de arco-íris esmalta o teu semblante, traços de gasóleo que te conduzem a um remoto paraíso.

A luz puxa a língua pela última vez antes de na água desaparecer o ectoplasma. Dentro, vês-te como uma Ofélia que aceita com o salgueiro o seu acidente.

Discutes com os círculos que a ponta do guarda-chuva dita no teu reflexo.

A lua traz a reboque barcas em cura de sol, resina, pegadas na areia que a mesma areia desfaz, sangue, redes, cheiro de algas no cabelo, a salitre na saia.

Sussurras uma canção que fala de remos. (...)


10 fevereiro 2022

rosabetty muñoz

 

Elaboración de la casa permanente

 

UNO

 

Mi hermana a veces regresa

y en esos días

construye maquetas

casa en miniatura ventanas armarios

puertas que se abren y – sobre todo –

se cierran.

Elabora muñecos vestidos de fiesta

copa en la mano, ninguno está solo

Cada vez son más pequeñas las varillas

preciosos los trajes

fina la cristalería.

 

Mi abuela dice que somos víctimas

del fin de los tiempos

que mi hermana llora porque no puede entrar

                                               a su casa.

 

 

Elaboração da casa permanente

 

UM

 

Minha irmã às vezes volta

e nesses dias

constrói maquetas

casas em miniatura janelas armários

portas que se abrem e - especialmente -

se fecham.

Elabora bonecos vestidos de festa

copo na mão, ninguém está sozinho

Cada vez são mais pequenas as varetas

extraordinários os trajes

fina a cristalaria.

 

Minha avó diz que somos vítimas

do fim dos tempos

que a minha irmã chora porque não pode entrar

                                             na sua casa.

 

09 fevereiro 2022

maría sol pastorino

 

Espíritu del arte

 

(Intentaré volar sobre el detritus de las palabras)

 

Son pájaros vestidos alrededor del crimen.

Revolotean una tierra que pierde su forma,

en cada traje ocultan el dolor del circo,

el dolor de los bosques esparcidos sobre huesos.

Son pájaros que jamás alcanzaremos a tocar

con la más íntima pluma,

en el más abierto de los cielos.

 

Confórmate con el círculo y la trayectoria de su distancia

 

A una mujer la ven como rama y nido,

a un hombre lo traspasan con ojos ultravioletas.

No traen mensajes ni profecías,

al lenguaje se lo llevaron

o nunca fue

tierra segura para nadie.

 


 

Espírito da arte

 

(Tentarei voar sobre os detritos das palavras)

 

São pássaros vestidos à volta do crime.

Pairam sobre uma terra que perde a sua forma,

em cada traje escondem a dor do circo,

a dor das florestas espalhadas sobre os ossos.

São pássaros que jamais conseguiremos tocar

com a mais íntima caneta,

no mais aberto dos céus.

 

Contenta-te com o círculo e a trajetória de sua distância

 

Uma mulher é vista como galho e ninho,

um homem é trespassado com olhos ultravioletas.

Não trazem mensagens nem profecias,

a linguagem foi abduzida

ou nunca foi

terra segura para ninguém.

 

08 fevereiro 2022

mirta rosenberg

 

La consecuencia

 

Esto es un árbol. La raíz dice raíz,

rama cada rama, y en la copa

está la sala de recibo

de un mirlo que habla.

 

La mesa donde escribo

—una fiesta de solteras—

está hecha de madera de ese árbol

convertida por el uso y por el tiempo

en la palabra mesa.

 

Es porque da frutos que caen

y por el gremio perenne de sus hojas

que se renueva el árbol

y que existe la palabra árbol:

 

aunque a veces el bosque

lo oculte a la vista, lo contiene

el árbol en la palabra árbol.

 

Y no es que éste sea un poema abstracto.

Es que las palabras se repiten entre sí

por el sentido: son solteras y sociables

y de sus raíces crece un árbol.


 

A consequência

 

Isto é uma árvore. A raiz diz raiz,

ramo cada ramo, e na copa

está a sala de visitas

de um melro que fala.

 

A mesa onde escrevo

- uma festa de solteiras -

é feita com madeira dessa árvore

convertida por uso e tempo

na palavra mesa.

 

É por dar frutos que caem

e pela associação perene das suas folhas

que se renova a árvore

e existe a palavra árvore:

 

embora às vezes o bosque

a oculte à visão, contém-na

a árvore na palavra árvore.

 

E não é que este seja um poema abstrato.

É que as palavras repetem-se entre si

pelo sentido: são solteiras e sociáveis

e das suas raízes cresce uma árvore.


07 fevereiro 2022

alejandra sequeira

 

instrucciones para hacer volver a alguien que no se ha ido


Abra de par en par todas las puertas

el aire transfórmelo en pañuelo.

Colóquelo como prenda decorativa

y átelo a sus ojos.


