30 abril 2022

cristina pavón burbano

 

Árbol genealógico


Bastó con que el jardín haya sido invadido por diez mirlos

para que el árbol se fermente

encima de una alfombra de panela, en el huerto de la infancia.


El macizo completo se desgajó:

hojas, ramas y ardillas descansan sobre hierba y cáscaras de fruta

La niña que fui buscó una sombra no infestada por el excremento de las aves

para comer la cosecha.


¿Por qué el jardín huele a fruta rancia?,

cada inhalación es un puñal en el paladar.

Los pájaros volaron sobre su frente

alguna vez su madre le advirtió que los mirlos

son cuervos enanos,

que hunden sus picos y patas

en el color de las mandarinas y de los nísperos.


La niña se preguntó, si estas aves quieren comerle los ojos

como si fuesen frutas maduras

O si ven en su pecho abierto el perfecto ramaje para anidar

Esa tarde ella lloró encharcando las alas

de esos pájaros que guardan constante luto.

En el jardín no encontró ni un solo fruto sano,

engulló una bicicleta con olor a mañana y manteca,

dos ruedas quedaron sobre el césped

donde se tendió a eructar una cadena y unos pernos ya deformes,

tendida bajo la luz, que pesaba como asfalto fresco sobre su frente

calculó la fatiga de llevar al sol sobre las colinas.


Se preguntó si sus extremidades bifurcadas podrían elevar tanta incandescencia

quiso hacer rodar el sol para expiar

la maldición generacional que son los mirlos.


Cuando las aves terminaron de cubrir con sombras el jardín

ella les sacó los ojos.




Árvore genealógica


Bastou que o jardim tenha sido invadido por dez melros

para a árvore se fermentar

em cima de uma alcatifa de açúcar, no jardim de infância.


O maciço inteiro esfarelou-se:

folhas, galhos e esquilos descansam em relva e cascas de fruta

A menina que fui procurou uma sombra não infestada pelo excremento das aves

para comer a colheita.


Por que cheira o jardim a fruta rançosa? ,

cada inalação é um punhal no palato.

Os pássaros voaram sobre a sua testa

uma vez a sua mãe avisou que os melros

são corvos anões,

que afundam os seus bicos e patas

na cor das tangerinas e das nêsperas.


A menina interrogou-se se tais pássaros lhe querem comer os olhos

como se fossem frutas maduras

Ou se vêm no seu peito aberto a ramagem perfeita para fazerem ninho


Nessa tarde ela chorou encharcando as asas

desses pássaros que andam sempre em constante luto.

No jardim não encontrou nem uma fruto sã,

engoliu uma bicicleta com cheiro a manhã e manteiga,

duas rodas ficaram sobre a relva

onde se estendeu a arrotar uma corrente e uns parafusos já deformados,

deitada sob a luz, que pesava como asfalto fresco sobre a sua testa

calculou a fadiga de levar o sol sobre as colinas.


Perguntou-se se as suas extremidades bifurcadas poderiam elevar tanta incandescência

quis fazer rolar o sol para expiar

a maldição geracional que são os melros.


Quando os pássaros acabaram de cobrir com sombras o jardim

ela arrancou-lhes os olhos.




29 abril 2022

ewa jarocka

 

Patrze na swoje dłonie


patrzę na swoje dłonie


przypominają mi starość, trochę

suchych liści, całe życie były ze mną,

a teraz pękają jak skaj. najchętniej

by zawilgotniały, by móc milczeć.


by móc płakać łzami, które ściskam

powiekami tak. jak zaciskam szczękę.


składam dłonie w piramidkę,

jakbym strzelała do siebie.


skubię skórki przy paznokciach.

chcę przyśpieszyć swoją śmierć, bo mogę.

może kiedyś razem z zadziorami stracę

paznokcie, włosy, skórę. dom. miasta,

wsie, lasy i zwierzęta oraz ludzkie

dzieci, dorosłych mężczyzn oszczędzę,


by płakali po nas




Olho para as minhas mãos


olho para as minhas mãos


lembram-me a velhice, um punhado de

folhas secas, estiveram comigo toda a vida,

e agora estão a fender-se como a polipele.

gostariam de se humedecer, para ficarem em silêncio.


para poder chorar as lágrimas que contenho

com as pálpebras tal como aperto a mandíbula.


cruzo as mãos em forma de pirâmide,

como se estivesse a disparar contra mim.


arranco as cutículas das unhas.

quero acelerar a minha morte, porque posso.


talvez um dia, junto com o queixo duplo, perca

as unhas, o cabelo, a pele, as cidades,

aldeias, florestas, animais e crianças

humanas, aos homens adultos poupar-lhes-ei a vida


para que chorem por nós


28 abril 2022

paula giglio

 

Gélida


Para pintar mi costado más frágil

es necesario definir

cómo puede caber

tanta dureza en mis ojos

y no resbalarse.

