15 novembro 2019

stevie smith


(Why does my Muse only speak when she is unhappy?
She does not, I only listen when I am unhappy
When I am happy I live and despise writing
For my Muse this cannot but be dispiriting.)


( Porque será que a minha Musa só fala quando está infeliz?
Não é isso que ela faz, sou eu que apenas a oiço quando estou infeliz
Quando estou feliz, vivo e não quero saber da escrita
Para a minha Musa isto só pode ser deprimente )


12 novembro 2019

terze caf


Un soir,
Avant de manger mon orange,
Je serai tuée ;
Il est aussi possible
Qu’avant de prendre un peigne
Pour mes cheveux légers,
Condamnée,
Je serai coupée en morceaux ;

Quand arrive la guerre,
Elle me reconnaît à l’odeur,
Et de loin, pousse un cri.
C’est la petite fille en blanc
Dans le feu, qui se moquait de mes idées.


Em uma noite,
antes de comer a minha laranja,
matar-me-ão;
Também é possível
que antes de pegar num pente
para os meus cabelos finos,
condenada,
cortar-me-ão em pedaços;

Quando a guerra chega
reconhece-me pelo cheiro,
e ao longe emite um grito.
É a rapariguinha em roupa branca
No fogo, que gozava com as minhas ideias.

09 novembro 2019

ingrid bringas


Correspondencia Privada

La última conversación con mi padre
fue sobre el patio de la casa, miraba lentamente
el árbol
las cerraduras oxidadas, el decía: alguien me espera
como si estuviera en un sueño permanente
y la piel arrugada por el sol
la luz de su lenguaje,
parecía no tener prisa en cada una de sus palabras
pero las palabras se fueron haciendo cenizas
caía el sol sobre las plantas
diluyéndolo todo,
una tarde que alguna vez fue su voz interior
alguna vez fue mi padre
alguna vez fue verano
un eco se apagaba lentamente con el canto de las aves
como la tarde con el pico quebrado.


Correspondência Privada

A última conversa com o meu pai
foi sobre o pátio da casa, olhava lentamente
para a árvore
os cadeados oxidados, ele dizia : alguém me espera
como se estivesse num sonho permanente
e com a pele enrugada pelo sol
a luz da sua linguagem
parecia não ter pressa em cada uma das suas palavras
mas as palavras foram-se desfeitas em cinza
caía o sol nas plantas
diluindo tudo,
uma tarde que uma vez foi a sua voz interior
uma vez foi meu pai
uma vez foi verão
um eco apagava-se lentamente com o canto das aves
como a tarde com o bico partido.

06 novembro 2019

maría auxiliadora álvarez


usted nunca ha parido

no conoce
el filo de los machetes
no ha sentido
las culebras del río
nunca ha bailado
en un charco de sangre querida
doctor
no meta la mano tan adentro
que ahí tengo los machetes
que tengo una niña dormida
y usted nunca ha pasado
una noche en la culebra
usted no conoce el río


vossemecê nunca pariu

não conhece
a lâmina das catanas
não sentiu
as cobras do rio
nunca dançou
num charco de sangue amado
doutor
não meta a mão tão dentro
que aqui tenho as lâminas
que tenho uma criança adormecida
e vossemecê nunca passou
uma noite na cobra
vossemecê não conhece o rio

03 novembro 2019

sab alegre



fiebre

un día tuve fiebre
y recordé un sueño recurrente
que tenía cuando era niña
un sueño que nunca puedo explicarle a nadie

un sueño decorado con baldosas azules
y pinceladas rosas en todas sus dimensiones
un sueño donde una mujer de cabello rubios
levantaba un papel ajeno del suelo
y en esa leve acción el mundo se destruía
sólo por levantar
lo que otro había dejado caer

desde ese día
no dejo de pensar
que la experiencia de la salvación
es un acto para pocos


febre

um dia tive febre
e lembrei-me de um sonho recorrente
que tinha quando era criança
um sonho que nunca consigo explicar a ninguém

um sonho decorado com azulejos azuis
e pinceladas rosa em todas as suas dimensões
um sonho em que uma mulher de cabelo loiro
levantava um papel estendido no chão
só por levantar
o que outro tinha deixado cair

desde esse dia
não deixo de pensar
que a experiência da salvação
é um ato para poucos



