02 janeiro 2020

olivia elias


Pour les enfants de palestine

Ils sortent des vases et des bas-reliefs antiques
prennent leur élan et s’élancent
Une douleur lancinante les tient éveillés
au creux de la nuit et lorsqu’il s’assoupissent
ils rêvent d’une vie en pleine lumière
Mais chaque aube apporte
la trahison des promesses
Peut-on conquérir l’Eden par le glaive et le feu ?
Dans la main des enfants
les pierres de la colère disent le refus
Et s’il ne restait aucune pierre
les enfants de Palestine souffleraient
dans leurs mains jusqu’à ce que les vents
du désert se lèvent et emportent l’édifice
construit sur le mépris sanglant


Para as crianças da Palestina

Saem dos vasos e dos baixos-relevos antergos
internam a sua pulsão e lançam-se
Uma dor lancinante mantém-os despertos
no miolo da noite e quando adormecem
sonham com uma vida de luz plena
Mas toda a aurora aconchega
a traição das promessas
Poder-se-á conquistar o Éden pela espada e pelo fogo?
Na mãos das crianças
as pedras da cólera declaram a recusa
E se não houvesse nenhuma pedra
as crianças da Palestina soprariam
nas suas mãos até que os ventos
do deserto se levantassem e levassem consigo o edifício
construído sobre o desprezo sangrento


30 dezembro 2019

hester knibbe


Een vader

Beland op zoiets als een eiland alleen
zoekt ze zich iemand. Neemt dan

bijvoorbeeld de man die van zee komt,
ontvangt en bedient hem en als hij dan

gaat, richt ze een hier voor hem in voor
als hij terugkeert, als ze weer wil. Wachten

maakt deel van haar lijf uit voortaan en
denken hoe was hij, wier aan zijn voeten
in zijn handen een net - Hij is het! Zo

worden goden gevonden door vrouwen, zij
bouwen een altaar, brengen hun zonen,
dochters erheen en zeggen: je vader.


Um pai

Falhando sozinha numa espécie de ilha
ela procura qualquer um. Como
por exemplo o homem que vem do mar,
recebe-o e serve-o e quando ele se vai
embora, ela arranja-lhe um lugar aqui para
quando ele voltar caso ela o volte a colher. Esperar
a partir de agora faz parte do seu corpo e pensar
como era ele, algas nos pés,
uma rede nas mãos – É ele! Assim
são as mulheres que encontram os deuses, elas
constroem um altar onde levam os seus filhos,
as suas filhas e dizem : o teu pai.

27 dezembro 2019

kris vallejo


Hotel de terciopelo

Oigo los vestidos tibios que tintinean al tocarse
asidos al peso de un pulmón

El alegre paso de las llaves por la lengua de mi alfombra
un laberinto en las manos del vértigo

Me pagan por abrir ventanas en paisajes sumergidos
y enterrar cadáveres que amenazan con volver

En el ático escondo tormentas
y la palabra gastada de hombres crueles

Aquí se paga con profecías
todo permanece en la humedad de mis cerrojos

¡Fíjate cómo sangra esta noche sin orillas!
¿acaso no sientes pena por mi respiración?
¿por mis orígenes de cantera y mineral?

A mí me pagan por recordar
las sábanas mudas los huesos negros
la curva de un pecho en el espejo
y el final de tantos caminos

Toda mi vida se resume
en un cementerio de tigres sin memoria

Hotel de veludo

Ouço os vestidos tépidos que estalam ao toque
colados ao peso de um pulmão

O alegre passar das chaves pela língua do meu tapete
um labirinto nas mãos da vertigem

Pagam-me para abrir janelas em paisagens submersas
e enterrar cadáveres que ameaçam voltar

No sótão escondo tormentas
e a palavra gasta de homens cruéis

Aqui paga-se com profecias
tudo permanece na humidade do meu trinco

Vê como sangra esta noite sem margens!
Não tens pena do meu respirar?
Das minhas origens de pedreira e mineral?

A mim pagam-me para recordar
os lençóis mudos os ossos negros
a curva de um peito no espelho
e o final de tantos caminhos

Toda a minha vida se resume
a um cemitério de tigres sem memória

24 dezembro 2019

vera brittain


Perhaps

Perhaps some day the sun will shine again,
And I shall see that still the skies are blue,
And feel once more I do not live in vain,
Although bereft of You.

