31 maio 2021

mónica zepeda

 

Encomienda


Pareciera que están en todas partes

las partes no incineradas de los sueños

de quienes quedamos vivos:


El sol —prefijo de la edad—,

la penúltima diástole del paro cardiaco

—lágrima herencia de uno mismo—.


Su compasión lía, cual red de precipicios,

los extremos del salto al instinto trapecista.

Su perpetua retórica es mañana de otra época

que, como ésta, nunca me perteneció.


Envuelta en el disfraz de la razón por sobre los latidos,

la promesa de mi agonía parpadea ante tus ojos

y mientras duerme aún inventa que sonríes

cuando eres cenizas.


Si tu muerte no ahoga mi alma, si se desborda

el duelo y en mis mejillas consigue sostenerse una palabra,

si de mi vientre nace la poesía, en algún momento le diré:

“Hija, tienes que vivir… tranquila”.



Encomenda


Parece que estão em toda a parte

as partes não incineradas dos sonhos

dos que ficamos vivos:

O sol -prefixo da idade-,

a penúltima diástole da paragem cardíaca

-lágrima herança de si mesmo-.


Sua compaixão, tal rede de precipícios,

os extremos do salto ao instinto trapezista.

Sua perpétua retórica é manhã de outra época

que, como esta, nunca me pertenceu.


Envolta no disfarce da razão sobre o batimento cardíaco,

a promessa de minha agonia pestaneja diante dos seus olhos

e enquanto dorme ainda inventa que sorris

quando és cinza.


Se a tua morte não afogar minha alma, se transbordar

o luto e nas minhas bochechas conseguir sustentar-se uma palavra,

se do meu ventre nascer a poesia, em algum momento lhe direi:

"Filha, tens que viver... em sossego".


29 maio 2021

marie cosnay

Il est là, sans parole, sans regard, sans affinités.

Tout

ce qui oblige au choix, à la pensée, à la relation,

est

relégué très loin, c'est le domaine des mortels

malchanceux.

Nous avons combattu la mort. Nous ne savons

pas.

Nous ne pensons pas. Si nous aimons, c'est de

l'amour qui nous dépasse, de l'amour infligé, une

force qui vient sans que nous soyons partie

prenante.

Aimer celui pour qui je suis sans amour, celui qui

indéniablement est indigne de l'amour. Ou plus

justement : celui que je ne vois pas.



Está ali, sem palavras, sem olhares, sem afinidades.

Tudo

o que obriga à escolha, ao pensamento, à relação,

é

relegado para longe, é o domínio dos mortais

desafortunados.

Combatemos a morte. Não sabemos.

Não pensamos. Se amarmos, é por

um amor que nos ultrapassa, um amor infligido, uma

força que vem sem que sejamos parte

cativante.

Amar aquele por quem estou sem amor, aquele que

inegavelmente é indigno de amor. Ou mais

exatamente : aquele que não vejo.


27 maio 2021

anne-emmanuelle fournier

 
je pourrais vivre
pour dans le profond de la nuit éponger ta sueur
et baigner ton corps en révolte
dans l’absolution de draps renouvelés


podia viver
para nas profundezas da noite enxugar o teu suor
e banhar o teu corpo em revolta
por absolvição de lençóis frescos

25 maio 2021

pilar blanco

 

Leer lenguas


El hombre es como un huérfano abandonado en su paisaje vacío,

indiferente, contingente, sin padre protector.

(A propósito de Cioran)


Como el ser desvalido

que soy en este hueco de palabras,

universo desnudo donde nada cobija mi intemperie;

como ese ser indigno yo te abrazo,

ato a ti mi orfandad

y protejo la tuya. Así el amor:

dos lenguas que construyen un lenguaje,

dos unos frente a frente cuya fuerza

es su necesidad de completarse.



Ler línguas


O homem é como um órfão abandonado na sua paisagem vazia,

indiferente, contingente, sem pai protetor.

