26 novembro 2020

phil camino


Hay un deseo que nace donde la carne ya no siente,
donde se agarra el alma
a lo invisible.
Allí las bestias se callan,
enmudecen su lamento
en el silencio amaestrado.
Hay un deseo que no es
de la piel,
ni de la boca.
Sólo de un lugar que nadie conoce, en el que
como una bestia con fiebre,

palpita el pobre corazón humano.


Há um desejo onde a carne já não carna,
onde a anima se agarra
ao invisível.
Aí se calam as bestas,
emudecem a sua queixa
no silêncio amestrado.
Há um desejo que não é
da pele,
nem da boca.
Vem de um lugar que ninguém conhece onde
tal besta com febre,

palpita o pobre coração humano.

23 novembro 2020

jane kenyon


The pear

There is a moment in middle age
when you grow bored, angered
by your middling mind, afraid.

That day the sun
burns hot and bright,
making you more desolate.

It happens subtly, as when a pear
spoils from the inside out,
and you may not be aware
until things have gone too far.


A Pera

Há um momento na pós-juventude
em que te chateias, com raiva
da tua mente medíocre, cheia de medo.

Nesse dia o sol
queima forte e brilhante
faz-te sentir mais desolada.

Acontece em subtil como quando uma pera
apodrece de dentro para fora
e não consegues ter essa consciência
até ser demasiado tarde.


20 novembro 2020

clara muschietti


El llanto de un animal no me deja
se filtra desde algún departamento vecino
miro el monitor, paso una y otra vez las imágenes
prácticamente iguales, una cara de mujer madura
la diferencia es una mueca casi imperceptible
el llanto del animal es más fuerte
me asomo al pulmón del edificio y no se ve nada
se escucha el llanto agudo
vuelvo a mi silla y miro la cara
paso las fotos de nuevo y no me doy cuenta
si es mejor que sonría apenas
me paro, me estiro y el llanto del animal marca el ritmo
miro la cara desde donde estoy
qué raro, desde lejos cambia, la mirada parece amenazadora
vuelvo a la silla, perdí el rumbo del día número 7 del mes número 6
no almorcé y ya es tarde para hacerlo, tendré que asumir que este día
tendrá una comida menos
y un factor externo clavado en el centro,
vuelvo al pulmón
me asomo
el viento me confunde, no sé ni siquiera
desde qué lado viene el llanto
alguien grita que callen al animal
el animal deja de llorar durante unos segundos y aúlla con fuerza
suena el teléfono, atiendo
mi madre me pregunta como estoy y se horroriza por el llanto
propone que hablemos después, corta
antes dice: pobre animal y no sé qué del mundo
cierro los ojos y la cara de la mujer aparece intacta en mi memoria,
ya está, ya es parte de lo que voy a recordar
me siento al borde del pulmón
acompaño al animal, pienso si estará atrapado, sintiendo dolor físico o simplemente solo
suena el teléfono de nuevo pero no atiendo
voy a la cocina, enciendo la hornalla
miro el fuego, el animal deja de llorar de golpe
apago el fuego y me arrepiento
que venga un resplandor, que venga ahora,
pasan las horas y a veces
es difícil organizarse.


A queixa de um animal não me larga
filtra-se a partir de algum departamento próximo
olho para o monitor, passo um e outra vez as imagens
praticamente iguais, um roto de mulher madura
a diferença é uma careta quase impercetível
a queixa do animal é mais forte
assomo ao pulmão do edifício e não se vê nada
escuta-se a dor aguda
volto à minha cadeira e olho a cara
repasso as fotos de novo e não dou conta
se é melhor sorrir apenas
paro, estico-me e o choro do animal marca o ritmo
olho para a cara a partir de onde estou
é esquisito, de longe muda, o olhar parece ameaçador
volto à cadeira, perdi o norte do dia número 7 do mês número 6
não almocei e já é tarde para isso, terei de assumir que este dia
terá uma refeição a menos
e um fator externo cravado no centro,
volto ao pulmão,
assomo
o vento confunde-me, nem sei sequer
de que lado vem o choro
alguém grita calem o animal
o animal deixa de chorar alguns segundos e uiva com força
toca o telefone, atendo
a minha mãe pergunta-me como estou e fica horrorizada com o choro
propõe que falemos depois, desliga
mas antes diz: pobre animal e não sei quê do mundo
fecho os olhos e o rosto da mulher aparece intacto na minha memória,
já está, já faz parte do que vou lembrar
sento-me à beira do pulmão
acompanho o animal, penso se estará enjaulado, sentindo dor física ou se sentirá simplesmente só
toca o telefone de novo mas não atendo
vou à cozinha, ligo o fogão
olho para o fogo, o animal deixa de chorar de repente
apago o fogo e arrependo-me
que venha um esplendor, que venha agora,
passam as horas e às vezes
é difícil organizarmo-nos.