Perhaps the golden meadows at my feet
Will make the sunny hours of spring seem gay,
And I shall find the white May-blossoms sweet,
Though You have passed away.

Perhaps the summer woods will shimmer bright,
And crimson roses once again be fair,
And autumn harvest fields a rich delight,
Although You are not there.

Perhaps some day I shall not shrink in pain
To see the passing of the dying year,
And listen to Christmas songs again,
Although You cannot hear.'

But though kind Time may many joys renew,
There is one greatest joy I shall not know
Again, because my heart for loss of You
Was broken, long ago.


Talvez

Quem sabe? Volte o sol ao brilho
e possa enxergar serem os céus ainda azuis
e vivenciar de novo que não vivo no vão
embora esteja de ti em carência.

Talvez as pradarias em dourado
estourem as horas solares da primavera
e sinta o aroma doce da abertura das flores
mesmo que de mim te tenhas apartado.

Talvez o bosque de verão resplandeça
e as vermelhas rosas voltem a ser justas
e a colheita dos campos outurnos seja uma extraordinária delícia
Mesmo não estando tu ali.

Talvez um dia não seja vencida pela pena
na factualidade do transpasse do ano
ouvindo de novo as cantigas natalícias
que nunca poderás escutar.

21 dezembro 2019

marta cwielong


Un cuerpo herido confía
distingue en ciertos casos
el balbuceo
que se asemeja a la palabra
o al mamey maduro
justo para rasgar con los dedos,
llevarlo a la boca en migajas,
trozos disueltos
en el ejercicio de la lengua
que no pregunta
solo clama

Um corpo ferido confia
distingue em certos casos
o balbuceio
que se assemelha à palavra
ou ao mameluco maduro
precisamente para o rasgar com os dedos
levá-los à boca em migalhas
pedaços dissolvidos
no exercício da língua
que não pergunta
só clama.



18 dezembro 2019

rita pacilio


Bisogna distendersi fronte a terra e annusare
l’esalazione dell’esistenza intera
poi metterci di lato per dissotterrare l’infinito
quel paesaggio troncato nel pendio
addentarne la caduta.
Bisogna fissare l’ago della bilancia
la luce dei papaveri allungata contro l’oscurità
imparando a trattenere il mondo
sotto le scarpe.


Temos que nos deitar no chão e sentir o cheiro
da exalação da existência toda
depois por-mo-nos de lado para desenterrar o infinito
essa paisagem truncada na encosta
paisagem infinita e truncada na encosta e
morder a queda.
Precisamos fixar a agulha da balança
a luz das papoilas estendida contra a escuridão
aprendendo a suster o mundo
na sola dos sapatos.


15 dezembro 2019

mai văn phấn


1
Lời con dê

Hãy mở chuồng
Buông dao thớt
Để tôi về núi

1
Palavras de uma cabra

Abram a porta
larguem as facas
e deixem-me voltar à montanha


12 dezembro 2019

carla chinski




Mi madre no está muerta pero
su muerte me lleva
a un estado poético,
como si tuviera
espadas en vez de brazos
con los que luchar por ella.
Estoy maravillada
por el espectáculo de su cuerpo.
Me hace entrar en un ensueño:
estoy atenta a todas las cosas,
cada acción parece encadenarse
a la siguiente con la paciencia
de la línea en un verso nuevo.
Tengo la tentación
de verla con otros ojos,
no son los de una hija
sino de aquel que ama,
completamente desolados
y a la vez innecesarios.
Me asombro
por lo que puede hacer,
sabiendo que ella
florecida de vendas,
pronto acabará.
Caerán las bombas
sobre su bosque
construido de familia.
Mi compasión por ella
está atada a la sangre,
y eso es demasiado poco.
Pero si me acerco
puedo oír que a través suyo
murmura la muerte
en su propio estado poético:
solo entonces
escribiremos juntas.