31 outubro 2019

danielle madrid-malone


Al nombrar las afueras de una urbanización familiar clase-media,
los solares se hacen bosques.
En los bosques de goteo pasan cosas terribles,
justo en la maraña de carteles de se vende, se vende parcela, se vende parcela para 4 inmuebles.

Este es el principio del relato,
el momento en que los músicos
guardan sus peines y se miran.

He ahí la prueba.

¿Ves ese árbol?
Queda la guirnalda de un muchacho, el holograma que cuelga.

(La brisa y los elementos naturales no guardan decoro, en general)

En la escritura
los ahorcaditos
son versos de cabo roto.

¿Cuál era la melodía inicial?
Ya sé, ya sé: la mujer pasa y se le agrieta la frente.


Ao nomear os subúrbios de uma urbanização familiar classe-média
As clareiras tornam-se florestas.

Nos bosques de gotejamento passam-se coisas terríveis,
precisamente no emaranhado de cartazes de venda, vende-se parcela, vende-se parcela para 4 imóveis.

Este é o princípio da narrativa
o momento em que os músicos
recolhem os seus pentes e se olham.

Está aqui a prova

Estás a ver esta árvore ?
Resta a coroa de flores de um rapaz, o holograma pendurado.

(A brisa e os elementos naturais não têm decoro, geralmente)

Na escritura
os enforcados são versos de corda partida.

Qual era a melodia inicial ?
Já sei, já sei : a mulher passa




28 outubro 2019

diana garza islas



21

En cada caja están sus órganos. Hay piedras a las que les basta su raíz. Hay los fotogramas extraídos, hay la serenidad. La palabra invertida, de su serenidad. Hay una cinta para medir el panorama. Es amarilla, como el lugar donde imaginé, y logramos hallar, pequeñas agujas óseas. La bala al fondo. A la orilla, su mirada ardiéndome, el cráneo superpuesto al cariz.

El melancólico esposo desde las alturas. Ásperas bolitas a la izquierda. Y todas las cosas que aquí no digo porque ya son.

Brillos nacarados del mismo color de lo que crece, y crees ver: escalas puntiagudas en el perímetro nacido de la lengua. Un cuerno extraviado corona y mira, mucho más allá, las rendijas bajo los cielos. La palabra Brandemburgo brilla, encaramada en una lámina fotogénica, otra vez desde el bosque. O es algo más doméstico, incluso pornográfico.

Finalmente, las manos huesudas y olvidadas de papá, a las que nunca les gustó la sombra.

[El reflector redondo del dentista sugerirá nuevas sospechas de ello.]


21

Em cada caixa estão os seus órgãos. Há pedras para as quais é suficiente a sua raiz. Há os fotogramas extraídos, há a serenidade. A palavra invertida, da sua serenidade. Há uma fita para medir o panorama. É amarela, como o lugar que imaginei, e conseguimos encontrar, pequenas agulhas ósseas. A bala ao fundo. Na margem, ardendo, o crânio sobreposto à matiz.

O melancólico marido das alturas. Ásperas bolinhas à esquerda. E todas as coisas que aqui não digo porque já o são.

Brilhos nacarados pela mesma dor do que cresce, e acreditas ver : escalas pontiagudas no perímetro nascido da língua. Um corno extraviado coroa e olha, muito mais além, os buraquinhos sob o céu. A palavra Brandemburgo brilha empoleirada numa lâmina fotogénica, outra vez desde o bosque. Ou é coisa mais doméstica, mesmo pornográfica.

Finalmente, as mãos ossudas e esquecidas do papá que nunca gostaram da sombra.

[O holofote redondo do dentista sugerirá novas suspeitas de tal.]

