07 abril 2020

odette alonso


Hormigas en el muro

La guerra empezó allí
tras la verja del patio de la abuela
en las tardes ardientes del verano.
Mezclábamos el alimento
escaso
en mesas que no tuvieron serpentinas
en copas que después ya nunca vimos.
Eran extrañas ciertas frutas en el trópico
hormigas en el muro sí
y lagartos verdecidos
lanzándonos preguntas sin respuesta.
Endeble como el recuerdo
humo y polvo se confunden.
En cuál esquina se agazapan los dolores
adónde el miedo.
Algo cruzó la mesa
una polilla acaso
un resplandor
tal vez la luz de aquel verano.


Formigas na parede

A guerra começou ali
atrás da cancela do pátio da avó
nas tardes ardentes do verão.
Misturávamos o alimento
escasso
em mesas que não tiveram serpentinas
em copos que depois não voltámos a ver.
Eram esquisitas algumas frutas no trópico
formigas na parede sim
e lagartos esverdeados
lançando-nos perguntas sem resposta.
Frágil como a lembrança
fumo e pó se confundem.
Em que esquina se agacham as dores
lugar do medo.
Qualquer coisa atravessou a mesa
uma mosca talvez
um esplendor
quem sabe a luz desse verão.


04 abril 2020

patricia garcía-rojo



cuando yo no sabía lo que era amor,
amaba.
y cuando no sabía lo que era penar,
esparcía lágrimas terribles
en las escaleras.
porque esgrimía
la fuerza invencible de la inexperiencia.
ojalá el yo sólo sé
que no nada fuera
impulso para crear y no parálisis
de la conciencia.


Quando eu não sabia o que era amor,
amava.
e quando não sabia o que era penar,
espargia lágrimas terríveis
nas escadas.
porque esgrimia
a força invencível da inexperiência.
oxalá o eu só sei
que nada sei fosse
impulso para criar e não paralisia
da consciência


01 abril 2020

kim jensen


To have loved

To have wanted the whole fruit
and to have received such a thin slice.
To have nursed two orphans on my chest
nourished their flesh to fullness
and still
the milk streaming forth
as if from an endless wound.

To have thrown the grenade
and watched it roll
as if wasn’t me
who’d thrown it at all.
The shadow of my hand
in the quiet of my lap. The unreadable
stations of my poems.

To have tossed the grenade and watched it
changing positions. There
on the marble steps. Now
tumbling across the courtyard.
Now, turning of its own accord
and rolling
toward me.


Ter Amado

Ter querido a fruta toda
e ter recebido um naco tão fino.
Ter amamentado dois órfãos com o peito
nutriu as suas carnes em pleno
e mesmo assim
o leite flui
como de uma ferida interminável.

Ter lançado uma granada
e tê-la visto rolar
como se não tivesse sido eu
quem a tivesse lançado.
A sombra da minha mão
na quietude do regaço. As estações
ilegíveis dos meus poemas.

Ter abanado a granada e vê-la
mudar de posição. Ali
nos degraus de mármore. Agora
cai no pátio.
Agora, gira por si própria
e rola
até mim.


29 março 2020

américa merino


Y no exige libertad
esta ciudad de cielo negro y estrellas negras.

En ella habitan insectos que
desprendiéndose de sus alas
a propia voluntad
busca una muerte rápida:

la incapacidad del vuelo crea cadáveres.


E não exige liberdade
esta cidade de céu negro e estrelas negras.

Nela vivem insetos em que
desprendendo-se das suas asas
a própria vontade
procura uma morte rápida :

a incapacidade do voo cria cadáveres.


26 março 2020

nadia sol



por las noches mi gato y yo
compartimos los mismos rituales
a él le gusta comer su comida
en la oscuridad
y salir
yo agarro un cigarrillo
y salgo al patio
trago el humo en silencio
mientras todos duermen
le rendimos culto a la oscuridad
merodeamos silenciosos
él, en la calle
yo, con mis pensamientos
nos abrazamos a la oscuridad
porque solo ahí
somos dueños de algo
más esencial
que nosotros mismos


à noite o meu gato e eu
temos os mesmos rituais
ele gosta de comer as suas coisas
na escuridão
e sair
eu pego num cigarro
e saio para o pátio
engulo o fumo em silêncio
enquanto todos dormem
prestamos culto à escuridão
erramos silenciosos
ele, na rua
eu, com os meus pensamentos
abraçamo-nos na escuridão
porque só aí
somos donos de alguma coisa
mais essencial
que nós próprios.