(A propósito de Cioran)


Como o ser desamparado que sou

neste buraco de palavras,

universo nu onde nada abriga minha intempérie;

como esse ser indigno eu abraço-te,

ato a ti a minha orfandade

e protejo a tua. Assim o amor:

duas línguas que constroem uma linguagem,

dois uns frente a frente cuja força

é a sua necessidade de se completar.

23 maio 2021

francisca aguirre

 

Despedida


Decir adiós quiere decir tan poco.

Adiós dijimos a la infancia

y vino detrás nuestro como un perro

rastreando nuestros pasos.

Decir adiós: cerrar esa obstinada puerta que se niega,

la persistente cicatriz que destila memoria.

Decir adiós: decir que no; ¿quién lo consigue?

¿quién encontró la mágica llave?

¿quién el instante que nos desliza hacia el olvido,

la mano que extirpará raíces

sin quedarse para siempre cerrada sobre ellas?

Decir adiós: volver la espalda; pero

¿quién sabe dónde está la espalda?

¿quién conoce el camino que no muere en el pisado atajo?

Decir adiós: gritar porque se está diciendo

y llorar porque no se dice nada;

porque decir adiós nunca es bastante,

porque tal vez decir adiós completamente

sea encontrar el recodo donde volver la espalda,

donde hundirse en el no definitivo

mientras escapa lentamente la vida.



Despedida


Dizer adeus diz tão pouco.

Adeus dissemos à infância

que veio atrás de nós como um cão

perseguindo o nosso caminhar.

Dizer adeus: fechar essa obstinada porta que se nega,

a persistente cicatriz que destila memória.

Dizer adeus: dizer que não; quem consegue?

quem encontrou a mágica chave?

qual o instante que nos desliza para o esquecimento,

a mão que extirpará raízes

sem ficar para sempre fechada sobre elas?

Dizer adeus: virar as costas, mas

quem sabe onde estão as costas?

quem conhece o caminho que não morre no pisado atalho?

Dizer adeus: gritar porque se está a dizer

e chorar porque não se diz nada;

porque dizer adeus nunca é suficiente,

porque talvez dizer adeus completamente

seja encontrar o encosto onde virar as costas,

onde se afundar no não definitivo

enquanto a vida escapa lentamente.



21 maio 2021

maria ángeles pérez lópez

 

Soy una niña y pinto de colores

el tronco sepulcral de los dibujos,

un árbol como un diente contra el cielo,

la forma imaginada del ahorcado.

Quiero ser una niña y volver hasta el vientre

del agua y su silencio del inicio,

el flujo de la sangre que me lleva

y hace infancia este tiempo insoportable,

pero estoy viendo el mar como la suma

de capas de aluminio y de desecho,

el peso en la cabeza de metal,

la entraña solitaria e inquisitiva

atenta a ese rumor que no se siente.

Vigilo la semántica del agua,

el modo en que la arena se hace verbo

y nombra nuestras huellas en la espuma,

no acaricia palabras para el aire

pero sí los tobillos y zapatos.

La voz que anda escondida en su guarida,

su cajita de miedo musical,

aguarda que restalle el alarido

de estar viviendo el pánico de ser

si el miedo es una forma de la boca,

una expresión del cáliz de amargura.

Las olas entre tanto se divierten,

su canto es insonoro y necesario

para aguardar el tiempo del exceso.



Sou uma menina e pinto de cores

o tronco sepulcral dos desenhos,

uma árvore como um dente contra o céu,

a forma imaginada do enforcado.

Quero ser uma menina e voltar para o ventre

da água e o seu silêncio do início,

o fluxo de sangue que me leva

e torna infância este tempo insuportável,

mas estou a ver o mar como a soma

de camadas de alumínio e de desperdícios,

o peso na cabeça de metal,

a entranha solitária e inquisitiva

atenta a esse rumor que não se sente.