17 novembro 2020

blanca álvarez caballero


Insomnio
I
Templo, pozo, túnel
en que descansa
mi cuerpo dolorido.
Sigilosa abandono
mis dedos sobre tu pecho.
Urgan mis labios
tus rozados pezones
que poco a poco bebo.

Y lenta bajo.
Liviano eres
hasta engullirme
en tus entrañas
y saborear tu grito
dentro de mí,
como el insomnio
que no cede.

Allí, donde el clonazepam
no cumple sus efectos.
Me hiendes, marinero.
Tu agua en calma acecha
en cada imagen tuya
dispuesta a revolcarse
en mi marea.


Insónia

I
Templo, poço, túnel
em que descansa
meu corpo dorido.
Sigilosa abandono
meus dedos sobre o teu peito.
Meus lábios estão a queimar
os teus rosados mamilos
que pouco a pouco bebo.

E desço devagar.
És leve
até me engolires
nas tuas entranhas
e saborear o teu grito
dentro de mim,
como a insónia
que não cede.

Aí, onde o clonazepam
não cumpre os seus efeitos.
Fendes-me marinheiro.
A tua água em calma espreita
em cada imagem tua
disposta a revirar-se
na minha maré.


14 novembro 2020

dalia alonso


Arrugas

«repente in osculis Liviae et in hac voce
defecit: Livia, nostri coniugii memor vive,
ac vale!»
Suetonio, Vita Caesarum
Ahora que declina el día
y en tus ojos se echan a dormir
suaves líneas de tierra lejana
y playa,

ahora que en torno a tus labios
reposan sonrisas antiguas
y del hogar los besos últimos
de amor,

ahora más que nunca te deseo:
deseo tu sed, tu voz, tu tiempo,
y tu cuerpo que ya es más tacto mío
que cuerpo.


Rugas

«repente in osculis Liviae et in hac voce
defecit: Livia, nostri coniugii memor vive,
ac vale!»
Suetónio, Vita Caesarum
Agora que o dia declina
e nos teus olhos se deitam a dormir
suaves linhas de terras distantes
e praia,

agora que em volta dos teus lábios
repousam sorrisos antigos
e do lar os últimos beijos
de amor,

agora mais que nunca te desejo:
desejo a tua sede, a tua voz, o teu tempo,
e o teu corpo que já é mais tato meu
do que corpo.


13 novembro 2020

gata cattana

 

¿Qué es el amor?


Soy procaz, no soy sincera,

y el día que yo me muera

se muere lo que más quiero,

que no hay amor verdadero

para aquel que no se espera,

y como yo no te espero

soledad es mi compañera.


Pues ¿qué es el amor

para aquel que no lo encuentra?

Un anhelo insaciable,

verdugo del alma cuerda.


Pues ¿qué es el amor

para aquel que atormenta?

Un yugo sobre su frente,

víspera de muerte lenta.


¿Y para aquel que lo guarda

en su garganta hambrienta?

El amor es como un juego,

es ambrosía y néctar.


Para mí el amor no existe,

es cantar de los poetas,

pues no hay amor complaciente

para aquel que no lo espera.



O que é o amor?


Sou procaz, não sou sincera,

e no dia em que eu morrer

morre o que mais quero,

que não há amor verdadeiro

para quem não se espera,

e como eu não te espero

a solidão é minha companheira.


Pois o que é o amor

para quem não o encontra?

Um desejo insaciável,

carrasco da alma sã.


Pois o que é o amor

para quem por ele se atormenta?

Um jugo na sua testa,

véspera de uma morte lenta.


E para quem o guarda

na sua garganta faminta?

O amor é como um jogo,

é ambrósia e néctar.