23 março 2020

valentina ghelfi


Il Signore Sconosciuto

L’ho incontrato
Una notte in cui Volevo
Non capire niente
Non ricordare niente
Esagerare tutto

Ci siamo incrociati
E abbiamo deciso
Che saremmo stati
Per sempre sconosciuti

Così abbiamo ballato
Ci siamo, meglio, sorretti a vicenda
Crollando l’uno tra le labbra dell’altro
Ballando
Per dimenticare tutto l’ora dopo

A cavallo tra il giorno e la notte
Ci siamo finti grandi e spudorati
Siamo andati oltre la rete
Senza ben capire nulla
Correndo alla cieca
Sperando di trovare la perla
Tra le cosce dell’altro.


O Senhor Desconhecido

Dei com ele
Numa noite em que queria
não compreender nada
não lembrar nada
exagerar tudo.

Encontrámo-nos
e decidimos
que seríamos
para sempre desconhecidos.

De modo que dançámos
Agarrámo-nos, melhor, um ao outro
Caindo entre os lábios um do outro
Dançando
Para esquecer tudo o que vinha

A cavalo entre o dia e a noite
Fingimos ser grandes e descarados
Atravessámos a rede
sem bem compreender nada
Correndo às cegas
Esperando encontrar a pérola
entre as coxas do outro.




20 março 2020

andrea paola hernández


Negligencia

dejé que las pestañas me crecieran hasta las rodillas
esperando que regresaras
que recordaras dónde estaba la última vez que me viste
navegando mis túneles con precisión nocturna
como un felino en el bosque percibiendo lo inefable
estas lágrimas son un grifo dañado
una vez abierto no puede ser contenido
ahora mi bata de baño está roída
del día que me apuñalaste
y arranqué hebra por hebra
porque no podía quitarme
cabello por cabello

no dejaste ni uno

lo sé
sé que no te interesan las apariencias


Negligência

Deixei que os cílios me crescessem até aos joelhos
à espera que regressasses
que recordasses onde estava na última vez que me viste
navegando os meus túneis com precisão noturna
como um felino no bosque percebendo o inefável
estas lágrimas  são uma torneira danificada
uma vez aberta não pode ser contida
agora o meu roupão de banho está rasgado
pelo dia em que me apunhalaste                    
e que arranquei fio por fio
porque não podia arrancar
cabelo por cabelo

não deixaste nem um

ben sei
sei que não te interessam as aparências


17 março 2020

patricia arredondo



Carnicería

A los pies de los carniceros
la pureza de la sangre
confundida con el agua
y la mugre ya no importaba.

Cuando no teníamos nada
qué sacrificar, sorteando los charcos,
recorríamos los pasillos del mercado
con una bolsa colgada en cada brazo.

Echábamos una mirada rápida
a los miembros fuera de sus cuerpos,
a las cabezas y las hierbas recién cortadas,
hasta que, después de una larga búsqueda,
parábamos en un cuarto
donde reclamábamos entre los gritos
de otras mujeres, a gritos,
alguno de esos cadáveres como nuestro.


Matadouro

Aos pés dos açougueiros
a pureza do sangue
misturado com água
e imundície já não importava.

Quando não tínhamos nada
para sacrificar na rebatina dos charcos
percorríamos as passagens do mercado
com uma bolsa pendurada em cada braço.

Deitávamos um olhar rápido
aos membros fora dos seus corpos,
às cabeças e às ervas recém-cortadas,
até que, depois de uma longa procura,
parávamos num quarto
onde reclamávamos entre os gritos
de outras mulheres, em gritos,
um desses cadáveres como nosso.

14 março 2020

circe maia


Final

¿Cómo aprende la luz a oscurecerse?
¿Debe hacer ejercicios de opacamiento?
No quiere.
Hasta último momento la brasa late:
una chispa, un crujido.

El punzón del fuego no quiere
no ser mas taladro, hacerse romo.
No quiere.

Muy a contracorriente, contra la pegajosa
espuma de la nada
bracea, tercamente.


Final

Como aprenderá a luz a escurecer?
Fará exercícios de opacidade?
Não quer.
Até ao último momento as brasas batem:
uma chispa, um estalido.

O espigão do fogo não quer
não ser mais broca, tornar-se áspero
Não quer.

Muito em contracorrente, contra a pegajosa
espuma do nada
braceja teimosamente.


