10 fevereiro 2018

blanca wiethüchter

territorial
(fragmento)

sólo tengo este cuerpo. estos ojos y esta voz
esta larga travesía de sueño cansada de morir.
conservo el temor al atardecer.
no se comunica con nadie.

por mi modo de andar
algo descubierto un poco esperando
cambio frecuentemente de parecer
conmigo no puedo vivir segura.

habito un jardín de palabras
que han dejado de nombrarme
para nombrarla.
no me atrevo
pero es necesario decirlo. es un secreto.
en realidad somos dos.

ahora debo inventar a la otra.


territorial
(fragmento)

só deste corpo disponho. Estes olhos e esta voz
esta longa travessia de sonho cansada de morrer.
Conservo o temor ao fim da tarde.
Não se comunica com ninguém.

Pelo meu modo de andar
meio descoberto um pouco à espera
mudo frequentemente de aspeto
comigo não consigo viver segura-

habito um jardim de palavras
que deixaram de me nomear
para a nomear.
não me atrevo
mas é preciso dizer. É um segredo
na verdade somos dois.

Agora tenho de inventar a outra.




07 fevereiro 2018

verónica jiménez

¿Cómo debería ser una persona
que vigila un horno?

Enciendo un cigarrillo
miro el tiempo convertirse en ceniza.

Soy la vieja cocinera de La strada
aprieto la mandíbula al aspirar
nadie ve
cómo se vuelve piedra
el corazón cercado por el humo.

Ella alimentaba muchedumbres
siempre había demasiada hambre.

El vacío tras capas de piel y de sudor
se disgregaba y se reunía una y otra vez.

Buscaba palabras: demasiado, innumerable.

Los superlativos
eran las formas abstractas de su herida.

Como deveria ser uma pessoa
que vigia um forno?

Acendo um cigarro
vejo o tempo converter-se em cinza.

Sou a velha cozinheira de La Strada
aperto a mandíbula ao aspirar
ninguém vê
como se torna pedra
o coração sitiado pelo fumo.

Ela alimentava multidões
havia sempre demasiada fome.

O vazio debaixo de camadas de pele e suor
desagregava-se e juntava-se vezes sem conta.

Procurava palavras : demasiado, inumerável.

Os superlativos
eram as formas abstratas da sua ferida. 

03 fevereiro 2018

eleonora rimolo

SONO IO, mi riconosci,
ho un sopracciglio che supplica
il conto, alla fine di un misero
pasto: hanno appena
asfaltato, mi dici, ora
è quasi pronto, il cortile
che ci accoglie ha perso pure
l’ultimo coriandolo di verde,
un gorgoglio ci ricorda che
esistono ancora le fogne,
scrigni oscuri, custodi ultimi
delle lenzuola che solamente
sognammo di annusare.

SOU EU, reconheces-me,
tenho uma sobrancelha que suplica
a conta no fim de uma pobre
comida : apenas
asfaltaram, dizes-me, agora
está quase pronto, o pátio
que nos alberga até perdeu
o último coentro verde,
um borbotom lembra-nos que
ainda existem os esgotos,
cofres escuros, derradeiros anjos
dos lençóis que só
sonhamos cheirar.



31 janeiro 2018

sara torres

Yo abro tu pecho con mis diez dedos

Yo retiro la presión de las costillas
Hasta que tus pulmones se hinchan con gozo
Aumentan en tres su volumen

El aire que incorporas te hace levitar
Sobre las sábanas
Con la obstinación del corcho
Abandonas el fondo
Te impulsas hacia la superficie

Yo insuflo más aire desde tu ombligo
No cesa esa sed
Algunas burbujas de oxígeno se forman
Desatan tu risa

Ríes voces
Rastreo la genealogía de tus cantos
Yo te pregunto
Tú contestas:
Sobre las voces nada sé que pueda explicarse

Tómalo así por cierto

Tú me recoges y me llamas junto a ti
Diriges mi barbilla e introduces tu lengua
En esta boca de labios entreabiertos
Tú hablas dentro
Tú gimoteas y cantas dentro
Tú contestas:
Sobre las voces nada sé que pueda explicarse