Sólo entonces


Aparecerá el ausente que no se ha ido.

Atrincherado en las comisuras de su cuarto

No le niegue de sus pupilas.

una mirada, como un abrazo.

Él comprenderá el afecto de un vistazo somnoliento

a causa de algún que otro somnífero.

Agradecido le dirá que duerma como un ángel.

mientras usted aumenta las pastillas

que se llevará a la boca


instruções para trazer de volta alguém que não se foi embora


Abrir de par em par as portas todas

transformar o ar em lenço.

Colocá-lo como peça de roupa decorativa

e usá-lo para vendar os seus olhos.


Só então


Aparecerá o ausente que não se foi embora.

Entrincheirado nas comissuras de seu quarto

Não lhe negue as pupilas.

Um olhar, como um abraço.

Ele compreenderá o afeto de um relance sonolento

por causa de um ou outro barbitúrico.

Agradecido dir-lhe-á para dormir como um anjo.

enquanto a menina aumenta os comprimidos

que levará à boca


06 fevereiro 2022

mayra r. encarnación

 

Guayaba


Muerdo

Sí, muerdo a bocanadas de embeleso

Viajo a la semilla del bosque idílico

(olor a retoño)

Turbidez de sensaciones a vuelo lento

(olor a viento)


Purpurea mi piel enhiesta

sobre el hosco tronco

nos convertimos en retoño de auroras libertinas

enterramos la simiente

deshojamos la cáscara carcomida por el destiempo


Tomo el fruto prohibido a bocanadas

a ritmo lento

Olfateo cada semilla con la orilla del olvido

despierta la inquietud

Enjugo mi paso con el néctar de su savia


Desembocamos en la noche perturbada

Volcamos frutos en abierta andanada


riego mis latitudes


Destrono la montaña del olvido del cuerpo

como substancia primaria del ensueño

Destierro en mitades el fruto prohibido


Muerdo

Sí, muerdo a bocanadas de embeleso



Goiaba


Mordo

Sim, mordo em sofreguidão de enlevo

Viajo para a semente do bosque idílico

(cheiro a rebento)

Turbidez de sensações em voo lento

(cheiro a vento)


Purpureia a minha pele eriçada

sobre o rude tronco

convertemo-nos em rebento de auroras libertinas

enterramos a semente

removemos a casca pelo tempo que já não está


Pego no fruto proibido abocanhando-o

em ritmo lento

Cheiro cada semente com a margem do esquecimento

desperta a inquietação

Enxugo o meu andar com o néctar de sua seiva


Desembocamos na noite perturbada

Lançamos frutos em aberta afronta


irrigo as minhas latitudes


Destrono a montanha do esquecimento do corpo

como substância primária do sonho

Desterro em metades o fruto proibido


Mordo

Sim, mordo em sofreguidão de enlevo



05 fevereiro 2022

marta jiménez serrano

 


La sed


parece inmemorial,

pero es mentira.

Se estira hasta nacer cada minuto

siembra el erial,

dora el luto―

y vuelve a aparecer

sin morir nunca.


El día empieza

cada tres segundos.


Sudas

y es una gota siempre nueva.

Mudas la piel

con cada rayo de aire

y es una boca distinta

la que se abre

siempre para el mismo beso.


Te profeso esta sed

te la regalo

en cada novedad reconfortante,

recreo fundamental.

Deseo, sed de sal:

me chupas y te escuezo.

La boca siempre es igual,

varía el rezo.



A sede


A sede

parece imemorial,

mas é mentira.

Estica-se até nascer a cada minuto

- semeia a terra arável,

doura o luto -

e volta a aparecer

sem morrer nunca.


O dia começa

a cada três segundos.


Suas

é uma gota sempre nova.

Mudas a pele

em cada raio de ar

e é uma boca diferente

a que se abre

sempre para o mesmo beijo.


Professo-te esta sede

dou-ta como prenda

em cada novidade reconfortante,

recreio fundamental.

Desejo, sede de sal:

chupas-me e eu magoo-te.

A boca é sempre a mesma,

varia a prece.


04 fevereiro 2022

sharon rodríguez

 

Perdí la capacidad de encontrar


La necesidad de una ventana para los miedos

Perdí mi nombre en un retrato

Perdí lo siniestro de una mirada

En una máscara

La habitación sin raíces

El aroma de las hojas muertas

Perdí la presencia del espanto

Detrás de un espejo de risas enjauladas

Un artificio empujaba

Silencio sobre los huesos

Perdí las batallas pequeñas

La sonrisa del universo

Las páginas detrás del cielo

La mariposa enjaulada

Perdí las personas inmediatas

Los versos con forma de nube

Laberintos de ramas verdes

Perdí la voz en el dolor

Las canciones de cada tarde

Perdí mi quimera en un plato

Y las maletas en una promesa de ojos vendados.



