24 fevereiro 2022

eleni artemiou fotiadou

 

rem

 

εξόριστη

ανάμεσα σε όνειρο και εφιάλτη

καταλήγω

αναγράφω το λήμμα της κάθειρξης της νυχτός

rem θα πει

πως έχω επαφή με τη διαίσθηση

αν ξυπνήσω σχεδόν αμέσως μετά το όνειρο

κουβαλάω στην πλάτη το τσεκούρι που μου φύτεψε

κόβομαι όλη μέρα σε φλούδες

μια δέσμη άγραφο χαρτί

τόσο σκοτάδι από μέσα

μα πήγε κιόλας μεσημέρι

κι αυτή η αίσθηση, φερμένη απ’ του ύπνου τα σαγόνια

ορίζει πως κάτι ακόμα της μέρας πρέπει πικρά να φαγωθεί

 

ενδίδω

ταριχεύω τα πτώματα

συντηρώ τον στοχασμό

πώς κερδίζεται η μάχη

αν ο πόλεμος έχει πια τελειώσει;


 

rem

 

exilada

entre o pesadelo e o sonho

escrevo o limiar do encarceramento noturno

 

Rem dirá que sou intuitiva

se acordar quase de imediato

depois do sonho

ainda tenho nas costas

o machado que me plantou

 

todo o dia eu cortei às tiras

uma confusão de papel em branco

tão escuro por dentro

sendo meio-dia

 

este sentimento

trazido das mandíbulas do sono

determina que algo mais

deve ser comido hoje

com amargura

rindo

embalsamo os cadáveres

 

23 fevereiro 2022

ernestina de champourcín

 

Carta al vacío

 

Es escribir a alguien

o lanzarse al silencio,

a nadar en lo oscuro,

a encender una llama

aunque ahoguen las dudas.

¿Carta a lo que no existe?

Hay buzones alados

que se disparan solos

y un correo sin pistas

ni trayecto seguro.

 

Eludir el camino

que todos conocemos.

Seguir hacia adelante

ruta de los que intentan

lo que nunca pensaron

y se sienten felices

porque hay algo distinto,

porque se desvanece

de pronto lo que sobra

y no existe el vacío

si queremos colmarlo.

 

 

Carta ao vazio

 

É escrever a alguém

ou lançar-se ao silêncio,

a nadar no escuro,

a acender uma chama

ainda que afoguem as dúvidas.

Uma carta para o que não existe?

Há caixas de correio aladas

que disparam sozinhas

e um correio sem pistas

nem trajeto certo.

 

evitar o caminho

que todos conhecemos.

Seguir em frente

caminho dos que tentam

o que nunca pensaram

e se sentem felizes

porque há algo diferente,

porque se desvanece

de repente o que sobra

e não existe vazio

se o quisermos preencher.

 

 

22 fevereiro 2022

clemencia tariffa

 

Trípoli

 

Allí la tarde parecía

el hermoso cuello

de un cirio pálido.

 

Pensaba yo,

en la estrechez de su frente,

sus dientes separados

y, a la distancia en que ama.

Tal vez nunca vuelva a sentir

su convexo vientre

besando mi ahuecado vientre.

 

La tarde hoy,

débilmente se recuesta,

malherida… asombrada.

 

 

Tripoli

 

Ali a tarde parecia

o belo pescoço

de um círio pálido.

 

Pensava eu,

na estreiteza da sua testa,

nos seus dentes separados

e  à distância em que ama.

Talvez nunca volte a sentir

o seu convexo ventre

a beijar o meu côncavo ventre.

 

A tarde hoje,

debilmente se deita,

gravemente ferida... assombrada.


21 fevereiro 2022

annabell manjarrés freyle

 

Noche para deambular

I

Óiganme ustedes

los seres detrás de la pared,

una coraza de tiempo y salitre

los imposibilita.

 

Acaricio la apariencia rasposa del ser pared

y acerco mi oído al colosal que conforma

esta calle sonámbula

 

donde los gatos maúllan

como hijos tristes,

donde un murmullo sobrenatural

hace temblar a la tierra.

 

Es que antes de ser arrancada

ya la arena gritaba,

y no ha habido piedra o moldura

que calme su sollozo.


