Lugares
comunes
El hambre es nuestro
alimento,
nuestra hermandad.
En la cocina fabricamos las
miserias.
Se nos llena el abismo
con pasos apresurados
de paranoicos
en la prisión de un cuerpo
ajado por la lluvia.
No nos salva
ni la primera estrella de la
noche
ni el rayo de la mañana
a través de los cristales
para bendecir un pan viejo.
El tiempo se nos escapa
en el basurero que apila los
adioses,
allí donde mueren mujeres
mientras escribo.
Los niños aprenden a caminar
antes del bombardeo.
Poco importa esta letra de
nada
este mundo entierra a sus
hijos con los ojos abiertos
para mirar más de cerca.
La caligrafía se abandona al
guiso del bistec
amargo entre sus tejidos.
Ni siquiera somos dignos de
la queja
el alarido fugaz no nos
resigna.
Al final Dios nos espera
para decirnos que él no es
el principio.
A mediodía se esconden los
fantasmas
con su traje repulsivo que
amenaza con iluminar todo.
La bulla del tráfico
persiste en lo que no seremos.
Es la diana de los sueños
astillados.
Nos demuele
como pelota de hierro al
edificio
de cualquier construcción
defectuosa y telúrica.
En esta soledad multiplicada
nos abandonamos a la inercia
de una palabra
que apenas balbuceamos.
Un calambre abdominal nos
acecha
nos deja ausentes
abriendo la palma de la mano
en una avenida muy familiar.
Lugares comuns
A
fome é o nosso alimento,
a
nossa irmandade.
Na
cozinha fabricamos as misérias.
enche-nos
o abismo
em
passos apressados
de
paranóicos
na
prisão de um corpo
murchado
pela chuva.
Não
nos salva
nem
a primeira estrela da noite
nem
o raio da manhã
através
dos vidros
para
abençoar um pão velho.
O
tempo escapasse-nos
no
caixote do lixo que empilha as despedidas,
ali
onde morrem mulheres enquanto escrevo.
As
crianças aprendem a andar antes do bombardeio.
Pouco
importa esta letra de nada
este
mundo enterra os seus filhos com os olhos abertos
para
olhar mais de perto.
A
caligrafia abandona-se ao guisado do bife
amargo
entre os seus tecidos.
Nem
sequer somos dignos da queixa
o
alarido fugaz não nos resigna.
No
fim Deus espera-nos
para
nos dizer que ele não é o princípio.
Ao
meio-dia escondem-se os fantasmas
com
as suas roupas nojentas que ameaçam iluminar tudo.
O
barulho do trânsito persiste no que não seremos.
É
o alvo dos sonhos lascados.
Derruba-nos
como
a bola de ferro ao edifício
de
qualquer construção defeituosa e telúrica
Nesta
solidão multiplicada
abandonamo-nos
à inércia de uma palavra
que
mal balbuciamos.
Uma
cãibra abdominal espreita-nos
deixa-nos
ausentes
abrindo
a palma da mão
numa
avenida muito familiar.