11 março 2020

antonia torres


Enseñas cocina como si enseñaras dicción
ensayas un paso en falso para conocer la caída
enseñas con señas para borrar tus huellas
te ensañas con alguien para ensayar.

Enseñas un idioma y lo desafinas
un instrumento
te ensañas con tu imagen
en el espejo la maquillas
coloreas y detallas.

Al escribir te asfixias
al mirar te atragantas
al respirar te equivocas.

Te confirmas al leer y te conformas
escribes un diario y te extravías
enseñas palabras y te silencias.

Hablas un idioma extranjero
lo descompaginas
tomas un libro
lo olvidas

amas a alguien
repartes en dos el dolor.


Ensinas cozinha como se ensinasses dicção
ensaias um passo em falso para conhecer a queda
ensinas com sinais para apagar os teus rastros
metes-te com alguém para ensaiar.

Ensinas um idioma para o desafinar
um instrumento
entras em fúria com a tua imagem
que no espelho maquilhas
pintas e detalhas.

A escrever te asfixias
a olhar te engasgas
a respirar te enganas.

Confirmas-te ao ler e conformas-te
escreves um diário e extravias-te
ensinas palavras e silencias-te.

Falas uma língua estrangeira
que descompaginas
pegas num livro
e esquece-lo

amas alguém
divides em dois a dor.


08 março 2020

iris kiya



Mi padre fue una idea de mi abuela,
para tener una idea,
se debe entender un fracaso anterior y posterior.
Eso significa que mi padre
habiendo sido el fracaso de mi abuela,
yo vine a ser el fracaso del primero.
Me resultaba insano siquiera pensar
que yo tendría un fracaso también,
pero lo tuve.
Más este, no fue una consecuencia de la genética.
Fue más bien una cabecita de ajo enraizada.
Ella era un problema crítico a la hora de abordar
ciertos temas.
Nada ni nadie la podía convencer cuando refutaba algo.
Yo jamás participaba en ese juego comunicativo,
porque la comunicación entre que se asa la carne
y se escuchan los soliloquios de una mujer que habla de sexo y muerte,
no son recomendables,
siempre me sentí traicionado.
Yo solo le decía
-no creo en el mundo del arte de las mujeres que trabajan solo por encanto-
entonces ella alzaba la nariz
y tomaba un puñado de ajos pelados y se los metía a la boca,
se alejaba llorando,
como si estuviera rindiéndole pleitesía
a todos los dioses del Olimpo,
por haber muerto.
Y cuando escupía pedacitos de ajo
en el almuerzo.
Se sentaba en la cabecera de la mesa,
tal como mi padre hacía.
No se jactaba de sus logros,
solo urdía contra la carne en el plato.
A continuación se levantaba
y aquella mirada suya que carecía de brillo
por estar lejos de la luz,
cerca del basurero,
me miraba tristemente.
Yo solo pensaba en esta frase
-el arte es una manera de reconocerse,
por ello será siempre moderno.
Era el quinto plato que echaba a la basura,
tenía apilado un resto de carne
en el basurero.
Mi abuela.
Mi padre.
Ella.

Y yo.

O meu pai foi uma ideia da minha avó,
para ter uma ideia,
deve entender-se um fracasso anterior e posterior.
Isso significa que o meu pai
tendo sido o fracasso da minha avó
eu vim a ser o fracasso do primeiro.
Achei que era insano sequer pensar
que eu teria um fracasso também,
mas tive.
Mas este não foi uma consequência da genética.
Foi antes uma cabecinha de alho chocho.
Ela era um problema crítico quando se abordavam
certos temas.
Nada nem ninguém conseguia convencê-la quando refutava qualquer coisa.
Eu nunca participava nesse jogo comunicacional,
porque a comunicação entre o momento em que se assa a carne
e se ouvem os solilóquios de uma mulher que fala de sexo e morte,
não é recomendável,
sempre me senti traído.
Eu só lhe dizia
-não acredito no mundo da arte das mulheres que trabalham apenas por encanto-
então ela empinava o nariz
pegava num punhado de alhos pelados e metia-os à boca,
afastava-se a chorar,
como se estivesse a prestar homenagem
a todos os deuses do Olimpo,
por ter morrido.
E quando cuspia pedacinhos de alho
ao almoço.
Sentava-se à cabeceira da mesa
tal como o meu pai fazia.
Não se vangloriava dos seus sucessos
apenas urdia contra a carne no prato.
A seguir levantava-se
e aquele seu olhar que carecia de brilho
por estar longe da luz
perto do caixote de lixo
olhava-me tristemente.
Eu só pensava nesta frase
-a arte é uma maneira de se reconhecer
por isso será sempre moderna.
Era o quinto prato que deitava ao lixo
tinha empilhado uns restos de carne
no caixote do lixo.
A minha avó.
O meu pai.
Ela.