Vigio a semântica da água,

o modo como a areia se torna verbo

e nomeia as nossas pegadas na espuma,

não acaricia palavras para o ar

mas antes os tornozelos e os sapatos.

A voz que anda escondida na sua guarida,

a sua caixinha de medo musical,

espera que restaure o alarido

de estar a viver o pânico de ser

de estar vivendo o pânico de ser

se o medo é uma forma de boca,

uma expressão do cálice de amargura.

As ondas enquanto se divertem,

seu canto é insonoro e necessário

para aguardar o tempo do excesso.

As ondas entre tanto se divertem,

o seu canto é insonoro e necessário

para aguardar o tempo do excesso.



19 maio 2021

noor hindi

 

Fuck Your Lecture on Craft, My People Are Dying


Colonizers write about flowers.

I tell you about children throwing rocks at Israeli tanks

seconds before becoming daisies.

I want to be like those poets who care about the moon.

Palestinians don’t see the moon from jail cells and prisons.

It’s so beautiful, the moon.

They’re so beautiful, the flowers.

I pick flowers for my dead father when I’m sad.

He watches Al Jazeera all day.

I wish Jessica would stop texting me Happy Ramadan.

I know I’m American because when I walk into a room something dies.

Metaphors about death are for poets who think ghosts care about sound.

When I die, I promise to haunt you forever.

One day, I’ll write about the flowers like we own them.



Que se foda a tua leitura sobre arte, o meu povo está a morrer


Os colonizadores escrevem sobre as flores.

Falo-te das crianças que atiram pedras aos tanques israelitas

Segundos antes de se converterem em margaridas.

Quero ser como aqueles poetas que se preocupam com a lua.

Os palestinianos não veem a lua das celas e das prisões.

Tão bonita, a lua.

Tão lindas, as flores.

Apanho flores para o meu pai morto quando estou triste.

Ele vê a Al Jazeera todo o dia.

Espero que a Jessica me deixe de enviar mensagens de Feliz Ramadão!

Sei que sou norte-americana porque quando atravesso um quarto algo morre.

As metáforas sobre a morte são para os poetas que pensam que os fantasmas se interessam pelo som.

Quando morrer, prometo seguir-te para sempre.

Um dia escreverei sobre as flores como se me pertencessem.


17 maio 2021

esther m. garcía

 I

La familia es lo único que mata.

Su belleza no reside

en los elementos que la conforman,

sino en la armoniosa proporción

con la que un miembro de ella

destruye a otro miembro de la misma.


La familia es vaho marino

que exuda el bronco sueño

de un jardín negro donde florecen

las más diversas patologías.


Toda familia es una enfermedad

y el deber de todo miembro enfermo

es sobrevivirle.



I

A família é a única coisa que mata.

A sua beleza não reside

nos elementos que a compõem,

mas na harmoniosa proporção

com a qual um dos seus membros

destrói outro membro dela.


A família é um bafo marinho

que exala o rude sonho 

de um jardim negro onde florescem

as mais diversas patologias.


Qualquer família é uma doença

e o dever de cada membro doente

é sobreviver-lhe.


Fragmento de Sicarii


La primera vez que acribillé algo

para oír la música tranquila de la furia en mi alma

fue cuando abandoné mi niñez

para volverme un asesino


A primeira vez que cravei algo

para ouvir a música tranquila da fúria na minha alma

foi quando abandonei a minha infância

para me tornar um assassino


*


El arma siempre quiere entablar

un diálogo violento

Un solo roce de su acerada boca

y florecen ramajes carmesí que trazan

una cartografía imposible en cuerpos ajenos


A arma quer sempre entabular

um diálogo violento

Um único atrito da sua acerada boca

e florescem ramagens carmesim que traçam

uma cartografia impossível em corpos alheios


15 maio 2021

gloria fortún

 

1

¿Por qué no soñarla? No a su costa, no a mi antojo, no a nuestro pesar.