Soy fría, soy blanca,

suficiente para que un hombre

insista por amor al arte.

Pero ella, a un costado,

es más inteligente.

La noche se pega

con la mañana de un domingo

donde unos duermen en el pasto

y otros fuman demacrados.

No la conozco

y ahora se ha puesto entre el pintor y yo:

¿no ves que ella es gélida?

Un color que no existe.




Gélida


Para pintar o meu lado mais frágil

é necessário definir

como consegue caber

tanta dureza nos meus olhos

e não escorregar.

Sou fria, sou branca,

suficiente para que um homem

insista por amor à arte.

Mas ela, de um lado,

é mais inteligente.

A noite contagia-se

com a manhã de um domingo

onde alguns dormem na relva

E outros fumam macilentos.

Não a conheço

e agora pôs-se entre mim e o pintor:

Não vês que ela é gélida?

Uma cor que não existe.


27 abril 2022

lila biscia

 

Ausencia en contrapeso


entre casa y las montañas

veo un pájaro que nombra el miedo

dice algo de las manos

sostenerse en un refugio

dentro

de otro lugar

eso y nadar el aire.



Ausência em contrapeso


entre casa e montanhas

vejo um pássaro que nomeia o medo

diz qualquer coisa das mãos

manter-se num refúgio

dentro

de outro lugar

isso e nadar no ar.



26 abril 2022

raquel casas agustí

 

Novembre

 

Jo soc el meu enemic,

així, sense metàfores.

No puc enamorar-me

apassionadament/ i només l’alcohol em fa il·lusió,

així, sense remordiments.

Tot viatja amb mi.

Reconec aquests carrers i recordó

els dies assolellats,

l’angle de la foto,

les mans immòbils sobre els fronts

formant teulades, el pubis depilat,

un anell d’or damunt el mapa.

Em sorprèn de nou el fred de novembre

silenciós com una antiga estació

on els trens mai no passen.

 

 

Novembro

 

Eu sou o meu inimigo,

assim, sem nenhuma metáfora.

Não consigo enamorar-me apaixonadamente

e só o álcool me ilude,

assim, sem nenhum remorso.

Tudo viaja comigo.

Reconheço estas ruas e lembro

os dias ensolarados, o ângulo da foto,

as mãos imóveis nas frontes

formando telhados, os pentelhos depilados,

um anel de ouro no topo do mapa.

Surpreende-me de novo o frio de novembro

silencioso como uma antiga estação

onde os comboios nunca passam.


25 abril 2022

citlalli santos

 

Consignas


María llena eres de rabia

Escucha mis consignas

Y sal conmigo a luchar.


Rebelde madre, no me abandones

Ni dejes que la policía me atrape.

Tu vista de mi no apartes,

Y sola nunca me dejes.


Ya que ambas somos mujeres,

Te pido a ti que todo lo puedes

Haz que lleguemos a casa,

Que ningún hombre nos mate.


En el nombre de las ancestras violadas

por los padres y tus hijos

En el nombre de las que no olvidamos

De las que siguen en espíritu…

Amén.




Slogans


Maria cheia de raiva

Ouve as minhas instruções

E vem comigo lutar.


Mãe rebelde, não me abandones

Nem deixes que a polícia me prenda.


A tua visão de mim não afastes,

E nunca me deixes sozinha.


Já que somos ambas mulheres,

Peço-te a ti que tudo podes

Faz com que cheguemos a casa,

Que nenhum homem nos mate.


Em nome das ancestrais violadas

pelos pais e pelos teus filhos

Em nome das que não esquecemos

Das que continuam em espírito...

Amém.


24 abril 2022

teresa noyola méndez

 

¿Hablaremos de nuestros fragmentos?

Hay palabras viviendo en mi corazón,

llevo en mi rostro el rostro de mi abuela,

en mis manos, la energía creadora de mi madre,

Y los miedos de ambas hallan cuna en mí:

Una hereda todo el amor y el veneno,

la creación y la sombra.