E eu.


05 março 2020

paola valencia villalobos


La sed

Limpias la carne en lo oscuro
Mientras ella corta flores en el jardín.

La respiración del mar da a luz los peces del sueño en tu boca
Ella es testigo de la sed
y tú miras el maldito uroboro de sus ojos atrapado en silencio
(Nadie ha hecho esa línea con un dedo)

Te quemas.
Tú que antes rezabas por la inmovilidad de la sombra
ahora emigras a través de la noche para ver desde la ventana el retrato verde y rojo de un cuerpo volátil
(Nadie ha huido del fuego del planeta vecino)
Sin embargo la muerte no existe donde toca el temblor.


A sede

Limpas a carne no escuro
Enquanto ela corta flores no jardim.

A respiração do mar dá à luz os peixes do sonho na tua boca
Ela é testemunha da sede
e tu vês o maldito ouroboro dos seus olhos preso no silêncio
(Ninguém desenhou essa linha com um dedo)

Queimas-te
Tu que antes rezavas pela imobilidade da sombra
agora emigras através da noite para ver da janela o retrato verde e vermelho de um corpo volátil
(Ninguém fugiu do fogo do planeta vizinho)
Porém a morte não existe onde toca o tremor.


02 março 2020

yanina giglio


Rosa negra

Ella es un interior.
Todo ha sido demasiado y ella se irá.
Y yo me iré.
Alejandra Pizarnik


Estarás tejiendo lunas; preparando
la cena, te olvidarás de la misericordia.
Ya no será posible hablar con vos. Estarás entrando
en una cueva fantástica lejos de lo palpable.
En ciertos lugares de tu carne, la electricidad
solo es alimentada por el miedo a la chispa.
Y la inhibición de ese fuego te acusa de cobarde,
sin bizarría para volver al mar
en la casa de coral y selva. Siempre verte ahí:
anunciando la partida cuando la puerta
me abra. Y yo no estoy hecha de metal,
soy más bien una rosa negra en el jardín,
jugando entre las llamas, una rosa negra que se vuelca
atenta a florecer en lo infernal de tu yerro.
¿Quién pudiera hacerte vibrar otra vez y otra más?
Sé que puedo levantarme en andas, llevarnos dentro
como un boceto: vos, parada a contraluz, dándome tu mano
la mano de acá hasta el sudor, los pies
dentro de tu cobra, reptarme añorando el vacío,
las cuatro piernas ciñéndose por la bocanada,
que amalgamó nuestras fuerzas sutiles.
Sos la ciénaga, podés hacerte tuya tras el vendaval;
yo también, soplando, me olvidaré del suelo, me juntaré
pétalo por pétalo. Ya no habrá una sensación cerrada
o secreta en mi costado, se habrá ido el humo;
alzaré la frente, miraré estoica, confundiendo voluntad
con letanía. Rodaré. Seré una mujer perdida apuntando
bien arriba. A vista de pájaros, me regalaré la pasión
de un cuerpo. Espero no hacerme más. Es cansador
elegir las máscaras. Llamarme cada mañana. Dónde estarás
para extrañarme así como decís: sin deseo. Un suave estupor,
la misma intimidad con vos misma. No podés
abrir la clave intrínseca.
Quisiera que entendieras
que una coraza solo contiene a la fuga,
a la merma
de la esencia.
De eso
saben las plantas,
dijiste al dibujar
una flecha
en la última caverna.