Mi mano que acaricia

dialoga con los muros de hoteles restaurados.

Con este portón que esconde la sombra

y el helar de la noche,

y con esta ventana de alma colonial enjaulada

que solo desea desaparecer.

 

Aquello que fue arena de rio,

hoy es solo una moldura muerta.

Que en paz descanse con quienes

una vez la levantaron.

 

II

Seres detrás de la pared,

se han agrietado con el dolor del agua.

Se poblaron de vientos conocidos.

Un vaho extranjero les regaló la noche y el azar.

 

Se me vinieron encima las capas de pintura

que intentaron ocultar los murmullos

de paredes que no saben que murieron,

porque solo los vivos pueden irse

para siempre.

 

 

Noite para deambular

I

Ouçam-me vocês

seres atrás da parede,

uma couraça de tempo e salitre

impossibilita-os.

 

Acaricio a aparência áspera do ser parede

e aproximo meu ouvido ao colossal que conforma

esta rua sonâmbula

 

onde os gatos miam

como filhos tristes,

onde um murmúrio sobrenatural

faz tremer a terra.

 

É que antes de ser arrancada

já a areia gritava,

e não houve pedra ou moldura

para acalmar o seu soluço.

 

Minha mão que acaricia

dialoga com as paredes de hotéis restaurados.

Com este portão que esconde a sombra

e o gelar da noite,

e com esta janela de alma colonial enjaulada

que só deseja desaparecer.

 

Aquilo que foi areia de rio,

hoje é só uma moldura morta.

Que descanse em paz com aqueles

Que uma vez a levantaram.

 

II

Seres detrás da parede,

Racharam-se com a dor da água.

Povoaram-se de ventos conhecidos.

Um vapor estrangeiro ofereceu-lhes a noite e o acaso.

 

Vieram sobre mim as camadas de pintura

que tentaram esconder os murmúrios

das paredes que não sabem que morreram,

porque só os vivos se podem ir

para sempre.


20 fevereiro 2022

angélica hoyos guzmán

 

Lugares comunes

 

El hambre es nuestro alimento,

nuestra hermandad.

En la cocina fabricamos las miserias.

Se nos llena el abismo

con pasos apresurados

de paranoicos

en la prisión de un cuerpo

ajado por la lluvia.

 

No nos salva

ni la primera estrella de la noche

ni el rayo de la mañana

a través de los cristales

para bendecir un pan viejo.

 

El tiempo se nos escapa

en el basurero que apila los adioses,

allí donde mueren mujeres mientras escribo.

 

Los niños aprenden a caminar antes del bombardeo.

Poco importa esta letra de nada

este mundo entierra a sus hijos con los ojos abiertos

para mirar más de cerca.

 

La caligrafía se abandona al guiso del bistec

amargo entre sus tejidos.

 

Ni siquiera somos dignos de la queja

el alarido fugaz no nos resigna.

 

Al final Dios nos espera

para decirnos que él no es el principio.

 

A mediodía se esconden los fantasmas

con su traje repulsivo que amenaza con iluminar todo.

 

La bulla del tráfico persiste en lo que no seremos.

 

Es la diana de los sueños astillados.

 

Nos demuele

como pelota de hierro al edificio

de cualquier construcción defectuosa y telúrica.

 

En esta soledad multiplicada

nos abandonamos a la inercia de una palabra

que apenas balbuceamos.

 

Un calambre abdominal nos acecha

nos deja ausentes

abriendo la palma de la mano

en una avenida muy familiar.

 

 

Lugares comuns

 

A fome é o nosso alimento,

a nossa irmandade.

Na cozinha fabricamos as misérias.

enche-nos o abismo

em passos apressados

de paranóicos

na prisão de um corpo

murchado pela chuva.

 

Não nos salva

nem a primeira estrela da noite

nem o raio da manhã

através dos vidros

para abençoar um pão velho.

 

O tempo escapasse-nos

no caixote do lixo que empilha as despedidas,

ali onde morrem mulheres enquanto escrevo.

 

As crianças aprendem a andar antes do bombardeio.

Pouco importa esta letra de nada

este mundo enterra os seus filhos com os olhos abertos

para olhar mais de perto.