Soñarla recogiendo así el milagro de que cuando llueve en su tejado lo hace también en el mío. Entonces nos decimos qué tormenta tan azul, qué añoranza tan verde, palabras que se evaporan y caen sobre nosotras atravesándonos la ropa.

Soñarla celebrando así que me ama aunque no haga falta, no nos pertenezcamos ni nos necesitemos, o precisamente por eso, por este amor sin descendencia y sin suelo del que nunca sabrán nada nuestros padres muertos.

Soñarla, sí, por qué no, sin inventarla, envuelta en un manto estrellado de irrenunciable verdad, tal y como es conmigo, tal y como no puede ser conmigo, besándome en Oniria, eso sí, con la misma vehemencia con la que no me besa en Realidad.

Y algún día con estupor seremos viejas, no queda tanto, y le diré te he soñado siempre y ella me responderá y quién te crees que te ponía las manos sobre los párpados para que pudieras hacerlo.


1

Por que não a sonhar? Não às suas custas, não a meu desejo, não a nosso pesar.

Sonhá-la recolhendo assim o milagre de que quando chove no seu telhado o faz também no meu.

Então dizemos a nós mesmos que tempestade tão azul, que saudade tão verde, palavras que se evaporam e caem sobre nós atravessando as nossas roupas.

Sonhá-la celebrando assim que me ama embora não seja preciso, não nos pertençamos nem nos necessitemos, ou precisamente por isso, por este amor sem descendência e sem chão do qual nunca saberão nada os nossos pais mortos.

Sonhá-la, sim, porque não, sem a inventar, envolta num manto estrelado de irrenunciável verdade, tal qual é comigo, tal qual não pode ser comigo, beijando-me em Oníria, isso sim, com a mesma veemência com que não me beija na Realidade.

E um dia com espanto seremos velhas, não fica muito, e dir-lhe-ei sonhei-te sempre e ela responder-me-á e quem achas que te punha as mãos sobre as pálpebras para que o pudesses fazer.



13 maio 2021

antonella anedda

 

Donna che scrive


È la fame che le apre la gola:

un cucchiaio di consonanti,

una spatola di osso sul palato.

In quelle ore si trasforma

dalla sponda del tavolo all’armadio

il corpo mangia se stesso nel riflesso.

Intorno ruotano i pipistrelli

uno stridere cieco che si unisce

al suo battere di unghie sopra i tasti.


Se chiude gli occhi

la stanza si scompone.

Allora scopre da dove viene il terrore.

Dal chiodo dentro il tronco dell’albero di ieri

dal fungo esploso di notte

di un enorme marrone.



Mulher que escreve


A fome abre-lhe a garganta:

uma colher de sopa de consoantes,

uma espátula de osso sobre o palato.

Nessa altura transforma-se

do canto da mesa ao armário

o corpo come-se a si mesmo no reflexo.

À volta rodam os morcegos

um uivo cego que se une

ao ruído das unhas no teclado.


Fecham-se os olhos

o quarto decompõe-se.

Descobre então de onde vem o terror.

Do prego no tronco da árvore de ontem

do fungo que explodiu à noite

de um enorme castanho .


11 maio 2021

ketty blanco zaldivar

 

La milagrosa


Tu hijo, acaso trapecista, camina hasta ti por el

ombligo traspasando la bruma que eres.

Guiado por un seno de leche que no mana,

¿qué le darás entonces? ¿El gusano que se

enrosca en su garganta como un mal augurio,

y enturbia sus ojos de semilla? Di, Amelia,

¿qué sientes cuando él intenta abrir las manos

recién nacidas, y como un dedo atravesado en

el bostezo, se frustra el gesto por la piedra?

¿Tu corazón no se abre de ganas? ¿De dolor

por la leche, el aire que el sollozo pide. Sí, se

abre. Se abre tanto que al final estalla. Y

mujeres. No una, ni dos. Setenta veces siete.