25 outubro 2019

elisa biagini


Lasciati un seme in mano
che ti cresca di vene, che
sopravviva al buio:

ti rifaccia
il dito che hai
tagliato per ogni
tuo morto. //

(Clonata dalle orecchie
nuovamente su piazza)


Guarda uma semente na mão
que cresça veia em ti e
sobreviva ao escuro:

e restaure
o dedo que cortaste
por cada um
dos teus mortos

(Clonada das orelhas
novamente na praça).

22 outubro 2019

edith södergran


Nordisk Var

Alla mina luftslott ha smultit som snö,
alla mina drömmar ha runnit som vatten,
av allt vad jag älskat har jag endast kvar
en blå himmel och några bleka stjärnor.
Vinden rör sig sakta mellan träden.
Tomheten vilar. Vattnet är tyst.
Den gamla granen står vaken och tänker
på det vita molnet, han i drömmen kysst.

Primavera Nórdica

Todos os meus castelos de ar derreteram assim neve,
todos os meus sonhos escorreram assim água,
de tudo o que amei só me resta
um céu azul e um punhado de estrelas pálidas.
O vento lambrisca lentamente entre as árvores.
O vazio estaciona. A água cala.
O velho abeto segue acordado a pensar
na nuvem auroral que beijou em sonho.



19 outubro 2019

gaia ginevra giorgi


avevo il respiro ingrossato
spezzato
mentre risalivamo il sentiero
di pini odorosi
tra il bosco e l’ombra
che seguiva
il tuo passo di guerriero
- di fuggiasco

ogni pausa
s’imprimeva
nel limo dolce
come nella memoria
(cristallizzate le viole e
ogni gemito)

tra il sudore - il sale
ed il sole
tra l’incanto
e la disperazione

con la schiena
spenta nel fango
e con la bocca
calda e bagnata
spalancata al cielo
ispido d’estate

pregavo che la crosta del monte
cedesse al mio peso
e mi trattenesse
da lì a sempre

ma tu avevi la quiete dei vetri
in testa la quiete
che sale dopo un gran

piangere

Estava minha anima inchada
estilhaçada
enquanto subíamos a senda
de pinheiros aromáticos
entre bosques e sombras
seguindo
o teu andar guerreiro assim
-fugitivo

Cada pausa
impressa em si mesma
em lodo doce
como em memória
(violetas e todo o soluço,
cristalizado)

entre o suor, o sal
e o sol
entre maravilha
e desespero

as costas
na lama
e a boca
quente e húmida
aberta ao sol
picante com o verão

Oracionei para que a crosta da montanha
se rendesse ao meu peso
e me abraçasse
desde aqui até sempre
mas tinhas a quietude do vidro
quietude na sua cabeça
que irrompe
depois de um choro pesado

16 outubro 2019

alice massénat



D’une vipère aux salaces de ma fièvre
s’éclipsait ce lugubre épars
le rire fou était fidèle
noir
La cornée vagabondant jusqu’aux fracas
d’un qui outre-vitrail
Le sang se cristallisa, l’apocalypse n’était plus qu’un rat
et dans mon pétoncle furibard
l’étal vibrait de son écrin aux plumes d’acier

Le tranchant était là
ma haine ne fit que croître
qui de l’absence ou du paraître l’emporterait

Crier
hurler mes ongles aux parois de fortune
le corps bouffé d’heurs
à dire le vrai je n’étais qu’une vulgaire écharde
qu’on recouvre d’un drap de suif
et parmi ces échancrures
le tu s’éloigne à outrecuidance

Taillader mes veines aux pirogues
éclater d’ici au beffroi
impassible
ne crachant plus rien d’autre qu’un feu iconoclaste

Le cerveau se meurt
et je pars plus loin
aux écarts de l’autre


De uma víbora promiscua da minha febre
esgueirava-se este lúgubre esparso
o riso louco estava fiel
negro
A córnea vagabundeando até aos estrondos
de um quem além-vitral
O sangue cristalizou-se, o apocalipse não passava de um rato
e no meu escalope furibundo
a tábua vibrava na sua caixa com penas de aço