Para mim o amor não existe

é cantiga de poetas

pois não há amor complacente

para quem não o espera.


12 novembro 2020

cristina angélica


Ascensores

Quise llegar al décimo piso
sin que se abriera ni una sola vez la puerta.
Siempre he tenido prisas por vivir,
cumplir años y ver cómo la vida avanza.

Ahora solo pienso que ojalá pudiera
volver a bajarme en alguna de esas plantas,
donde mis hermanas y yo aún nos vestimos juntas,
nos trenzamos el pelo,
donde mis padres no necesitan de analgésicos
para dormir bien.

Le doy al botón de emergencias
pero nunca consigo que el ascensor se pare.


Elevadores

Quis chegar ao décimo andar
sem que se abrisse uma única vez a porta.
Sempre tive pressa de viver,
de fazer anos e ver como a vida avança.

Agora só penso em que oxalá pudesse
voltar a descer a alguns desses pisos,
onde as minhas irmãs e eu ainda nos vestimos juntas,
entrelaçamos os cabelos,
onde os meus pais não precisam de comprimidos
para dormir bem.

Carrego no botão de emergência
mas nunca consigo que o elevador pare.

09 novembro 2020

victoria león


Rastro del fuego

La poesía exige incandescencia,
vivir, o haber vivido, entre las llamas,
bajar al propio infierno sin más guía,
haber mirado el mar sin esperanza
y conservar, al menos, un puñado
de cenizas que aún quemen en el alma.


Rastro do fogo

A poesia exige incandescência,
viver, ou ter vivido, entre as chamas,
descer ao próprio inferno sem qualquer guru
ter olhado o mar sem esperança
e conservar, pelo menos, um punhado
de cinzas que ainda queimem.


06 novembro 2020

judith santoprieto


Ce cihua huallahqui Bronx

Inihhuantin huallohhuih ica tlen quipiyah ce acaquiliztocayotl
tlen axquemman polihuiz

Cihuameh huallohuih ica inintzoncal tlaxinepalolli tlen cuatitlan huan cuatitlamitl
tlacayocuechtiqueh ica chipahuatonatiuh
tlen quintotocac cahcanahya campa nehnemiyayah.

Ni cihua quimatqui nopa tlamixtentonatiuh
quemman ya mahmauhtinemiyaya Bronxohtli achtohui huelta

Ne tlatotoniya ohtipan
atl tlen tepozcoameh quizah pan tlallihtic techamacac


Uma mulher no Bronx

Eles vêm com os seus nomes de sons de água
que jamais se apagarão

Elas vêm com os seus cabelos emaranhados de floresta e selva
seus corpos martajados por um sol branco
que as seguiu por todos os lugares por onde caminhavam

Essa mulher ficou a saber disso naquele dia enevoado
quando percorria temerosa as ruas do Bronx pela primeira vez

Nesse verão
a água dos hidrantes brotados da terra
deu-nos de beber.



03 novembro 2020

maría malinovskaya


основано на речи реальных людей, страдающих психическими расстройствами

Ирина
1
голоса у нас слышу не только я
но и мать сестра умерший отец
они слышат меня
что поют мои голоса
и у них свои голоса
я это знаю точно
я слышу только свои голоса

все они травят меня
потому что у меня первой
пошли голоса
окружающим видно моими глазами
и передаются мои чувства
у людей это возникает в мозге
но они могут переключать внимание
и не видеть моего

окружающие видят мои сны
сны плохие
меня имеют разными способами внеземные
на этих снах всё и держится у окружающих
они хотят наблюдать за этим

голоса
поносят меня распоследним способом
поносят мать
остальные слушают
иногда странно высказываются

от меня все отвернулись

бывший муж
пишет мне странные вещи
кричит непотребности
меня не за что было упрекнуть при совместной жизни
я всё время училась и не гуляла
в совместной жизни мы мало что позволяли
чтобы так со мной обращаться

окружающие мне молчат


baseado em conversações de gente real que sofre de transtornos mentais.