Tómalo así por cierto

Abro o teu peito com os meus dez dedos

Retiro a pressão do lombo
Até os teus pulmões incharem de prazer
Por três se aumenta o seu volume

O ar que incorporas faz-te levitar
Sobre os lençóis
Com a obstinação da cortiça
Abandonas o fundo
Pulsas-te para a superfície

Insuflo mais ar a partir do teu umbigo
Não cessa essa sede
Formam-se algumas borbulhas de oxigénio
Desprendem o teu riso.

Ris vozes
Rastreio a genealogia dos teus cantos
Pergunto-te
Respondes :
Sobre as vozes nada sei que seja explicável.

É um adquirido

Recolhes e chamas-me para junto de ti
Orientas o meu queixo e introduzes a tua língua
Nesta boca de lábios entreabertos
Falas dentro
És queixume e canto dentro
Respondes :
Sobre as vozes nada sei que seja explicável.

É um adquirido



26 janeiro 2018

alessandra corbetta


Non c’è polvere indispensabile,
nemmeno quella tenuta religiosamente in silenzio
dentro le urne sacrali.
Nella polvere le sillabe sono scomposte,
non vogliono formare parole,
e dove tutto credevi tendere a più infinito
è solo gesso bianco
furtivamente sottratto dalla mano lesta della maestra
che cancella tutto
senza farti capire, senza farti copiare.

Como na escola

Não há pó indispensável,
nem mesmo o que é mantido religiosamente em silêncio
dentro de urnas sagradas.
No pó as sílabas são decompostas,
não querem formar palavras,
e onde todos julgavam tender ao infinito
é só gesso branco
furtivamente subtraído pela mão lesta da professora
que apaga tudo
sem te fazer compreender, sem te fazer copiar.



22 janeiro 2018

hélène nicolas

Etre autiste
Concept ordinaire de l’autocritique

Les ordres bousculent l’initiative itinérante. Tu es en chemin
D’exécution d’un acte dicté par la raison
Quelqu’un t’interpelle,
Otage de ton silence, tu perds la Raison de ton Acte

Livré à toi-même, ordre ou désordre, seul responsable,
Tu plonges dans le plus proche état disponible,
Egarant le mode d’emploi du contrat social,

KO relationnel puis Big Bang émotionnel
La faute à qui tout ça ?

Edifiante question
Est-on responsable de nos déficiences ?
Les autres sont-ils garants de nos absences ?

Ser autista
Conceito vulgar da autocrítica

As ordens alteram a iniciativa itinerante. Tu estás a caminho
Da execução de um ato ditado pela razão
Qualquer um te interpela.
Refém do teu silêncio, perdes a Razão do teu Ato.

Entregue a ti própria, ordem ou desordem, única responsável,
mergulhas no mais próximo estado disponível,
afastando o modo de emprego do contrato social,

KO relacional seguido de Big Bang emocional
De quem é a culpa de tudo isto?

Edificante questão
Somos responsáveis pelas nossas deficiências?
São os outros garantes das nossas ausências?



18 janeiro 2018

lydie dattas

Jour et nuit

Ma jeunesse a été si absolument pure :
j'ai traversé la nuit sans craindre de mourir
quand la nuit n'était rien qu'absolument la nuit,
j'ai marché dans la nuit sans douter de l'aurore
lorsque la nuit doutait de ses propres étoiles.
J'ai marché dans la nuit comme au milieu du jour :
le ciel était couvert entièrement d'étoiles,
les étoiles éclairaient autant que le soleil,
ce terrible soleil qui éclaire la nuit.
La nuit me consacrait ses heures les plus belles,
la nuit avait pour moi la beauté de l'azur,
je buvais la rosée dans la coupe des roses,
les étoiles étaient aussi jeunes que moi.
La beauté jour et nuit se tenait près de moi :
je craignais la beauté plus que ma propre mort,
je ne préférais rien à la beauté des anges.
La neige jalousait la pureté de l'âme :
la neige me devait en partie sa beauté,
la neige qui laissait sa beauté dans mon âme.

