20 janeiro 2020

enzia verduchi


Tabla periódica

Au 79

Cinco soles no son suficientes para esta mañana
ni un campo de girasoles, todo cegará
el despertar de la vanidad.

Pb 82

Cae a plomo, gris y dúctil,
blando en el agua, en la sangre,
inhalar-exhalar, sobrevivir
a la edad del plomo.

Xe 54

Extranjero, sílabas brotan
inodoras y desteñidas
en una lengua ajena.

Nada echa raíz en el aire,
en un idioma insípido
donde el árbol no es memoria.

Extraviado, soy el hijo que no tuve
y su nombre crece en esta eternidad.

Ca 20

Mi madre empezó a perder los dientes
con el tercer crío, con los años
se desgastaron los engranajes.
Las falanges de las manos
eran un ramillete poroso y quebradizo;
se protegía de golpes y caídas
como quien cuida de un caballito
de cristal en la repisa.
Nadie como ella supo tanto
de las bondades de un vaso de leche.

Tabela periódica

Au 79

Cinco sóis não são suficientes para esta manhã
nem um campo de girassóis, tudo cegará
o acordar da vaidade.


Pb 82

Cai em chumbo, cinza e dúctil,
brando na água, no sangue,
inalar-exalar, sobreviver
à idade do chumbo.

Xe 54

Estrangeiro, sílabas brotam
inodoras e desbotadas
numa língua alheia.

Nada deita raiz no ar
num idioma insípido
onde a árvore não é memória.

Extraviado, sou o filho que não tive
e o seu nome cresce nesta eternidade.

Ca 20

A minha mãe começou a perder os dentes
ao terceiro filho, com os anos
desgastaram-se as engrenagens.
As falanges das mãos
eram um ramalhete poroso e quebradiço;
protegia-se de encontrões e quedas
como quem cuida de um cavalinho
de vidro na prateleira.
Ninguém como ela soube tanto
das bondades de um copo de leite.


17 janeiro 2020

delfina tiscornia


Mientras Otros

Mientras otros se reparten
las flores y los truenos
yo quisiera llorar
y ser el fuego

el júbilo intacto de una mañana fría
el gajo desnudo
que se ofrece
cuando ya no queda nada

Quisiera ser
la piedra silenciosa
arrojada al camino

la roja dentellada de una muerte
cualquiera
la pupila roedora del amor
y el olvido

Quisiera irme despacio,
sin despertar a nadie
para apurar mi copa de veneno

Para abrevar en las noches de espinas quietas
la oscuridad de voces
que siempre me espera


Enquanto outros

Enquanto outros trocam
flores e tronos
eu queria chorar
e ser o fogo

o júbilo intacto de uma manhã fria
um gomo nu
que se oferece
quando já não resta nada

Queria ser
a pedra silenciosa
lançada ao caminho

o vermelho denteado de uma morte
qualquer
a pupila roedora do amor
e o esquecimento

Queria ir-me devagar
sem despertar ninguém
para apressar o meu copo de veneno

Para bebericar nas noites de espinhos
a escuridão de vozes
que sempre me espera



14 janeiro 2020

carmen bruna


Noche de Walpurgis o noche de san juan

Oye la risa ebria de las brujas
ve sus fuegos crepitar en los bosques
contempla la miel caníbal de sus ojos
no te arrodilles
bebe sus pócimas
ve cómo las libélulas se suicidan
arrojándose a sus calderos
danza con ellas
en el círculo mágico
contémplate en el espejo negro
feroz, transfigurada,

inocente.


Noite de Walpurgis ou noite de são joão

Ouve os risos ébrios das bruxas
olha os seus fogos a crepitar nos bosques
contempla o mel canibal dos seus olhos
não te ajoelhes
bebe as suas poções
vê como as libélulas se suicidam
atirando-se aos seus caldeirões
dança com elas
no círculo mágico
mira-te no espelho negro
feroz, transfigurada,

inocente.

11 janeiro 2020

valeria pariso


Del desierto al poema
los pasos son de viento, de sed.
Podría aparecer una flor roja.