A milagrosa


O teu filho, talvez trapezista, vai para ti pelo

umbigo trespassando a bruma que és.

Guiado por um seio de leite que não jorra,

Que lhe darás então? O verme que se

enrosca na sua garganta como mau augúrio,

e turva os seus olhos de semente? Diz, Amélia,

O que sentes quando ele tenta abrir as mãos

recém-nascidas, e como um dedo atravessado em

bocejo, se frustra o gesto pela pedra?

O teu coração não abre as pulsões? De dor

pelo leite, o ar que o soluço pede. Sim,

abre-se. Abre tanto que no fim explode. E

mulheres. Não uma, nem duas. Setenta vezes sete.



09 maio 2021

cristina grisolía

 

Privilegio del llanto


No es necesaria la verdad

no es pan de cada día ni hambre de cada noche

no allana el dolor ni resquebraja muros.

Porque la muerte es lo contrario al llanto, dijo o escribió

y supo.

Para matar fantasmas no es necesaria la verdad

sólo poder llorar cuando te hieren.



Privilégio do pranto


A verdade não é necessária

não é pão de cada dia nem fome de cada noite

não suaviza a dor nem derruba muros.

Porque a morte é o oposto do choro, disse ou escreveu

e soube.

Para matar fantasmas não é necessária a verdade

apenas poder chorar quando te magoam.




07 maio 2021

juana vázquez

 

Me llaman por mi nombre.

Uno más en el vacío del universo.

Nombre compartido

interino…

Nombre que nada significa

palabra que alguien dibujó con agua.

No hay algo más allá que me descifre.

La Puerta está herméticamente cerrada.

Balbuceo de preguntas es mi diario existir

pues me muevo en la herida de lo indefinido.

¿Será esto la penumbra de la noche eterna

llena de enigmas oblicuos?

Las alondras no dan sentido a las albas

que trenzan el tiempo entre susurros

y pálidos colores.

Los gorriones los ruiseñores los jilgueros

vuelan sin saber adónde van

y filtran otra música llena de premoniciones

aunque no entiendo su lenguaje.

La vida está llena de grafías

pero no son reveladoras de nada

pues no tienen la fórmula

del Primer Manuscrito.

Y es que olvidamos el Código Primigenio.

¿De qué valen los libros sagrados y la historia

si son jeroglíficos de caos

que no interpretan

la clave del Silencio

que día a día amanece muda como mi nombre?



Chamam-me pelo meu nome.

Mais um no vazio do universo.

Nome partilhado

interino…

Nome que nada significa

palavra que alguém desenhou com água.

Fora, nada mais há que me decifre.

A porta está hermeticamente fechada.

Balbúcio de perguntas é o meu diário existir pois me movo na ferida do indefinido.

Será isto a penumbra da noite eterna

cheia de enigmas oblíquos?

As cotovias não dão sentido às albas

que entrelaçam o tempo entre sussurros

e pálidas cores.

Os pardais os rouxinóis os pintassilgos

voam sem saber para onde vão

e filtram outra música cheia de premonições

embora não entenda a sua linguagem.

A vida é cheia de grafias

mas não são reveladoras de nada

pois não têm a fórmula

do Primeiro Manuscrito.

E acontece que esquecemos o Código Primitivo.

De que valem os livros sagrados e a história

se são hieróglifos de caos

que não interpretam

a chave do Silêncio

que todos os dias amanhece muda como meu nome?


05 maio 2021

ana lucas

 

Gasolina


Así como llegaste

reventando los cristales de mis ojos

usando tus garras para trepar

desde mis tobillos,

mordiendo justo debajo del ombligo,

cocinándome a fuego lento el corazón,

besando sin prisa

como besan los que saben de amor.

Sabías de amor porque no lo querías.

Yo creía que sí,

que sería yo,

que serías tú.

Así como llegaste te he echado,

te has ido,

he sorprendido al desencanto al cogerte por los pies

y arrastrarte lejos.

