20 março 2022

fiorella boucher

 

j’écris pour nourrir mon ventre vide du passé

le regard tendre que je n’ai pas eu

pour apprendre à coudre

les trous dans mon manteau d’hiver

à me repenser autrement qu’aux bordures

pour revenir à l’heure du constat de la mort

dans la prison aux barbelés

la mort des corps que personne ne pleure

tu sais

la mort des corps qui ne coûtent pas cher

 

 

Escrevo para alimentar o meu ventre vazio com o passado

o olhar terno que nunca tive

para aprender a costurar

os buracos no meu casaco de inverno

a repensar-me sem ser nas margens

para voltar à hora da constatação da morte

na prisão de arame farpado

a morte dos corpos que ninguém chora

bem sabes

a morte dos corpos que não são caros