Decidí abrir mi pecho,

vesica piscis sangrante,

sentir el dolor de la otra,

Que era el mío,

Quemarlo con mi fuego,

Admirar a todas las mujeres que han resistido,


Porque,

Todas hemos sido heridas, todas,

Despedazadas, silenciadas, repudiadas,

Fragmentadas sin sentido,

Por otros, por nosotras mismas.

Nacidas en carne conquistada,

Que se nos cuenta ajena,

Hemos visto la destrucción de nuestros mundos

Y la degradación de lo palpable.


Somos testigas de un imaginario

Que no nos contiene salvo en condición

De musa luna virgen madre de dios

Y de todos los hombres.


Sometidas bajo mantos dulces

que esconden contradicción tras contradicción.


Por ello,

amo la monstruosidad

De la mujer que se levanta a sí misma,

De aquella que inventa su lengua

Y busca sus propios ángeles,

La que no teme ser incomprensible.


Rechazo el discurso de ellos,

Perdono el veneno,

Los pasos en falso de las otras,

Mi incapacidad de ser feliz,

El dejarme ser un animal herido

Por esta realidad necrofílica.

Perdono mi herencia:

la tristeza destilada.

Me habito, hoy,

en la palabra encarnada,

y el espejo de mis hermanas.


Escucho la risa de mamá,

creo en la risa de mamá.

Fragmentadas o no,

La destrucción del mundo

Propone la creación de otros,

Tejidos, escritos, pintados,

Sentidos y materializados.

Este dar a luz implica el llanto por la resistencia

Y la ternura de sonreír a pedazos.




Decidi abrir meu peito,

vesica piscis a sangrar,

sentir a dolor da outra,

Que era a minha,

Queimá-la com o meu fogo,

Admirar todas as mujeres que resistiram,


Porque,

Todas fomos feridas, todas,

Despedaçadas, silenciadas, repudiadas,

Fragmentadas sem sentido,

Por outros, por nós mesmas.

Nascidas em carne conquistada,

Por conta de outrém,

Vimos a destruição dos nossos mundos

E a degradação do palpável.


Somos testemunhas de um imaginário

Que não nos contém, excepto em condição

De musa lua virgem mãe de deus

E de todos os homens.


Submetidas por mantos doces

que escondem contradição atrás de contradição.


Por isso

amo a monstruosidade

Da mulher que se levanta a si mesma,

Daquela que inventa a sua língua

E procura os seus próprios anjos,

Aquela que não tem medo de ser incompreensível.


Rejeito o discurso deles,

Perdoo o veneno,

Os passos em falso das outras,

A minha incapacidade de ser feliz,

O deixar-me ser um animal ferido

Por esta realidade necrofílica.


Perdoo a minha herança:

a tristeza destilada.


Habito-me, hoje,

na palavra encarnada,

e no espelho das minhas irmãs.


Ouço o rir da mamã,

acredito no riso da mamã.


Fragmentadas ou não,

A destruição do mundo

Propõe a criação de outros,

Tecidos, escritos, pintados,

Sentidos e materializados.

Este dar à luz implica o pranto pela resistência

E a ternura de sorrir aos pedaços.


23 abril 2022

belkys arredondo olivo

 

VI

los terminales son otros aeropuertos

otras pistas de aterrizaje

suenan los rieles en velocidad tránsfuga

 

avisos publicitarios,

puentes que no comprobamos a dónde llegan,

vida interminable realizando la conversión

 

de dónde venimos

a dónde vamos

por qué no estarás conmigo al final

 

 

VI

os terminais são outros aeroportos

outras pistas de aterragem

soam os trilhos em velocidade trânsfuga

 

anúncios publicitários,

pontes que não verificamos para onde vão,

vida interminável realizando a conversão

 

de onde viemos

para onde vamos

o porquê de não estares comigo no terminal.