Cuando tu barco atracó en mi puerto

no vi desembarcar a las ratas.

Sólo miré al bajar tú, sonriente,

escoltado por dos linces

que afilaban sus garras en el cemento.

Buque de madera picada,

carcoma y fobias desatadas.

Lo cubriste con una sábana.

Era naranja, lo recuerdo,

se fundió con la puesta de sol.

Te escuché silbar

y acudieron mis zapatos

dóciles,

siguiendo las huellas de tus pies descalzos.

Llegué a ser un caligrama,

tus palabras dibujaban tulipanes en mi boca.

Marchitó el jardín;

lloré por él.

Lo abandoné

y tú también.

Cementerio de gusanos.

No quise verlo arder

pero lo ahogué en gasolina mirándote a los ojos.



Gasolina


Assim como chegaste

estourando os cristais dos meus olhos

usando as tuas garras para trepar

desde os meus tornozelos,

mordendo logo abaixo do umbigo,

cozinhando em lume brando o meu coração

beijando sem pressa

como beija quem sabe de amor.

Sabias de amor porque não o querias.

Eu acreditava que sim,

que seria eu,

que serias tu.

Tal como chegaste te expulsei,

foste embora,

surpreendi o desencanto ao agarrar-te pelos pés

e arrastar-te para longe.

Quando o teu barco atracou no meu porto

não vi desembarcar os ratos.

Só ao descer, te vi a ti, sorridente,

escoltado por dois linces

que afiavam as garras no cimento.

Navio de madeira picada,

caruncho e fobias libertadas.

Tapaste-o com um lençol.

De laranja, lembro-me,

fundiu-se com o pôr-do-sol.

Ouvi-te assobiar

e apareceram os meus sapatos

dóceis,

seguindo as pegadas dos teus pés descalços.

Cheguei a ser um caligrama,

as tuas palavras desenhavam tulipas na minha boca.

Murchou o jardim;

Chorei por ele.

Abandonei-o

e tu também.

Cemitério de gusanos.

Não o quis ver arder

mas afoguei-o em gasolina enquanto te olhava os olhos.



03 maio 2021

chary gumeta

 

Fosa clandestina


Yo no escogí

Caminar desnuda en este paraje solitario

Tampoco escogí

Que mi lugar de descanso final

Fuera esta tierra nauseabunda

Donde transitan las almas en pena

Separadas de la vida

En fosas clandestinas.

Yo no escogí recorrer

Sin mi cuerpo este territorio de la muerte

Donde el mosaico es de huesos

Y el perfume ambiental

Es de carne putrefacta.



Fossa clandestina


Eu não escolhi

Andar nua nesta paragem solitária

Tão pouco escolhi

Que o meu lugar de descanso final

Fosse esta terra nauseabunda

Onde transitam as almas penadas

Separadas da vida

Em fossas clandestinas.

Eu não escolhi percorrer

sem o meu corpo este território da morte

Onde o mosaico é feito de ossos

E o perfume ambiental

É de carne putrefacta.


01 maio 2021

nayeli rodríguez reyes

 

El café no apaga mi corazón nevado

tengo un enorme hueco en mis entrañas

donde estabas puse aire

algodones de colores

manzanas encendidas


Es urgente vacíame esta tormenta

porque cada noche duermo sola

en la cama congelada del desierto


¿Caminaste en las arenas?

¿En qué rincón del mundo

dejaste mis poemas?


Es tarde y yo te amo.

Este invierno duele.



O café não apaga o meu coração neve

tenho um enorme buraco nas minhas entranhas

onde estavas preenchi com ar

algodões coloridos

maçãs acesas


É urgente esvazia esta tempestade

porque todas as noites durmo sozinha

na cama congelada do deserto


Andaste pelas areias?

Em que canto do mundo

deixaste os meus poemas?


É tarde e amo-te.

Este inverno magoa.