Que tu mano me lleve
al lugar de la duda.


Do deserto ao poema
os passos são de vento, de sede.
Podia aparecer uma flor vermelha.

Que a tua mão me leve
ao lugar da dúvida.


08 janeiro 2020

shara mcCallum


No Ruined Stone

When the dead return
they will come to you in dream
and in waking, will be the bird
knocking, knocking against glass, seeking
a way in, will masquerade
as the wind, its voice made audible
by the tongues of leaves, greedily
lapping, as the waves’ self-made fugue
is a turning and returning, the dead
will not then nor ever again
desert you, their unrest
will be the coat cloaking you,
the farther you journey
from them the more
that distance will maw in you,
time and place gulching
when the dead return to demand
accounting, wanting
and wanting and wanting
everything you have to give and nothing
will quench or unhunger them
as they take all you make as offering.
Then tell you to begin again.


Sem pedra arruinada

Quando regressarem os mortos,
incorporar-se-ão nos teus sonhos
e no acordado, serão o pássaro
a bicar e bicar contra o vidro, à procura
de uma entrada, virão com máscara
de vento, soltando vozes audíveis nas
línguas das folhas, em ganância
beijando, como a fuga propulsionada pelas ondas
é um ir e vir, os mortos
não te abandonarão, nem agora
nem nunca, a sua inquietação
será a tua manta de proteção,
quanto mais longe deles viajares
com maior sanha essa distância te espetará
os dentes, tempo e espaço feitos barranco
quando regressarem os mortos pedindo
que lhes prestem contas, querendo
e querendo e querendo
tudo o que tiveres para dar e nada
lhes saciará a sede ou a fome,
pois adquirem tudo o que fazes como oferenda.
E nessa altura dizem-te: começa de novo



05 janeiro 2020

carole carcillo mesrobian


Comme une ferraille
Comme un reflux déterminé
Inquisiteur
Comme un cachot déverrouillé dans lequel tu perdures
Tel à revers des médailles
L’écoulement de la durée se porte dru
A dresse-flanc et comme

Como uma sucata
Como um refluxo determinado
Inquisidor
Como uma masmorra escancarada onde perduras
Tal ao inverso das medalhas
O fluxo da duração vai na densura
Do lado para baixo e como


02 janeiro 2020

olivia elias


Pour les enfants de palestine

Ils sortent des vases et des bas-reliefs antiques
prennent leur élan et s’élancent
Une douleur lancinante les tient éveillés
au creux de la nuit et lorsqu’il s’assoupissent
ils rêvent d’une vie en pleine lumière
Mais chaque aube apporte
la trahison des promesses
Peut-on conquérir l’Eden par le glaive et le feu ?
Dans la main des enfants
les pierres de la colère disent le refus
Et s’il ne restait aucune pierre
les enfants de Palestine souffleraient
dans leurs mains jusqu’à ce que les vents
du désert se lèvent et emportent l’édifice
construit sur le mépris sanglant


Para as crianças da Palestina

Saem dos vasos e dos baixos-relevos antergos
internam a sua pulsão e lançam-se
Uma dor lancinante mantém-os despertos
no miolo da noite e quando adormecem
sonham com uma vida de luz plena
Mas toda a aurora aconchega
a traição das promessas
Poder-se-á conquistar o Éden pela espada e pelo fogo?
Na mãos das crianças
as pedras da cólera declaram a recusa
E se não houvesse nenhuma pedra
as crianças da Palestina soprariam
nas suas mãos até que os ventos
do deserto se levantassem e levassem consigo o edifício
construído sobre o desprezo sangrento


30 dezembro 2019

hester knibbe


Een vader

Beland op zoiets als een eiland alleen
zoekt ze zich iemand. Neemt dan

bijvoorbeeld de man die van zee komt,
ontvangt en bedient hem en als hij dan

gaat, richt ze een hier voor hem in voor
als hij terugkeert, als ze weer wil. Wachten

maakt deel van haar lijf uit voortaan en
denken hoe was hij, wier aan zijn voeten
in zijn handen een net - Hij is het! Zo

worden goden gevonden door vrouwen, zij
bouwen een altaar, brengen hun zonen,
dochters erheen en zeggen: je vader.