Dia e noite

A minha juventude foi tão absolutamente pura :
atravessei a noite sem medo de morrer
quando a noite mais não era que absolutamente a noite,
andei pela noite sem duvidar da aurora
mesmo que a noite duvidasse das suas próprias estrelas.
Andei pela noite como pelo meio do dia:
o céu estava inteiramente coberto de estrelas
as estrelas iluminavam tanto como o sol,
esse terrível sol que ilumina a noite.
A noite consagrava-me as suas mais belas horas,
a noite tinha para mim a beleza do azul
eu bebia o orvalho na taça das rosas,
as estrelas eram tão jovens quanto eu.
A beleza dia e noite mantinha-se junto a mim:
eu temia a beleza mais que a minha própria morte,
eu não preferia nada à beleza dos anjos.
A neve tinha ciúmes da pureza da alma:
a neve devia-me em parte a sua beleza,
a neve que deixava a sua beleza na minha alma.



14 janeiro 2018

mireia calafell

Balenes Franques

Quina delícia el joc de les balenes
quan no hi havia espècies ni hemisferis.
Quanta complicitat sota la mar
abans de l’espetec, de l’estampida,
d’aquell fugir sense saber per què
cap a altres oceans i separar-se,
d’aquell partir-se el gel inexplicable.
I ja mai més els dies sense temps
on tot el que calia era saltar,
i ja mai més foren regals les ones
sinó un recordatori de distàncies,
el dolor constant de qui ha perdut l’altre.

S’estimaven, jo sé que s’estimaven.
És fàcil reconèixer en els teus ulls
el moviment tectònic de l’adéu,
l’angoixa a la mirada de les bèsties,
com d’alts eren els salts que tu i jo fèiem.

Baleias Francas

Que delícia a brincadeira das baleias
quando não havia espécies nem hemisférios.
Quanta cumplicidade debaixo do mar
antes do estouro, da debandada
desse fugir sem saber porquê
para outros oceanos e apartar-se,
desse inexplicável partir do gelo.
E já nunca mais os dias sem tempo
em que o mais importante era saltar,
e já nunca mais os dias sem tempo
onde a única coisa importante era saltar,
e já nunca mais foram prendas as ondas
sem uma recordação de distâncias
a dor permanente de quem perdeu o outro.

Gostavam-se, eu sei que se gostavam,
É fácil reconhecer nos teus olhos
o movimento tectónico do adeus,
a angústia no olhar das bestas
tão altos eram os pulos que tu e eu dávamos.



Literatura


No t’ha besat i ha marxat amb pressa,

i ha arribat a casa, i ha encès l’ordinador,

i ha escrit no t’he besat, no t’he besat la boca

i ara què en faig jo d’aquest voler-te als llavis.


En fa literatura. Només literatura.



Literatura


Não te beijei e desapareci em pressa,

cheguei a casa e liguei o computador

e escrevi que não te beijei, que não te beijei a boca

que farei agora deste querer-te nos lábios.


Faz literatura. Apenas literatura.



10 janeiro 2018

robin coste lewis

Plantation

And then one morning we wake up
embracing on the bare floor of a large cage.

To keep you happy, I decorate the bars.
Because you had never been hungry, I knew

I could tell you the black side
of my family owned slaves.

I realize this is perhaps the one reason
why I love you: because I told you this

and you still wanted to kiss
me. We laughed when I said plantation,

fell into our chairs when I said cane.
There were fingers on the floor

and the split bodies of women
who’d been torn apart by horses

during the Inquisition. You’d said
Well I’ll be damned!

Every now and then, you’d change
from a prancing black buck

into a small high yellow girl: pigtailed,
patent leather, eyes spinning gossamer, begging

for egg salad and banana pudding.
Or just as quickly you’d become the girl’s mother, pulling

yourself away from yourself.
Because my whole head was covered

with a heaving beehive, you thought I didn’t
notice. I noticed. I cried honey.

