20 fevereiro 2022

angélica hoyos guzmán

 

Lugares comunes

 

El hambre es nuestro alimento,

nuestra hermandad.

En la cocina fabricamos las miserias.

Se nos llena el abismo

con pasos apresurados

de paranoicos

en la prisión de un cuerpo

ajado por la lluvia.

 

No nos salva

ni la primera estrella de la noche

ni el rayo de la mañana

a través de los cristales

para bendecir un pan viejo.

 

El tiempo se nos escapa

en el basurero que apila los adioses,

allí donde mueren mujeres mientras escribo.

 

Los niños aprenden a caminar antes del bombardeo.

Poco importa esta letra de nada

este mundo entierra a sus hijos con los ojos abiertos

para mirar más de cerca.

 

La caligrafía se abandona al guiso del bistec

amargo entre sus tejidos.

 

Ni siquiera somos dignos de la queja

el alarido fugaz no nos resigna.

 

Al final Dios nos espera

para decirnos que él no es el principio.

 

A mediodía se esconden los fantasmas

con su traje repulsivo que amenaza con iluminar todo.

 

La bulla del tráfico persiste en lo que no seremos.

 

Es la diana de los sueños astillados.

 

Nos demuele

como pelota de hierro al edificio

de cualquier construcción defectuosa y telúrica.

 

En esta soledad multiplicada

nos abandonamos a la inercia de una palabra

que apenas balbuceamos.

 

Un calambre abdominal nos acecha

nos deja ausentes

abriendo la palma de la mano

en una avenida muy familiar.

 

 

Lugares comuns

 

A fome é o nosso alimento,

a nossa irmandade.

Na cozinha fabricamos as misérias.

enche-nos o abismo

em passos apressados

de paranóicos

na prisão de um corpo

murchado pela chuva.

 

Não nos salva

nem a primeira estrela da noite

nem o raio da manhã

através dos vidros

para abençoar um pão velho.

 

O tempo escapasse-nos

no caixote do lixo que empilha as despedidas,

ali onde morrem mulheres enquanto escrevo.

 

As crianças aprendem a andar antes do bombardeio.

Pouco importa esta letra de nada

este mundo enterra os seus filhos com os olhos abertos

para olhar mais de perto.

 

A caligrafia abandona-se ao guisado do bife

amargo entre os seus tecidos.

 

Nem sequer somos dignos da queixa

o alarido fugaz não nos resigna.

 

No fim Deus espera-nos

para nos dizer que ele não é o princípio.

 

Ao meio-dia escondem-se os fantasmas

com as suas roupas nojentas que ameaçam iluminar tudo.

 

O barulho do trânsito persiste no que não seremos.

 

É o alvo dos sonhos lascados.

 

Derruba-nos

como a bola de ferro ao edifício

de qualquer construção defeituosa e telúrica

 

Nesta solidão multiplicada

abandonamo-nos à inércia de uma palavra

que mal balbuciamos.

 

Uma cãibra abdominal espreita-nos

deixa-nos ausentes

abrindo a palma da mão

numa avenida muito familiar.