Um pai

Falhando sozinha numa espécie de ilha
ela procura qualquer um. Como
por exemplo o homem que vem do mar,
recebe-o e serve-o e quando ele se vai
embora, ela arranja-lhe um lugar aqui para
quando ele voltar caso ela o volte a colher. Esperar
a partir de agora faz parte do seu corpo e pensar
como era ele, algas nos pés,
uma rede nas mãos – É ele! Assim
são as mulheres que encontram os deuses, elas
constroem um altar onde levam os seus filhos,
as suas filhas e dizem : o teu pai.

27 dezembro 2019

kris vallejo


Hotel de terciopelo

Oigo los vestidos tibios que tintinean al tocarse
asidos al peso de un pulmón

El alegre paso de las llaves por la lengua de mi alfombra
un laberinto en las manos del vértigo

Me pagan por abrir ventanas en paisajes sumergidos
y enterrar cadáveres que amenazan con volver

En el ático escondo tormentas
y la palabra gastada de hombres crueles

Aquí se paga con profecías
todo permanece en la humedad de mis cerrojos

¡Fíjate cómo sangra esta noche sin orillas!
¿acaso no sientes pena por mi respiración?
¿por mis orígenes de cantera y mineral?

A mí me pagan por recordar
las sábanas mudas los huesos negros
la curva de un pecho en el espejo
y el final de tantos caminos

Toda mi vida se resume
en un cementerio de tigres sin memoria

Hotel de veludo

Ouço os vestidos tépidos que estalam ao toque
colados ao peso de um pulmão

O alegre passar das chaves pela língua do meu tapete
um labirinto nas mãos da vertigem

Pagam-me para abrir janelas em paisagens submersas
e enterrar cadáveres que ameaçam voltar

No sótão escondo tormentas
e a palavra gasta de homens cruéis

Aqui paga-se com profecias
tudo permanece na humidade do meu trinco

Vê como sangra esta noite sem margens!
Não tens pena do meu respirar?
Das minhas origens de pedreira e mineral?

A mim pagam-me para recordar
os lençóis mudos os ossos negros
a curva de um peito no espelho
e o final de tantos caminhos

Toda a minha vida se resume
a um cemitério de tigres sem memória

24 dezembro 2019

vera brittain


Perhaps

Perhaps some day the sun will shine again,
And I shall see that still the skies are blue,
And feel once more I do not live in vain,
Although bereft of You.

Perhaps the golden meadows at my feet
Will make the sunny hours of spring seem gay,
And I shall find the white May-blossoms sweet,
Though You have passed away.

Perhaps the summer woods will shimmer bright,
And crimson roses once again be fair,
And autumn harvest fields a rich delight,
Although You are not there.

Perhaps some day I shall not shrink in pain
To see the passing of the dying year,
And listen to Christmas songs again,
Although You cannot hear.'

But though kind Time may many joys renew,
There is one greatest joy I shall not know
Again, because my heart for loss of You
Was broken, long ago.


Talvez

Quem sabe? Volte o sol ao brilho
e possa enxergar serem os céus ainda azuis
e vivenciar de novo que não vivo no vão
embora esteja de ti em carência.

Talvez as pradarias em dourado
estourem as horas solares da primavera
e sinta o aroma doce da abertura das flores
mesmo que de mim te tenhas apartado.

Talvez o bosque de verão resplandeça
e as vermelhas rosas voltem a ser justas
e a colheita dos campos outurnos seja uma extraordinária delícia
Mesmo não estando tu ali.

Talvez um dia não seja vencida pela pena
na factualidade do transpasse do ano
ouvindo de novo as cantigas natalícias
que nunca poderás escutar.

