Rezo de la mujer abandonada
Para desaparecerte
frotaré mis manos contra la pared
voy a descolgar las máscaras
a cocinar un guiso donde hiervan tus dedos
quiero volver de carne la gabardina
cubrir tu boca con periódico
habrá que arrinconar todos los muebles
cambiar de sitio la pupila que heriste
limpiar con vinagre tus mañanas
al sustantivo amor desearle salud eterna
Completaste el terrario con tu rictus de espina en campo abierto
La casa huele a pastel abandonado antes de la celebración
Me tienta el deseo de envolver como dulces tus dientes
narcotizar las caricias
poner en la pecera tu lengua indócil
Para desvanecerte de mis comisuras
voy a frotarme ungüentos
buscar la brisa que oriente mis mascadas a otros patios
Para convertirte en antídoto contra la noche
voy a zurcir tu viaje pluma a pluma
a frotar mis manos en la pared
descolgar las máscaras
cocinar un potaje
cubrir tu boca
arrinconar
cambiar de sitio
frotarme ungüentos
sacar de la vitrina mi vestuario de maga
Reza da mulher abandonada
Para te desaparecer
esfregarei as minhas mãos contra a parede
vou tirar as máscaras
cozinhar um guisado onde fervam os teus dedos
quero fazer de carne a gabardina
cobrir a tua boca com jornal
há que encurralar todos os móveis
mudar de sítio a pupila que feriste
limpar com vinagre as tuas manhãs
ao substantivo amor desejar-lhe saúde eterna
Completaste o terrário com o teu rictus de espinho em campo aberto
A casa cheira a bolo abandonado antes da celebração
Tenta-me o desejo de envolver como doces os teus dentes
narcotizar as carícias
pôr no aquário a tua língua indócil
Para desaparecer das minhas comissuras
vou esfregar unguentos
procurar a brisa que oriente o meu mastigar para outros pátios
Para se converter em antídoto contra a noite
Vou cerzir a tua viagem pena por pena
a esfregar as minhas mãos na parede
tirar as máscaras
cozinhar uma sopa
cobrir a tua boca
encurralar
mudar de lugar
esfregar-me unguentos
tirar do armário o meu traje de maga.