22 abril 2022

ilona witkowska

 

hegemoniczne łańcuchy ekwiwalencji

 

lśniący piesek zostawił to, czym się bawił

a ja mogłam robić co chciałam, więc niewiele robiłam

miałam miłość, brałam ją jak coś co trzeba wziąć

byliśmy w drodze i nietoperz w nas uderzył,

kochanie, od środka i teraz i zawsze

nietoperze w nas biją


 

cadeias de equivalência hegemónicas

 

um cão resplandecente deixou a coisa com que estava a brincar

e eu podia fazer o que quisesse, assim muito não fiz

tinha amor, bebia-o como qualquer coisa que tinha de beber

estávamos a caminho e o morcego bateu-nos,

meu amor, cá de dentro e agora e sempre

os morcegos batem-nos

 

21 abril 2022

lízbeth padilla

 

Rezo de la mujer abandonada


Para desaparecerte

frotaré mis manos contra la pared

voy a descolgar las máscaras

a cocinar un guiso donde hiervan tus dedos

quiero volver de carne la gabardina

cubrir tu boca con periódico

habrá que arrinconar todos los muebles

cambiar de sitio la pupila que heriste

limpiar con vinagre tus mañanas

al sustantivo amor desearle salud eterna


Completaste el terrario con tu rictus de espina en campo abierto

La casa huele a pastel abandonado antes de la celebración

Me tienta el deseo de envolver como dulces tus dientes

narcotizar las caricias

poner en la pecera tu lengua indócil

Para desvanecerte de mis comisuras

voy a frotarme ungüentos

buscar la brisa que oriente mis mascadas a otros patios

Para convertirte en antídoto contra la noche

voy a zurcir tu viaje pluma a pluma

a frotar mis manos en la pared

descolgar las máscaras

cocinar un potaje

cubrir tu boca

arrinconar

cambiar de sitio

frotarme ungüentos

sacar de la vitrina mi vestuario de maga




Reza da mulher abandonada


Para te desaparecer

esfregarei as minhas mãos contra a parede

vou tirar as máscaras

cozinhar um guisado onde fervam os teus dedos

quero fazer de carne a gabardina

cobrir a tua boca com jornal

há que encurralar todos os móveis

mudar de sítio a pupila que feriste

limpar com vinagre as tuas manhãs

ao substantivo amor desejar-lhe saúde eterna


Completaste o terrário com o teu rictus de espinho em campo aberto

A casa cheira a bolo abandonado antes da celebração

Tenta-me o desejo de envolver como doces os teus dentes

narcotizar as carícias

pôr no aquário a tua língua indócil

Para desaparecer das minhas comissuras

vou esfregar unguentos

procurar a brisa que oriente o meu mastigar para outros pátios

Para se converter em antídoto contra a noite

Vou cerzir a tua viagem pena por pena

a esfregar as minhas mãos na parede

tirar as máscaras

cozinhar uma sopa

cobrir a tua boca

encurralar

mudar de lugar

esfregar-me unguentos

tirar do armário o meu traje de maga.



20 abril 2022

carmen nozal

 

Como todas las noches

empaño los cristales de mi casa

para escuchar el corazón que galopa por el mar de la sangre

donde se hunden mis penas, el pan, estos propósitos,

hasta quedar sin aliento y con el corazón

mirándome del otro lado de la ventana.



Como todas as noites

embacio os vidros da minha casa

para ouvir o coração que galopa pelo mar de sangue

onde se afundam as minhas penas, o pão, estes propósitos,

até ficar sem fôlego e com o coração

a olhar para mim do outro lado da janela.


19 abril 2022

h'eφη kαλογεροπούλου

 

Η τελευταία λέξη


αιωρείται

ρούχο άδειο

κρεμασμένο από τοίχο αόρατο

πέτρα που γκρεμίζεται

στο χρόνο.


Η τελευταία λέξη


αιχμάλωτη

στο τρύπιο γάντι της σιωπής

στην τρέλλα γέρνει

και συλλαβίζει λέξεις

όπως ζάρι παρτίδα νίκη

απελπίσία στάχτη

το χαμένο δαχτυλίδι

ενός έκπτωτου άγγελου εκδίκησης

λέξη- πουλί με ράμφος κοφτερό

αυτόχειρας αυτάρεσκη

λέξη θάνατος-έρωτας

τυφλή

η τελευταία λέξη


όταν θυμώσει

με την άκρη του φτερού της

φωτιά ανάβει

σ'όλους τους κήπους

του ουρανού.



A palavra última


balança-se

roupa vazia

suspensa por uma parede invisível

pedra que se despenha

no tempo.


A palavra última


prisioneira

na luva trespassada do silêncio

submete-se à demência

e soletra as palavras

como dado partida vitória

desespero cinza

o anel perdido

de um anjo caído, um anjo exterminador

palavra pássaro de bico afiado

suicida presunçosa

palavra morte-eros

cega

a palavra última


quando se irrita

com a ponta da sua asa

incendeia

todos os jardins

do céu.