A minha mãe não está morta mas
a sua morte leva-me
a um estado poético,
como se tivesse
espadas em vez de braços
para lutar por ela.
Estou maravilhada
com o espetáculo do seu corpo.
Faz-me entrar num sonho:
estou atenta a todas as coisas,
toda a ação parece encadear-se
à seguinte com a paciência
da linha num verso novo.
Tenho a tentação
de a ver com outros olhos
não são os de uma filha
antes de quem ama
completamente desolados
e ao mesmo tempo desnecessários.
Surpreendo-me
com o que pode fazer,
sabendo que ela
desabrochada de vendas,
rapidamente acabará.
Cairão as bombas
sobre o seu bosque
construído por família.
A minha compaixão por ela
está engajada ao sangue
e isso é demasiado pouco.
Mas se me aproximar
consigo ouvir que através de si
murmura a morte
no seu próprio estado poético:
só nessa altura
escreveremos juntas.


09 dezembro 2019

ana maría rivas


Mother

«Oh madre oscura, hiéreme
con diez cuchillos en el corazón»
P. Neruda

I
Madre: ¿has escuchado tu voz los últimos años?
¿Sabes acaso que has perdido
tu nombre
tu edad
y tus sueños?
Te cambiaron los ojos por dardos
los dedos por gusanos
y los pies por estacas.

Te llamo madre porque no sé decirte de otro modo.
No puedo llamarte mujer ni anciana ni monstruo.

El café desborda en la cocina
y te has quedado dormida frente al tele.
Han pasado siglos y tus huesos siguen habitando la sala,
la tierra en la boca, el veneno en tus párpados.

Madre, ¿dónde guardaste las píldoras del insomnio?
En estos días necesito
coserme los ojos y esperar la muerte.

Mother

«Oh mãe escura, atinge-me
com dez facadas no coração
P. Neruda

I
Mãe: Ouviste a tua voz nos últimos anos ?
Sabes por acaso que perdeste
o teu nome
a tua idade
e os teus sonhos?
Trocaram-te os olhos por dardos
os dedos por vermes
e os pés por estacas.

Chamo-te mãe porque não sei dizer-te de outro modo.
Não consigo chamar-te mulher nem anciã nem monstro.

O café transborda na cozinha
ficaste a dormir diante da televisão.
Passaram-se séculos e os teus ossos continuam a habitar a sala,
a terra na boca, o veneno nas tuas pálpebras.

Mãe, onde guardaste os comprimidos para dormir?
Nestes dias preciso
de coser os meus olhos e esperar a morte.



06 dezembro 2019

leyla patricia quintana


Mis días

Habito en el corazón de la chiltota,
las mañanas rocían las sonrisas del viento,
un desdentado viejo balbucea maldiciones
a la aurora porque le ha comido el sol.

Camino por los rincones más dolorosos de la humanidad.
Las serpientes mutilan sol a sol el canto del gorrión,
almuerzo soledades.

Ahogo mi sed en el silencio del llanto maternal
miseria en el vientre del pueblo encuentro.
Y finalmente me desnudo el alma
para dormir en estrepitosos sustos
de bombas y metrallas,
donde la noche se llena de lobos
y mitos de hombre, matan esperanzas.


Os meus dias

Habito no coração do pássaro vermelho
as manhãs lavam os sorrisos do vento
um velho desdentado balbucia maldições
contra a madrugada por lhe ter comido o sol.

Caminho pelas sendas mais dolorosas da humanidade.
As serpentes mutilam sol a sol o canto do pardal,
almoço solidão.

Afogo a minha sede no silêncio do pranto maternal
miséria no ventre do povo encontro.
E finalmente dispo a alma
para dormir em terríveis sustos
de bombas e metralhas
onde a noite se enche de lobos
e mitos de homem, matam esperanças.



03 dezembro 2019

jenny bernal


Selfie

Yo, que no tengo senos grandes
ni anchas caderas,
descubrí que el cuerpo es una avenida extranjera
por la que va cómodo el tiempo
y no requiere de grandes extensiones
para atrapar algunas estrellas,

precisa de una ruta clara por la que vayan sin extraviarse los caminantes

Al igual que todos tengo un disfraz
que se estremece ante el frío o el miedo
que se dora con el exceso de día.

Yo, que me tomo una foto cada tres meses
encontré que no tengo planos buenos ni aceptables
y no me importa,
pero tengo los ojos abiertos por si se quedan en las pupilas algunas historias
y así, si se fijan bien, tengo escrito en los ojos
algunas bellezas y tantas palabras enredadas
que atravesarlas también resulta un misterio.