O talhante estava lá
o meu ódio só pôde acreditar
quem da ausência ou do parecer prevaleceria

Gritar
uivar as minhas unhas às paredes da fortuna
o corpo lufa horas
para dizer a verdade eu não passava de um vulgar estilhaço
que se tapa com um lençol de sebo
e entre essas incisões
o calado afasta-se da ousadia

Retalhar as minhas veias nas pirogas
rebentar daqui à torre
impassível
cuspindo unicamente um fogo iconoclasta

O cérebro morre
vou mais longe
às discrepâncias do outro.


13 outubro 2019

cleofé campuzano


Distancia entre piedras

I
Con el quejido que hay aquí,
con la arena que medra
el pozo de las cosas.

Llámame desde la pared afilada,
desde la aguja oculta de la sal.
Deja ir mi mano. De la sombra,
el sol difunto.

Llámame desde el instante
indispensable del dolor,
desde el recuerdo de las suertes
perdidas en olvido natal.

II
Dos pendientes versadas
hacia el pronunciamiento
del ático ingrávido, habitan, hablan.

De todo cuanto queda: viejo, nuevo,
enigmático: piedra.


Distância entre pedras

I
Com o queixume aqui solto,
com a areia que difunde
o poço das coisas.

Chama-me a partir da parede aguçada
a partir da agulha oculta do sal.
Deixa ir a minha mão. Da sombra,
o sol defunto

Chama-me a partir do instante
indispensável da dor,
a partir da lembrança das sortes
perdidas em esquecimento natal.

II
Dois declives versados
para a declaração
do sótão sem peso, habitam, falam.

De tudo o que fica: velho, novo,
enigmático: pedra.


10 outubro 2019

pola gómez codina


Guarania

Mi padre guaraní tocaba el arpa
y cantaba como un canario blanco
venía de la selva, ese lugar
donde viven los cantos
era el hombre pequeño que podía
convertirse en un ave, mi madre
hija de un cocinero de barco, mascador de tabaco
que se mecía para arrojar especias
en las ollas
vino de Paraguay soltando carambolas
rambutanes
papayas
esas frutas extrañas
que no crecen en árboles
de Merlo Gómez
Los dos tenían frío, siempre
frío: _ro´y, ro´ yitepá, ro´yeteikó
rezaban
un idioma secreto que no me compartían
el sonido dulzón como sopa
eterei, purahéi, cuñataí
les dije un día para sorprenderlos.
Me miraron con miedo, pellizcaron
mis brazos de choguí, me dijeron
No hables nunca más
en guaraní


Guarânia

O meu pai guarani tocava harpa
e cantava como um canário branco
vinha da selva, esse lugar
onde vivem os cantos
era o homem pequeno que podia
converter-se em pássaro, a minha mãe
filha de um cozinheiro de barco, mascador de tabaco
que se balançava para atirar especiarias
às ondas
veio do Paraguai soltando carambolas
rambutãs
papaias
essas frutas esquisitas
que não crescem em árvores
de Merlo Gómez
Ambos tinham frio, sempre
frío: _ro´y, ro´ yitepá, ro´yeteikó
rezavam
um idioma secreto que não partilhavam comigo
o som adocicado como sopa
eterei, purahéi, cuñataí
disse-lhes um dia para os surpreender.
Olharam-me com medo, beliscaram
meus braços de sanhaço-cinzento, disseram-me
Nunca mais fales
em guarani



07 outubro 2019

cruz alejandra lucas juárez


Extravíos

Se me extravió el miedo
y mi boca descosió su silencio,
cuando hallé a mi muerto
que también es tu muerto,
muerto del pueblo.

Se me extravió el silencio
y mi llanto deshiló el miedo remendado.


Deslocações

Perdi o medo
e a minha boca descoseu o seu silêncio
quando encontrei o meu morto
que também é o teu morto
morto do povo

Desloquei o silêncio
e o meu choro desfez o medo remendado.