18 abril 2022

lucía rueda

 

Síncope


Pasaron una piedra. Por los huesos

de mi papá era noche. Su cuerpo grávido,

como la luna que insta al lobo ser lobo

y le repite que no dormirá


la locura. Llegó a su mano enajenada

la parálisis de no asistir,

no ser presente en las quinientas horas,

ni escribir el cambio de fechas.

Cada que despierta, el sudor es tanto

que mi mamá sueña con un barco

donde las amuras ya no resisten

ventoleras

que quieren derribar las puertas.

Donde exista una migaja segura


el lobo sopla a las paredes.

De su locura, mi papá dice que es triste.

Me lo dijo de noche,

con la mirada que crea lunas.

Con su nariz desafortunada


da miedo acercar nuestra mano

y no saber quién. Debajo del disfraz,

¿la edad no es triste?

Pregunta mi papá mientras

se desplaza por la sala

persiguiendo las fotos familiares

y su propia cola que confunde

con la del perro que tiene prohibido

lamer su mano en reposo.

Da miedo acercarse.


Mi papá no sabe en qué momento

se metió una piedra en sus huesos,

me dice aullando. Con la mirada que crea bosques


mi mamá repite que la locura

entra por la puerta y hay que mantener la calma

mientras se repite la canción lunar.



Síncope


Passaram uma pedra. Pelos ossos

do meu pai era noite. Seu corpo grávido,

como a lua que insta o lobo a ser lobo

e lhe repete que não dormirá


a loucura. Chegou à sua mão alheada

a paralisia de não assistir,

não estar presente nas quinhentas horas,

nem escrever a mudança de datas.

Cada vez que acorda, o suor é tanto

que a minha mãe sonha com um barco

onde as amuras já não resistem

ventoleiras

que querem derrubar as portas.

Onde haja uma migalha segura


o lobo sopra nas paredes.

Da sua loucura, o meu pai diz que é triste.

Disse-mo à noite,

com o olhar que cria luas.

Com seu nariz infeliz


dá medo aproximar a nossa mão

e não saber quem. Debaixo do disfarce,

a idade não é triste?


Pergunta o meu pai enquanto

se movimenta pela sala

perseguindo as fotos de família

e a sua própria cauda que confunde

com a do cão que está proibido

de lamber a sua mão em repouso.

Dá medo chegar perto.


O meu pai não sabe em que momento

enfiou uma pedra em seus ossos,

diz-me uivando. Com o olhar que cria bosques


a minha mãe repete que a loucura

entra pela porta e tem que manter a calma

enquanto se repete a canção lunar.


17 abril 2022

kωνσταντίνα kορρυβάντη

 

Αλκμήνη


Νόμιζε

πως αν άλλαζε το όνομα του

και το αντικαθιστούσε μ'ένα άλλο

όλα θα εξακολουθούσαν να είναι.


Αρκεί να αποφεύγει κανείς τα τρίγωνα

και να ερωτεύεται θνητούς.


Απόψε άλλωστε

τα μικρά του χέρια της φάινονται αδύναμα

να πνίξουν τα φίδια της συζύγου.




Alcmena


Achava que se mudasse o seu nome

e o substituísse por outro

tudo seguiria o seu caminho.


Basta evitar os triângulos

e apaixonar-se por mortais.


Esta noite até

as suas mãos pequenas lhe parecem débeis

para afogar as cobras da esposa.


16 abril 2022

franca mancinelli

 

«ho lavorato con la morte

nel cuore per un mese».

E gli occhi le debordano al pensiero

delle notti quando all’altro lato

del letto un fiume si ostruiva

lento di rifiuti. Poi nel sonno

profondo un gran cantiere

riallacciava la vita a quattro ponti.

Sono vent’anni che dormiamo

insieme e solo ora

so che il sangue

va dal mio atrio al suo.



trabalhei com a morte

no coração durante um mês”

E os olhos que transbordam ao pensamento

das noites quando do outro lado

da cama um rio se obstruía

em lentidão de resíduos. Depois no sono

profundo, uma grande obra

restaurava a vida em quatro pontes.

São vinte anos a dormir

juntos e só agora

sei que o meu sangue

vai do meu átrio ao seu.