Yo, que poco le creo a los estereotipos también parezco uno
cuando la vela apacigua la llama
y se refleja mi sombra en el espejo del mundo.

Selfie

Eu que não tenho seios grandes
nem ancas largas,
descobri que o corpo é uma avenida estrangeira
pela qual corre confortável o tempo
e não requer grandes extensões
para colher algumas estrelas,

precisa de uma rota clara por onde os caminhantes possam ir sem extravio

Tal como todos tenho um disfarce
que estremece perante o frio ou o medo
que grelha com o excesso de dia.

Eu que me retrato de três em três meses
dei conta que não tenho planos bons nem aceitáveis
e não quero saber,
mas tenho os olhos abertos caso se retenham nas pupilas algumas histórias
e assim, se se fixam bem, tenho escrito nos olhos
algumas belezas e muitas palavras enredadas
cujo atravessamento também resulta em mistério.

Eu, que pouco creio em estereótipos também pareço um
quando a vela apazigua a chama
e reflete a minha sombra no espelho do mundo.



30 novembro 2019

estefanía renderos


I
Prefacio

Nunca aprendí a guardar silencio
como tampoco a montar la bicicleta.

He perdido ya varios de mis dientes
y enredado alguna vez mi cabello con el amor de las hiedras.

Estoy frente a todos ustedes
que quieren verme de cara contra el cemento,
estoy contra todos ustedes
que han visto cómo he fracturado cada parte de mi cuerpo
pero que desconocen, cómo he cuidado el filo de mi lengua.

Hoy vengo a decir: todas las palabras que aprendieron a caminar,
a pedalear sobre sus pechos: las piedras que yo tuve en la cara.

I
Prefácio

Nunca aprendi a ficar calada
nem sequer a andar de bicicleta.

Já perdi muitos dos meus dentes
e algumas vezes armei os meus cabelos com o amor das heras.

Estou diante de todos vós
que querem ver-me de frente contra o cimento,
estou contra todos vós
que viram como fraturei cada parte do meu corpo
mas que desconhecem o modo como tratei o fio da minha língua.

Hoje venho dizer: todas as palavras que aprenderam a caminhar,
a pedalar sobre os seus peitos: as pedras que tive na cara.



27 novembro 2019

victoria colaj


Nuchapon oq’ej, chupan re jun ruwach’ulew re’ majunchik niseqer ta
Ruwäch ri ya man niq’alajin ta, yinoq’
Ri runaq’ awäch kan achi’el richin tz’ikin, xechup
Nuchapon oq’ej, ri ka’j chuqa janila ntoq’ rik’in b’is
Paruwi ri ponom ixim ninlukub’a jub’a ri nub’is
Nuchapon oq’ej, wakami ri kamik xukusaj ri a pay’aj, chuqa ri axajab’
Ninq’ab’arisaj ri wanima, chuqa xuweq ri’ ri tiqaq’ij ri niwär wi. Ri kamik, ayyy! kan achi’el jantape’

Nuchapon oq’ej

Estou a chorar, nesta terra deixou de amanhecer.
O rosto da água não se vê, estou a chorar.
Apagaram-se os teus olhos de pássaro cantor.
Estou a chorar, o céu triste também chora muito.
Em cima do milho torrado encosto um pouco a minha tristeza.
Estou a chorar hoje a morte como sempre pôs o teu chapéu e as tuas alpergatas.
Embriagou-me o coração e vestiu-se de entardecer adormecido. A morte, ai, sempre tão diminuta

Estou a chorar.

24 novembro 2019

julia magistratti


Las partes

Lleva una soga en la mano
y la soga lleva una vaca entristecida.
Todas las vacas del mundo están entristecidas.
Y si sucede la soga y la vaca,
también sucede el hombre, velado de un ojo,
cantado en la madrugada por los gallos.
El ojo que le falta soy yo que lo miro,
y todo mi cuerpo tiene presión de ojo, viaje de iris,
y me vuelvo absoluta
porque miro a un hombre, una soga y una vaca.
Siempre somos la parte que a otro le falta.
Alguien puede ser ahora las manos que he perdido;
mi mente soplada por vientos que también son de la tierra, pero que suceden adentro,
y mi corazón.
Alguien que tenga un músculo puede ser mi corazón
que me sobra y me falta;
que de madrugada, cuando los gallos cantan,
se abisma
y acontece lejos su abeja entre las flores.
Alguien puede tener lo que nos falta.
Yo tengo ahora un deseo demasiado grande
que se vuelve
hombre,
soga
y vaca entristecida.