 

A caligrafia abandona-se ao guisado do bife

amargo entre os seus tecidos.

 

Nem sequer somos dignos da queixa

o alarido fugaz não nos resigna.

 

No fim Deus espera-nos

para nos dizer que ele não é o princípio.

 

Ao meio-dia escondem-se os fantasmas

com as suas roupas nojentas que ameaçam iluminar tudo.

 

O barulho do trânsito persiste no que não seremos.

 

É o alvo dos sonhos lascados.

 

Derruba-nos

como a bola de ferro ao edifício

de qualquer construção defeituosa e telúrica

 

Nesta solidão multiplicada

abandonamo-nos à inércia de uma palavra

que mal balbuciamos.

 

Uma cãibra abdominal espreita-nos

deixa-nos ausentes

abrindo a palma da mão

numa avenida muito familiar.

 

19 fevereiro 2022

maría helena giraldo gonzález

 

Las axilas de la noche

Estos huesos petrificados son la raíz de todos los caminos. Allí nace la hierba, las axilas de la noche y el día. El pubis del inicio de los tiempos. La dentadura de la nube que se desplaza en su rigor de nube.

El mediodía de la luz está en estos huesos milenarios que son míos.

Mi memoria de fósil está en todo. En el alcaraván que vuela, y no se pregunta por las horas.

Soy todas las versiones del hombre en miniatura. Del réptil repugnante que se arrastra por la tierra. Del depredador que se alimenta de su presa. Del ave Fénix, de la fe en la que creo y existo. Todos los dioses y demonios en estos huesos petrificados, raíz de todos los caminos.

Soy todas versiones del hombre en miniatura. Un árbol solitario que caerá algún día.

La noche con sus largas melenas me invita a alimentarme de su aliento, de los hombres muertos y sus tumbas, de sus caminos truncados o salvados, de los ángeles caídos, de los paraísos perdidos.

El día me augura un espléndido sol para el camino, la brevedad de la luz. Lumbre en la noche con todos sus hallazgos y extravíos.

Hambrienta, en esta brevedad del instante, hago hostias con las hojas de los árboles.


 

As axilas da noite

Estes ossos petrificados são a raiz de todos os caminhos. Ali nasce a erva, as axilas da noite e do dia. A púbis do início dos tempos. A dentição da nuvem que se desloca no seu rigor de nuvem.

O meio-dia da luz está nestes ossos milenares que são meus.

Minha memória de fóssil está em tudo. No alcaravão que voa, e não se pergunta pelas horas.

Sou todas as versões do homem em miniatura. Do réptil repugnante que se arrasta pela terra. Do predador que se alimenta de sua presa. Da ave Fénix, da fé na qual eu acredito e existo. Todos os deuses e demónios nestes ossos petrificados, raiz de todos os caminhos.

Sou todas versões do homem em miniatura. Uma árvore solitária que algum dia cairá.

A noite com suas longas jubas convida-me a alimentar-me do seu alento, dos homens mortos e das suas tumbas, dos seus caminhos truncados ou salvos, dos anjos caídos, dos paraísos perdidos.

O dia augura-me um esplêndido sol para o caminho, a brevidade da luz. Lume na noite com todos os seus achados e extravios.

Faminta, nesta brevidade do instante, faço hóstias com as folhas das árvores.

 

18 fevereiro 2022

alexandra espinosa


No estoy llorando porque esto sea lo suficientemente importante para mí, estoy llorando porque no lo es

Estoy llorando porque quiero formar parte de un club llamado “inútiles aficionados a todos los campos deportivos iluminados en la noche y vistos desde cualquier vehículo en movimiento”.

Estoy llorando porque quiero ser aceptada en este club, porque quiero hacer parte de algo pequeño y honesto, porque creo que como ser humano merezco un espacio singular y especifico en el cual pueda mirar al frente y sonreír sin decir nada.

Estoy llorando porque los clasificados en internet no anuncian ningún club deportivo que no se dedique en lo absoluto al deporte, sino solamente a la contemplación. Mis ojos se hinchan y mi cara se pone muy pálida como si tuviese frío y no hubiera alrededor de mí ninguna cosa viva a la que pudiera acercarme para mantenerme a salvo.