Perdi a capacidade de encontrar


A necessidade de uma janela para os medos

Perdi o meu nome num retrato

Perdi o sinistro de um olhar

Numa máscara

O quarto sem raízes

O aroma das folhas mortas

Perdi a presença do espanto

Atrás de um espelho de risos enjaulados

Um artifício empurrava

Silêncio sobre os ossos

Perdi as pequenas batalhas

O sorriso do universo

As páginas atrás do céu

A borboleta em gaiola

Perdi as pessoas imediatas

Os versos em forma de nuvem

Labirintos de ramos verdes

Perdi a voz na dor

As canções de todas as tardes

Perdi a minha quimera em um prato

E as malas numa promessa de olhos vendados.


03 fevereiro 2022

tanya skarynkina

 

САДОВОДЫ КАК ПИЛОТЫ


Садоводы что-то знают

но не скажут ни за что

впрочем так же как пилоты

прилетают и молчат


сколько раз я спрашивала

брата Франека

каково это

летать на кукурузнике


но брат Франек

ни гу-гу

ни ответа

ни привета

только щёки наливаются краской

покидает лицо улыбка

руки сжимают крепче

баранку автомобиля.



Os jardineiros são como os pilotos


Os jardineiros sabem qualquer coisa

mas não há forma de que o digam

tal como os pilotos

voam e calam


quantas vezes perguntei

ao irmão Franek

como é isso

de pilotar um fumigador


mas o irmão Franek

nem pio

nem nada


Só as maçãs do rosto se ruborizam

o sorriso abandona a sua face

e as suas mãos apertam com mais força

o volante do carro.


02 fevereiro 2022

maria stepanova

 

той ночью

над полем оенных действий

нахтигаль говорит с нахтигалью

соловея от непониманья


на соседних ространствах

тица тице из ст уста

ередает ак лягушку

точное нанье:


емляная цезура

ежду рячим и зрячим пятном

ежду крапчатой оной огней

одогретых соседством изни –

и ответным свеченьем


ежду ними слепоты ревесного мхаперелеты томительные


ронетехника

инзы

наводящиеся на движенье



neste escuro

no campo de batalha

o rouxinol diz ao rouxinol

voláteis cantores em equívoco


e nas aldeias vizinhas

pássaro diz pássaro que passa

pico a pico como uma rã morta

a ciência exata:


cesariana material

entre os pontos de luz

entre a área salpicada pelos faróis

aquecida pela vida próxima

e o atendedor de chamadas inconsciente


a cegueira do musgo nos ramos

rodopio ansioso


veículos blindados

pincenê

apontando para o movimento


01 fevereiro 2022

cristina sanz ruiz

 

Rigor mortis


He asistido a mi autopsia

en una morgue limpia

de paredes blancas

con un bisturí afilado

abriéndose paso

hacia las entrañas.


Por las hendiduras del muerto

—recuerden: que soy yo—

brotan humores negros,

se alivia la presión,

y el cadáver es un cuerpo

que por fin se relaja.


El forense de bata blanca

se refleja en mi cara,

responde con mi voz,

pronuncia mis palabras.


Las manos del forense

—sépanlo: también soy yo—

me cantan una nana.



Rigor mortis


Assisti à minha autópsia

numa morgue limpa

de paredes brancas

com um bisturi afiado

abrindo caminho

para as entranhas.


Pelas fendas do morto

-lembrem: sou eu-

brotam humores negros,

a pressão é aliviada,

e o cadáver é um corpo

que finalmente relaxa.


O legista de bata branca

reflete-se na minha cara,

responde com a minha voz,

pronuncia as minhas palavras.


As mãos do legista

- saibam: também sou eu-

cantam-me uma canção de embalar.


31 janeiro 2022

ida vitale

 

Renuente


Después de los ochenta,

rechazarás el azafrán y el chile,

desde siempre las innobles sandías,

las mentiras del arte del falsario.


Dejarán de angustiarte

las teorías estéticas,

la maldad del azúcar,

el ego, las historias

que la gente se inventa

para alegrar el suyo,

la inabarcable gira

de ajenas cacerías.


Mira las piedras y las hojas,

umbrales de la paz,

sin olvidar que

sobre el descuido

alguien aguarda tu caída inerte.



Relutante


Depois dos oitenta,

rejeitarás o açafrão e o pimento,

desde sempre as inofensivas melancias,

as mentiras da arte do falsário.


Deixarão de te angustiar

as teorias estéticas,

a maldade do açúcar,

o ego, as histórias

que as pessoas inventam

para alegrarem o que têm por seu,

a inabarcável ronda

de alheias caçadas.


Olha as pedras e as folhas,

umbrais da paz,

sem esquecer que

em cima do descuido

alguém aguarda a tua queda inerte.