And then you were fourteen, and you had grown
a glorious steel cock under your skirt. To brag

you rubbed yourself against me. Then your tongue
was inside my mouth, and I wanted to say

Please ask me first, but it was your tongue,
so who cared suddenly

about your poor manners?
We had books and a waterfall

was falling in the corner.
I didn’t tell you I couldn’t

remember what that thing was you said
to me once, that tender thing you’d said

I should never forget.
The moment you said it, I forgot it.

I wondered if you thought we were lost.
We weren’t lost. We were loss.

And meanwhile, all I could think
about was the innumerable ways

I would’ve loved to have eaten you. How
being devoured can make one cry. And I hoped

you liked the pleasant taste
of juiced cane. You pulled

my pubic bone toward you. I didn’t
say It’s still broken; I didn’t tell

you, There’s still this crack. It was sore,
but I stayed silent because you were smiling.

You said, The bars look pretty, Baby,
then rubbed your hind legs up against me.


Plantação

E então uma manhã acordamos
abraçados ao chão descalço de uma grande jaula.

Para te manter feliz decorei as grades.
Como nunca tinhas passado fome, sabia

que te podia contar que o lado negro
da minha família possuiu escravos.

Compreendo que esta é talvez uma das razões
porque te amo : por te ter dito isso

e mesmo assim quiseste beijar-me
Rimos quando disse plantação.

esparramadas nas nossas cadeiras quando eu disse cana
Havia dedos no chão

e os corpos bipartidos de mulheres
que tinham sido despedaçadas por cavalos

durante a Inquisição.
Disseste, Maldita seja!

De vez em quando, deixavas de ser
um antílope revoltado

para seres uma dessas jovens mestiças : com trancinhas,
couro envernizado, olhos tecendo teias de aranha, implorando

salada de ovo e pudim de banana.
Ou de repente te convertias na mãe da rapariga, puxando-te

para fora de ti.
Como toda a minha cabeça se encontrava coberta

por uma colmeia extravasante julgaste
que eu não tinha dado conta. Mas dei. Chorei mel.

E já tinhas crescido e tinha-te crescido
um glorioso falo debaixo da saia. Para te vangloriares

esfregaste-te contra mim. Aí a tua língua
estava dentro da minha boca e eu quis dizer

Por favor, pergunta primeiro, mas era a tua língua
assim, quem se importaria de repente

com a tua falta de educação?
Tínhamos livros e uma queda de água

precipitava-se para um canto.
Nunca te disse que não me conseguia

lembrar o que me disseste
nessa altura, as ternuras que pronunciaste

Nunca o devia ter esquecido.
Quando as disseste, esqueci-as.

Julgo que pensavas que estávamos perdidas,
Não estávamos perdidas. Éramos a perda.

E entretanto só conseguia pensar
nas infinitas maneiras

que tinha fantasiado para te comer. Como
ser devorado pode fazer alguém chorar. E esperava

que gostasses do aprazível sabor
do sumo da cana. Puxaste

o meu osso púbico contra ti. Não te disse
continua partido, não te disse

ainda permanece aquela fratura. Doía
mas permaneci em silêncio porque estavas a sorrir.

Disseste, as grades são lindas, amor,
então esfregaste as tuas coxas em mim.



06 janeiro 2018

ela iakab

Vin îngerii

prin sângele meu istovit au trecut
înfrigurări fără nume

nemişcat am rămas în pulberea imensă
strigându-te cu glas de moarte

te va striga şi moartea mea cu glasul ei
când trupul meu de carne va fi amorţit
când trupul meu astral îşi va fi sfâşiat
ultima lumină

de câte ori moartea mă apropie de tine
vin îngerii
şi sădesc focuri stranii
în rănile mele


