01 fevereiro 2022

cristina sanz ruiz

 

Rigor mortis


He asistido a mi autopsia

en una morgue limpia

de paredes blancas

con un bisturí afilado

abriéndose paso

hacia las entrañas.


Por las hendiduras del muerto

—recuerden: que soy yo—

brotan humores negros,

se alivia la presión,

y el cadáver es un cuerpo

que por fin se relaja.


El forense de bata blanca

se refleja en mi cara,

responde con mi voz,

pronuncia mis palabras.


Las manos del forense

—sépanlo: también soy yo—

me cantan una nana.



Rigor mortis


Assisti à minha autópsia

numa morgue limpa

de paredes brancas

com um bisturi afiado

abrindo caminho

para as entranhas.


Pelas fendas do morto

-lembrem: sou eu-

brotam humores negros,

a pressão é aliviada,

e o cadáver é um corpo

que finalmente relaxa.


O legista de bata branca

reflete-se na minha cara,

responde com a minha voz,

pronuncia as minhas palavras.


As mãos do legista

- saibam: também sou eu-

cantam-me uma canção de embalar.