Rosa negra

Ela é um interior.
Tudo foi demasiado e ela ir-se-á.
E eu me irei.
Alejandra Pizarnik

Estarás a tecer luas; no preparo
da ceia esquecerás a misericórdia.
Já não será possível falar contigo. Estarás a entrar
numa gruta fantástica longe do palpável.
Em alguns lugares da tua carne, a eletricidade
só é alimentada pelo medo à chispa.
E a inibição desse fogo acusa-te de cobarde,
sem bizarria para voltar ao mar
na casa de coral e selva. Ver-te sempre aí:
anunciando a parte quando a porta
me abra. Eu não sou feita de metal,
sou antes uma rosa negra no jardim,
brincando entre as chamas, uma rosa negra que se põe
atenta a florescer no inferno do teu erro.
Quem poderia fazer-te vibrar outra vez e mais outra?
Sei que posso levantar-me em andas, levar-nos dentro
como um rascunho: tu, parada em contraluz, dando-me a tua mão
a mão daqui até ao suor, os pés
dentro da tua cobra, reptar-me em saudades o vazio,
as quatro pernas cingidas pela boca
que amalgamou as nossas forças subtis.
És o lamaçal, podes tornar-te tua depois do vendaval;
eu também, soprando, esquecer-me-ei do chão, juntar-me-ei
pétala por pétala. Já não haverá um sensação fechada
ou secreta da minha parte, o fumo ter-se-á ido;
levantarei a cabeça, olharei estóica, confundindo vontade
com litania. Rodarei. Serei uma mulher perdida apontando
bem para cima. À vista de pássaros, oferecer-me-ei a paixão
de um corpo. Espero não fazer mais. É cansativo
escolher máscaras. Chamar-me todas as manhãs. Onde estarás
para sentires assim a minha falta como dizes: sem desejo. Uma suave lassidão
a mesma intimidade contigo mesma. Não consegues
abrir a chave intrínseca.
Gostava que compreendesses
que uma couraça só contém a fuga,
a destruição
da essência.
Disso
sabem as plantas
disseste ao desenhar
uma flecha
na última caverna.


28 fevereiro 2020

annalisa ciampalini




Tornerà l’aritmia dell’inconcepibile
e il momento vuoto, come scordarsi d’esistere.
Il sussulto prima della frammentazione
tornerà nella terra e negli organi di tutti.
Continueremo a non vedere lo spazio
che s’incurva a non credere la conchiglia
possa raccogliere il mare. Conteremo
soltanto le ore di luce, nel buio
grandi archi uniscono le case.


Voltará a arritmia do inconcebível
e o momento vazio, como esquecer-se de existir.
O arrepio antes da fragmentação
voltará à terra e aos órgãos de todos.
Continuaremos sem ver o espaço
que se inclina para não acreditar que o caracol
possa recolher o mar. Contaremos
apenas as horas de luz, na escuridão
grandes arcos unem as casas.


25 fevereiro 2020

háel lópez


Preludio (05.17)

porque las personas no son lugares
y puede que un día querrás regresar
y te encontrés con nada
porque las personas no son lugares
son aves viajeras
que construyen sus nidos con recuerdos
y después los sacrifican en invierno


Prelúdio (05.17)

porque as pessoas não são lugares
e se um dia quiseres regressar
talvez depares com nada
porque as pessoas não são lugares
são aves viajantes
que constroem os seus ninhos com lembranças
para as sacrificar no inverno



22 fevereiro 2020

inés martínez garcía


La vida por la lengua

Al final del asunto siempre es la muerte
Anne Sexton

La mayor parte de las noches no puedo dormir
mi mente se pasea en camisón por los pasillos
pensando en el movimiento que hacen las agujas
al hincarse en la piel y coser las heridas.

Mi vida en la lengua en los dientes
toda mi vida escrita con hilos negros
a lo largo de mi lengua
de la boca del estómago
en la cavidad del ombligo.

De noche me caso con mi cuerpo
así sólo será mío y no tendré que huir
de las manos rudas y ásperas.

Yo hice esto, ni tú, ni el muerto.
Por las noches no puedo dormir
porque quiero que mi cuerpo sea solo mío
sentir mi lengua doblarse en acto de reconciliación
y que mis dedos largos y suaves
me bañen en pintura fértil.


A vida pela língua

No fim da vivência está sempre a morte
Anne Sexton

Na maior parte das noites não consigo dormir
a minha mente passeia em combinação pelos corredores
a pensar no movimento que fazem as agulhas
quando se cravam na pele e cosem as feridas.

A minha vida na língua nos dentes
toda a minha vida escrita com fios negros
ao longo da minha língua
da boca do estômago
na cavidade do umbigo.

De noite caso-me com o meu corpo
assim será só meu e não terei de fugir
das mãos rudes e ásperas.

Eu fiz isto, não tu nem o morto.
Pelas noites não consigo dormir
porque quero que o meu corpo seja só meu
sentir a minha língua a dobrar-se no ato de reconciliação
e que os meus dedos longos e suaves
me banhem em pintura fértil.