21 dezembro 2019

marta cwielong


Un cuerpo herido confía
distingue en ciertos casos
el balbuceo
que se asemeja a la palabra
o al mamey maduro
justo para rasgar con los dedos,
llevarlo a la boca en migajas,
trozos disueltos
en el ejercicio de la lengua
que no pregunta
solo clama

Um corpo ferido confia
distingue em certos casos
o balbuceio
que se assemelha à palavra
ou ao mameluco maduro
precisamente para o rasgar com os dedos
levá-los à boca em migalhas
pedaços dissolvidos
no exercício da língua
que não pergunta
só clama.



18 dezembro 2019

rita pacilio


Bisogna distendersi fronte a terra e annusare
l’esalazione dell’esistenza intera
poi metterci di lato per dissotterrare l’infinito
quel paesaggio troncato nel pendio
addentarne la caduta.
Bisogna fissare l’ago della bilancia
la luce dei papaveri allungata contro l’oscurità
imparando a trattenere il mondo
sotto le scarpe.


Temos que nos deitar no chão e sentir o cheiro
da exalação da existência toda
depois por-mo-nos de lado para desenterrar o infinito
essa paisagem truncada na encosta
paisagem infinita e truncada na encosta e
morder a queda.
Precisamos fixar a agulha da balança
a luz das papoilas estendida contra a escuridão
aprendendo a suster o mundo
na sola dos sapatos.


15 dezembro 2019

mai văn phấn


1
Lời con dê

Hãy mở chuồng
Buông dao thớt
Để tôi về núi

1
Palavras de uma cabra

Abram a porta
larguem as facas
e deixem-me voltar à montanha


12 dezembro 2019

carla chinski




Mi madre no está muerta pero
su muerte me lleva
a un estado poético,
como si tuviera
espadas en vez de brazos
con los que luchar por ella.
Estoy maravillada
por el espectáculo de su cuerpo.
Me hace entrar en un ensueño:
estoy atenta a todas las cosas,
cada acción parece encadenarse
a la siguiente con la paciencia
de la línea en un verso nuevo.
Tengo la tentación
de verla con otros ojos,
no son los de una hija
sino de aquel que ama,
completamente desolados
y a la vez innecesarios.
Me asombro
por lo que puede hacer,
sabiendo que ella
florecida de vendas,
pronto acabará.
Caerán las bombas
sobre su bosque
construido de familia.
Mi compasión por ella
está atada a la sangre,
y eso es demasiado poco.
Pero si me acerco
puedo oír que a través suyo
murmura la muerte
en su propio estado poético:
solo entonces
escribiremos juntas.


A minha mãe não está morta mas
a sua morte leva-me
a um estado poético,
como se tivesse
espadas em vez de braços
para lutar por ela.
Estou maravilhada
com o espetáculo do seu corpo.
Faz-me entrar num sonho:
estou atenta a todas as coisas,
toda a ação parece encadear-se
à seguinte com a paciência
da linha num verso novo.
Tenho a tentação
de a ver com outros olhos
não são os de uma filha
antes de quem ama
completamente desolados
e ao mesmo tempo desnecessários.
Surpreendo-me
com o que pode fazer,
sabendo que ela
desabrochada de vendas,
rapidamente acabará.
Cairão as bombas
sobre o seu bosque
construído por família.
A minha compaixão por ela
está engajada ao sangue
e isso é demasiado pouco.
Mas se me aproximar
consigo ouvir que através de si
murmura a morte
no seu próprio estado poético:
só nessa altura
escreveremos juntas.


09 dezembro 2019

ana maría rivas


Mother

«Oh madre oscura, hiéreme
con diez cuchillos en el corazón»
P. Neruda

I
Madre: ¿has escuchado tu voz los últimos años?
¿Sabes acaso que has perdido
tu nombre
tu edad
y tus sueños?
Te cambiaron los ojos por dardos
los dedos por gusanos
y los pies por estacas.

Te llamo madre porque no sé decirte de otro modo.
No puedo llamarte mujer ni anciana ni monstruo.

El café desborda en la cocina
y te has quedado dormida frente al tele.
Han pasado siglos y tus huesos siguen habitando la sala,
la tierra en la boca, el veneno en tus párpados.