Estoy llorando porque siento que puedo hacerlo, que tengo el derecho, que no tengo otra oportunidad fuera de mí, que soy la única razón por la que estoy aquí, y que no estoy sola, que jamás estaré tan sola como creía, como pensaba, que jamás estaré fuera de nadie.

Estoy llorando porque la música que suena en la línea de emergencia no es tan conmovedora como pensé que sería.

 

Não choro por isto ser suficientemente importante para mim, choro porque não o é

Choro porque quero fazer parte de um clube chamado "inúteis adeptos de todos os campos desportivos iluminados à noite e vistos de qualquer veículo em movimento".

Choro porque quero ser aceita neste clube, porque quero fazer parte de algo pequeno e honesto, porque acredito que como ser humano mereço um espaço singular e específico no qual possa olhar para a frente e sorrir sem dizer nada.

Choro porque os classificados na Internet não anunciam nenhum clube desportivo que não se dedique ao desporto, mas apenas à contemplação. Os meus olhos incham e a minha cara fica muito pálida como se tivesse frio e não houvesse nada vivo à minha volta a que me pudesse aproximar para me manter a salvo.

Choro porque sinto que posso fazê-lo, que tenho direito, que não tenho outra oportunidade fora de mim, que sou a única razão pela qual estou aqui, e que não estou sozinha, que jamais estarei tão só como acreditava, como pensava, que jamais estarei fora de ninguém.

Estou a chorar porque a música que toca na linha de emergência não é tão comovente como pensei que seria.

 

17 fevereiro 2022

tania ganitsky

 


VI UNA FOTO de la luna

en la que cada cráter parece un poro abierto.


Qué mito narra


que la mirada de Medusa

llegaba hasta el espacio


y qué era la luna

antes de ser transformada en piedra.


Tal vez el rostro de una madre.



VI UMA FOTO da lua

em que cada cratera parece um poro aberto.


Que mito conta


que o olhar de Medusa

chegava até ao espaço


e o que era a lua

antes de ser transformada em pedra.


Talvez o rosto de uma mãe.



Los caballos

no iban a vivir tanto tiempo.

Pero encontraron ofrendas en el sueño

de los muertos.

Allí pastan, beben agua y, a veces,

se acercan

a las manos cubiertas en panela

que se abren como flores dulces a su alrededor.

Doblan el cuello y reciben la ternura

que también debió extinguirse

hace tiempo.



os cavalos

não iam viver muito tempo.

Mas encontraram oferendas no sonho

dos mortos.

Ali pastam, bebem água e, às vezes,

aproximam-se

das mãos cobertas de acúcar de cana

que se abrem como flores doces à sua volta

Dobram o pescoço e recebem a ternura

que também teve de se extinguir

há tempos.


16 fevereiro 2022

liliana cadavid

 

Mi vacío

 

Esta soy… abordada por los sueños camino.

Mi dolor es un vaso de licor en la noche.

Mi vacío es un pájaro en el cielo cayéndose.

Mi alegría es un castillo que yo misma construyo

que yo misma destruyo cuando ya no le quiero.

Mi palabra es un trueno o un abrazo de pájaro.

Mi canción es un irse de aguas tristes y verdes.

Esta soy; cualquier perro que le ladra a la noche.

Un noctámbulo ciego que camina entre el humo.

Un vino oscuro que golpea la sangre…

Una promesa que jamás se cumple

una bohemia que pretende el aire…

Un águila sin ojos… una estrella…

una gaviota blanca que se entrega.


 

O meu vazio

 

Esta sou... abordada pelos sonhos caminho.

A minha dor é um copo de licor à noite.

O meu vazio é um pássaro caindo no céu.

A minha alegria é um castelo que eu própria construo

que eu própria destruo quando já não o quero.

A minha palavra é um trovão ou um abraço de pássaro.

A minha canção é uma partir de águas tristes e verdes.

Esta sou; um qualquer cão que ladra à noite.

Um noctâmbulo cego que caminha entre o fumo.

Um vinho escuro que golpeia o sangue...

Uma promessa que nunca se cumpre

uma boémia que pretende o ar...

Uma águia sem olhos... uma estrela...

uma gaivota branca que se entrega.