Les mères sont trés faciles à tuer
(extrait)
donc je dormirai en veuve séparée et souffrante
j’allongerai mon corps sur la fraîcheur des draps et des soirs
je me souviendrai des comptines de Gabriel et j’aimerai à la
folie avec des fleurs
je ne serai qu’un souvenir de mère une lueur blanche qui
sent le lait et la peur
une participation amoureuse au monde futile et sourd
- par deux fois on m’a volé mon enfant par deux fois les lunes sont tombées des ciels et
les mémoires étaient flouées mais l’amour était mûr comme
une surprise –
avant les livres se lisaient au début de la nuit avec les
images gorgées de mots
on touchait la peau de l’enfant chaque jour on l’habillait on
le lavait on le nourrissait
la vie était évidente et simple elle acquiesçait à l’histoire de
la naissance elle arrondissait
les gestes premiers et accompagnait les pas fragiles et
confiants sur la terrasse en janvier –
lumière blanche et crue, chandail bleu et blanc tricoté par
l’arrière-grand-mère déjà morte -
avant les jours étaient remplis de significations obligatoires
et pleines
avant j’avais peu de temps pour pleurer
et les nuits étaient peuplées de cris - on gravitait en deçà du
langage –
on apprenait les mots et les réalités des mots – on établissait
des liens magiques –
avant j’étais essentielle
les arbres bruissaient avec certitude et les histoires avaient
une morale elliptique
les jardins abritaient de vieux cerisiers aux branches basses
et dans les herbes d’avril
le corps de l’enfant disparaissait de verdure riante – je
faisais, chaque année, la photo
près des fleurs blanches, juste avant l‘éclosion poisseuse et
verte des feuilles – les troncs
étaient noirs comme les nuits précieuses et pleines – on
dessinait une
famille confondue de solitude crue – on flirtait avec
l’immortalité et l’ombre des fruitiers
bienveillants, les cerises pointaient et l’enfant grandissait
sans le dire – on ne voyait pas
que les jardins sont mortels que le vieux cerisier était
malade que l’enfant partait
dans le peu à peu des jours que les paradis des villages sont
plus mensongers que l’aube fine
et que l’odeur sucrée du lait s’estompait – on rangeait des
jouets inutiles dans des
caisses, on remisait les vêtements trop petits et on s’adaptait
– les branches noires
du cerisier toutes tombées, le tronc éclaté envahi de ronces
– avant j’étais essentielle –
aucun enfant ne foule plus la jungle du jardin – je n’arrose
plus les plantes sacrées – nous
avons été chassés du paradis et le chiendent le dispute au
liseron et aux ronces – nous
ne faisons plus de tartes aux fruits cueillis d’été et
d’automne – l’enfant s’est évadé,
le jardin s’écroule, la porte de la maison est fermée à clef –
les granges se taisent et la
poussière assoit l’immobilité - je dormirai d’abandon, du
sommeil heurté des mères, et je
m’enfuirai
(..)
As mães são muito fáceis de matar
(extrato)
então dormirei como viúva separada e sofrida
alongarei o meu corpo sobre a frescura dos lençóis e das noites
lembrar-me-ei das rimas do Gabriel e amarei a
loucura com flores
serei apenas uma memória de mãe, uma luz branca a
sentir o leite e o medo
uma participação amorosa no mundo fútil e surdo
- por duas vezes me roubaram o meu filho por duas vezes as luas caíram dos céus e
as memórias estavam desfocadas mas o amor era maduro como
uma surpresa -
dantes os livros eram lidos no início da noite com as
imagens cheias de palavras
tocava-se na pele da criança todos os dias e vestíamo-la
lavávamo-la e alimentávamo-la
a vida era evidente e simples ela aquiesceu com a história de
o nascimento arredondado
os primeiros gestos e acompanhava os passos frágeis e
confiantes no terraço em janeiro -
luz branca e crua, camisola azul e branco de malha tricotado pela
bisavó já morta -
dantes os dias estavam preenchidos com notificações obrigatórias
e cheias
dantes tinha pouco tempo para chorar
e as noites eram cheias de gritos – gravitávamos abaixo da
linguagem -
aprendíamos as palavras e as realidades de palavras - estabelecíamos
ligações mágicas -
dantes eu era essencial
as árvores barulhavam com certeza e as histórias tinham
uma moral elíptica
os jardins abrigavam velhas cerejeiras com ramos baixos
e nas ervas de Abril
o corpo da criança desaparecia de verdes rindo - eu
fazia, todos os anos, a fotografia
perto das flores brancas, antes da eclosão pegajosa e
verde das folhas – os troncos
eram negros como as noites preciosas e cheias -
desenhava-se uma
família confusa de solidão crua – namoriscava-se com
a imortalidade e a sombra das fruteiras
benevolentes, as cerejas brilhavam e a criança crescia
sem dizer - não se via
que os jardins são mortais que a velha cerejeira estava
doente que a criança ia embora
no pouco a pouco dos dias que os paraísos das aldeias são
mais mentirosos do que a fina alvorada
e o cheiro açucarado do leite desaparecia - guardavam-se
brinquedos inúteis em
caixas, colocava-se a roupa demasiado pequena e adaptava-se
- os ramos negros
da cerejeira caída, o tronco rebentado invadido por amoras
- dantes eu era essencial -
já nenhuma criança pisa a selva do jardim - não rego
mais plantas sagradas - nós
fomos expulsos do céu e a relva disputa-o à
campainha e às sarças - nós
já não fazemos tortas de fruta colhidas no Verão, e
no outono - a criança evadiu-se,
o jardim derruba-se, a porta da casa está fechada à chave -
os celeiros calam-se e o
pó senta a imobilidade - dormirei de abandono, com
o sono entrecortado das mães, e
fugirei
(..)