Madre, ¿dónde guardaste las píldoras del insomnio?
En estos días necesito
coserme los ojos y esperar la muerte.

Mother

«Oh mãe escura, atinge-me
com dez facadas no coração
P. Neruda

I
Mãe: Ouviste a tua voz nos últimos anos ?
Sabes por acaso que perdeste
o teu nome
a tua idade
e os teus sonhos?
Trocaram-te os olhos por dardos
os dedos por vermes
e os pés por estacas.

Chamo-te mãe porque não sei dizer-te de outro modo.
Não consigo chamar-te mulher nem anciã nem monstro.

O café transborda na cozinha
ficaste a dormir diante da televisão.
Passaram-se séculos e os teus ossos continuam a habitar a sala,
a terra na boca, o veneno nas tuas pálpebras.

Mãe, onde guardaste os comprimidos para dormir?
Nestes dias preciso
de coser os meus olhos e esperar a morte.



06 dezembro 2019

leyla patricia quintana


Mis días

Habito en el corazón de la chiltota,
las mañanas rocían las sonrisas del viento,
un desdentado viejo balbucea maldiciones
a la aurora porque le ha comido el sol.

Camino por los rincones más dolorosos de la humanidad.
Las serpientes mutilan sol a sol el canto del gorrión,
almuerzo soledades.

Ahogo mi sed en el silencio del llanto maternal
miseria en el vientre del pueblo encuentro.
Y finalmente me desnudo el alma
para dormir en estrepitosos sustos
de bombas y metrallas,
donde la noche se llena de lobos
y mitos de hombre, matan esperanzas.


Os meus dias

Habito no coração do pássaro vermelho
as manhãs lavam os sorrisos do vento
um velho desdentado balbucia maldições
contra a madrugada por lhe ter comido o sol.

Caminho pelas sendas mais dolorosas da humanidade.
As serpentes mutilam sol a sol o canto do pardal,
almoço solidão.

Afogo a minha sede no silêncio do pranto maternal
miséria no ventre do povo encontro.
E finalmente dispo a alma
para dormir em terríveis sustos
de bombas e metralhas
onde a noite se enche de lobos
e mitos de homem, matam esperanças.



03 dezembro 2019

jenny bernal


Selfie

Yo, que no tengo senos grandes
ni anchas caderas,
descubrí que el cuerpo es una avenida extranjera
por la que va cómodo el tiempo
y no requiere de grandes extensiones
para atrapar algunas estrellas,

precisa de una ruta clara por la que vayan sin extraviarse los caminantes

Al igual que todos tengo un disfraz
que se estremece ante el frío o el miedo
que se dora con el exceso de día.

Yo, que me tomo una foto cada tres meses
encontré que no tengo planos buenos ni aceptables
y no me importa,
pero tengo los ojos abiertos por si se quedan en las pupilas algunas historias
y así, si se fijan bien, tengo escrito en los ojos
algunas bellezas y tantas palabras enredadas
que atravesarlas también resulta un misterio.

Yo, que poco le creo a los estereotipos también parezco uno
cuando la vela apacigua la llama
y se refleja mi sombra en el espejo del mundo.

Selfie

Eu que não tenho seios grandes
nem ancas largas,
descobri que o corpo é uma avenida estrangeira
pela qual corre confortável o tempo
e não requer grandes extensões
para colher algumas estrelas,

precisa de uma rota clara por onde os caminhantes possam ir sem extravio

Tal como todos tenho um disfarce
que estremece perante o frio ou o medo
que grelha com o excesso de dia.

Eu que me retrato de três em três meses
dei conta que não tenho planos bons nem aceitáveis
e não quero saber,
mas tenho os olhos abertos caso se retenham nas pupilas algumas histórias
e assim, se se fixam bem, tenho escrito nos olhos
algumas belezas e muitas palavras enredadas
cujo atravessamento também resulta em mistério.

Eu, que pouco creio em estereótipos também pareço um
quando a vela apazigua a chama
e reflete a minha sombra no espelho do mundo.