Irina
1
não ou só eu que oiço as nossas vozes
também a minha mãe a minha irmã o meu pai morto
estão a ouvir-me
ouvem que as minhas vozes cantam
que têm vozes próprias
sei isso de certeza
tudo o que oiço são as minhas vozes

todas elas me perseguem
porque eu fui a primeira
a deixá-las sair
as restantes à minha volta vêm com os meus olhos
e o meu sentir é transmitido
tal ocorre no cérebro das pessoas
embora elas possam desviar a atenção
e não fazer caso de mim

os restantes veem o meus sonhos
os sonhos são maus
conduzem-me de formas diferentes
nestes sonhos tudo é sustido por eles
querem controlar tudo

as vozes
ofendem-me de formas horríveis
insultam a minha mãe
e as restantes ouvem-nas
embora dificilmente digam alguma coisa

todos estão zangados comigo

o meu ex-marido
escreve-me coisas esquisitas
grita-me obscenidades
quando vivíamos juntos não tinha nada para me reprovar
eu estudava o tempo todo e não saía
na nossa vida juntos não estava permitido
tratar-me assim

os restantes mandam-me calar

31 outubro 2020

ketty blanco


Cebollas moradas

Él no puede dejar de sangrar,
entonces corre a la cocina y
corta cebollas.
Ella come dulces
hasta que el azúcar se vuelve vértigo,
se esconde para cortar
cebollas.
Ante estas ganas de matar,
corto los bulbos en trozos muy delgados.
Miro el filo del cuchillo. El agua corre.


Cebolas roxas

Ele não consegue parar de sangrar
então corre para a cozinha e
corta cebolas.
Ela come doces
até o açúcar se tornar náusea,
esconde-se para cortar
cebolas.
Perante tais pulsões de morte
corto os bolbos em pedaços muito finos.
Olho para o fio da faca. A água corre

28 outubro 2020

edda armas


Fugada de mí

Importará el umbral del deseo
tanto como el umbral del dolor.
Mirador alto desde el cual catar
la fruta hendida al alzar la vista
por encima de su dura cáscara.
Reto que forja alas a lo inseguro.

Fugada de mí, fugada de ti.
Fugada de todas las que pude ser,
ahondada en la que decidí ser entre ellas.

Vuelo del rasgar lo inmantado, si
las reminiscencias ultrajas,
si el desencanto descuelgas, y
desarmas los sueños recurrentes.

Otro lugar sin anunciada claridad.
Pozo aquel, donde duerme el dragón.
Otra quimera. El único trofeo que,
holísticamente, harás una ganancia.


Fugida de mim

Importará o limiar do desejo
tanto como o limiar da dor.
Mirante alto a partir do qual se prova
a fruta fendida no elevar os olhos
por cima da sua dura casca.
Desafio que forja asas para o inseguro.

Fugida de mim, fugida de ti,
Fugida de todas as que não consegui ser,
afundada na que decidi ser entre elas.

Voo para rasgar o imaturo, se
as reminiscências ultrajas,
se o desencanto surge e
desarmas os sonhos recorrentes.

Outro lugar sem anunciada claridade
Poço esse, onde dorme o dragão.
Outra quimera. O único troféu que
holisticamente te dará lucro.



25 outubro 2020

alicia salinas


Gallina ciega

Antes de comenzar el juego conoció el fulgor.
Pero le quitaron el brillo, las brasas. Se reveló
entonces la ajenidad de las aureolas: la luz
no es de nadie, la oscuridad
de todos.

No importa quién vendó, de dónde
la recomendación de la tiniebla.
Es hora de (vol) ver.
Esta gallina se rebela a la ceguera, al titubeo.
Otros fuegos se esparcen en la noche.

Doloroso tendal traman los pasos,
y sin embargo a su través se atisba
el final del túnel.

Hoy nadie puede la indiferencia
ante semejante voluntad
de abjurar La Sombra.


Galinha cega

Antes de começar o jogo conheceu o fulgor.
Mas tiraram-lhe o brilho, as brasas. Revelou-se
assim a estranheza das auréolas: a luz
não é de ninguém, a escuridão
é de todos.

Não interessa quem vendou, de onde veio
a recomendação da treva.
É tempo de (vol) ver.
Esta galinha esperneia contra a cegueira, a tibieza.
Outros fogos espargem na noite.

Doloroso estendal tramam os passos,
porém através deles se vislumbra
o fim do túnel.

Hoje ninguém consegue a indiferença
perante semelhante vontade
de abjurar A Sombra.