04 outubro 2019

mónika herceg


elle était couchée toute poussiéreuse
vieux mobilier vermoulu
d'une maison rénovée
sans nous reconnaître
et en quelques semaines
elle a fondu comme neige
nous aurions pu la porter dans nos bras
tout autour de la Terre
si légère presque de laine
mais nous avons attendu qu'elle s'écoule
comme la sève des fleurs de sureau
craignant la mort qui ronge l'intérieur
assez lentement pour passer inaperçue

début février
ma mère a trouvé dans son lit
un œil gelé un seul
l'autre a dû être mangé par le chat
elle l'a laissé pousser et devenir
tout un buisson de jasmin

( tradução do croata para francês : martina kramer)

estava deitada toda coberta de pó
velha mobília carcomida
de uma casa restaurada
sem nos reconhecer
e em poucas semanas
derreteu como neve
teríamos podido levá-la nos braços
à volta da Terra
tão leve quase de lã
mas aguardámos que ela fluísse
como a seiva das flores de sabugueiro
temendo a morte que corrói o interior
bastante devagar para passar despercebida

início de fevereiro
a minha mãe encontrou na sua cama
um olho gelado apenas um
o outro deve ter sido comido pelo gato
ela deixou-o crescer e tornar-se
inteiramente um arbusto de jasmim



regardant pendant des semaines les avions passer
mon frère pensait que les chats pouvaient voler aussi
il les lançait le plus haut possible
et courait voir maman en criant
regarde il vole
ils atterrissaient toujours sur leurs pattes
juste une fois le vieux Miki
tomba accidentellement à plat ventre
sur le bord d'une souche

quelques jours plus tard
au seuil de la maison nous attendait
son corps au poil gris sans vie
avec cette même dignité
que les souris mortes
qu'il apportait
devant la porte


vendo durante semanas os aviões passar
o meu irmão pensava que os gatos também podiam voar
atirava-os o mais alto possível
e corria para a mãe a gritar
olha ele voa
eles aterravam sempre com as patas
só uma vez o velho Miki
caiu acidentalmente estatelado
na ponta de um tronco

alguns dias mais tarde
à porta da nossa casa esperava-nos
o seu corpo de pêlo cinzento sem vida
com essa mesma dignidade
dos ratos mortos
que ele punha
em frente à porta

01 outubro 2019

greta montero


Crecimiento

No hay razones para creer
que la del otro cuarto
se haya tragado a su bebé

Aquel pensamiento
parece más bien
telekinesis
o una prueba de ingenio
sacada de una revista
de mujeres

El huevo o la gallina
puedo leer
el punto G o el jarabe
para la tos

Quién sabe si mañana
alguien
quién sabe quién
te soplará
al oído alguna mala
palabra

Cuando se haga la luz
podrás seguir acá
sentada
escuchando
ladrar a los perros

Aquella beba
o la mujer años después
habrán decidido
desmaquillarse
con sus toallitas
húmedas
con esencia de frutas

No me puede resultar
extraño entonces
apenas advertir
mientras me duermo
cómo han crecido
mis pezones
y se me empieza
a alargar la piel

Crescimento

Não há motivos para acreditar
que a do outro quarto
tenha comido o seu bebé

Tal pensamento
antes parece
telecinesia
ou um teste de engenho
tirado de uma revista
de mulheres

O ovo ou a galinha
leio
o ponto G ou o xarope
para a tosse

Quem sabe se amanhã
alguém
sabe-se lá quem
te virá soprar
ao ouvido uma má
palavra

Quando se fizer luz
poderás continuar aqui
sentada
ouvindo
os cães a ladrar

Aquela bebé
ou a mulher anos depois
terão decidido
desmaquilhar-se
com as suas toalhinhas
húmidas
com essência de frutas

Assim tal não me é
estranho
apenas advertir
enquanto durmo
como cresceram
os meus mamilos
e a minha pele
se começa
a esticar