As partes

Leva uma corda na mão
e a corda leva uma vaca entristecida
Todas as vacas do mundo estão entristecidas.
E se tal se passa com a corda e a vaca
também acontece com o homem, velado de um olho,
cantado na madrugada pelos galos.
O olho que lhe falta sou eu que o vejo
e todo o meu corpo tem pressão de olho, viagem de íris,
e torno-me absoluta
porque olho para um homem, uma corda e uma vaca.
Somos sempre a parte que ao outro falta.
Alguém pode ser agora as mãos que perdi;
a minha mente soprada por ventos que também são da terra mas acontecem dentro,
e o meu coração.
Alguém que tenha um músculo pode ser o meu coração
que me sobra e me falta
que de madrugada, quando os galos cantam,
se abisma
e passa longe a sua abelha entre as flores
Alguém pode ter o que nos falta.
Tenho agora um desejo demasiado grande
que se torna
homem,
corda
e vaca entristecida.

21 novembro 2019

agostina sulpizii


yo quiero ser una Amazona conurbana,
desnuda y llena de barro,
llevar una navaja entre los dientes.
quiero entregarme entera y devenir pantera,
ser la suciedad del barrio,
la flor mas delicada del jardín:
una dalia dorada.
quiero salir con todas las chicas,
beber de su saliva,
montarlas como yeguas.
quiero no salir jamás de mi cuarto,
no cruzar palabra,
enmudecer para volverme
el silencio del bosque,
el espíritu de una piedra.
quiero todo,
me realizo en cuadernos,
en el sonido de las teclas transcribiendo mi mensaje,
voy a explotar inflamada en perfume,
a prender un pucho
para incendiarme entera
y ser el humo dulce
que puedan respirar
en los patios del verano.

quero ser uma Amazona conurbana,
nua e cheia de lama,
andar com uma navalha nos dentes
quero entregar-me inteira e tornar-me pantera,
ser a imundície do bairro,
a flor mais delicada do jardim :
uma dália dourada,
quero sair com todas as miúdas,
tragar a sua saliva,
montá-las como éguas,
quero nunca sair do meu quarto,
não estar no paleio,
emudecer para me tornar
o silêncio do bosque,
o espírito de uma pedra,
quero tudo,
realizo-me em cadernos,
no som das teclas transcrevendo a minha mensagem,
vou explodir inflamada em perfume
acendendo um cigarro
para me incendiar inteira
e ser o fumo doce
que se possa respirar
nos pátios do verão.


18 novembro 2019

paola r. senseve t.


1
hace mucho que no hago nada, mamá
ningún movimiento muscular
o espásmico

soy un cúmulo de resistencia
rumiando un relámpago que no llega
esperándolo
para poder escribir
y rotar sobre mi propio eje genético

un segundo después de tu muerte, abuela,
nuestros cuerpos se van a tornar
en cristal

en plastilina sumergida en agua
o en el rigor de una espera
infectada por la impaciencia

hace meses que no hago nada, mamá
nada que te pueda inflar el pecho de orgullo

me he limitado a sacar la basura
en bolsas negras
a masticar carbohidratos
a imaginar qué haremos el día
en que el cuerpo de mi abuela
se desintegre en luz que
posteriormente se posará
con todo su peso

sobre nuestras narices


1
há muito que não faço nada, mãe
nenhum movimento muscular
o espasmódico

sou um cúmulo de resistência
ruminando um relâmpago que não deflagra
à sua espera
para conseguir escrever
e girar sobre o meu próprio eixo genético

um segundo após a tua morte, a,
os nossos corpos transformar-se-ão
em vidro

em plasticina imersa em água
ou no rigor de uma espera
infetada pela impaciência

há meses que não faço nada, mãe
nada que te possa inchar o peito de orgulho

limitei-me a meter o lixo
em sacos pretos
a mastigar hidratos de carbono
imaginando o que faremos no dia
em que o corpo da minha avó
se desintegre em luz que
posteriormente pousará
com todo o seu peso

em nosso redor aromático