Chegam os anjos

pelo meu sangue esgotado sulcam e sulcam
crepúsculos febris

imóvel moribunda neste mar de pó
digo o teu nome

a minha morte chegará a chorar-te com uma nova voz
quando a carne em mim se torne pedra
quando o meu corpo astral seja apenas cacos
de outra luz

sempre que a morte nos ronda
chegam os anjos
os prodigiosos anjos
que deixam brilhar estranhos fogos dentro das minhas feridas



02 janeiro 2018

laura pugno

 ritroverai la tua casa
sparsa tra gli alberi
il letto nel legno di ulivo,
il resto
così profondamente nel bosco

stracci di abiti bianchi
tra i rami

improvvisamente, germogli di verde, verdeazzurro
come acqua

sopra quanto è distrutto
sopra quando è distrutto lo splendore –

reconhecerás a tua casa
desfeita entre as árvores
a cama na madeira da oliveira,
o resto
profundamente no bosque

restos de vestidos brancos
entre os ramos

de repente, rebentos de verde, verde-azul
como a água

sobre tudo o que foi destruído

sobre tudo o que foi destruído o esplendor -



31 dezembro 2017

caitlyn siehl

 STRETCH MARKS

I learned how to be big by accident.
I was 10 and I didn’t look like the other girls.
I was 10 and it was too late to turn back.
The kids had already learned how to
wield the knives under their tongues
so I kept quiet when they spat.
I stayed soft and I forgave.

The first few popped up on my inner thight
when I turned fourteen, splaying out like
white trees on smooth skin.

When I told my friends, they did not look proud.
I learned how to be big by accident.

A patch reached across my hips when I turned 16 and
the white rivers opened up into a delta on my calves.
I was a landscape.
I was art.

I kept growing and they kept coming like refugees
from some falling country.
“Give me your tired, your poor.”

I am a city of sounds.
I will keep you safe.

I know I am supposed to feel ugly.
They all tell me that no woman
should look so well-traveled,
but they do not know.

I am earth. I am sun and skies.
I am the high road, the low road.
I am every poem about skin.
I am a world that cannot be explored in one day.
I am not a place for cowards.


Estrias

Aprendi a ser adulta por acidente.
Tinha dez anos e não me parecia com as outras meninas.
Tinha dez anos e era demasiado tarde para voltar atrás.
Os miúdos já tinham aprendido a
colocar as facas debaixo das suas línguas
assim calei-me quando cuspiram
Permaneci calma e perdoei.

As primeiras apareceram na parte interna da minha coxa
quando fiz catorze anos, estendendo-se como
árvores brancas sobre suave pele.

Quando disse aos meus amigos, eles não pareceram ficar orgulhosos.
Aprendi a ser adulta por acidente.

Uma mancha estendeu-se pelas minhas ancas quando fiz 16 anos e
os rios brancos se abriram até um delta nas minhas pernas.
Eu era uma paisagem.
Eu era arte.

Continuei a crescer e continuaram a vir como refugiadas
de algum país em queda.
Dai-me os vossos cansados, os vossos pobres”

Sou uma cidade de sons
Manter-vos-ei em segurança.
Sei que se supõe que deveria sentir-me feia.
Todos me dizem que nenhuma mulher
devia parecer tão vivida,
mas eles não sabem.

Sou a terra. Sou o sol e os céus.
Sou o caminho alto, o caminho baixo.
Sou todos os poemas na pele.
Sou um mundo que não pode ser explorado num dia.
Não sou um lugar para cobardes.


29 dezembro 2017

laura borghesi

Apocalisse

Si dovrebbe avere il diritto di scegliersi l'apocalisse
atea senza lampi e frastuoni,
potrebbe essere attimo
come la radice che sa quando solcare il terreno,
potremmo diventare terminazioni capillari
che si processano sole.
Com'è difficile lo slabbro dell'assenza
è l'uscita impazzita di qualche pianeta contro la gravità.
Diventa santo l'ultimo gesto fatto
sa cadere insieme alla cenere nello scacco rosso della tela.

Apocalipse

Devíamos ter direito a escolher o apocalipse
ateu sem relâmpagos nem barulhos,
podia ser um instante
como a raiz que sabe quando sulcar o chão,
poderíamos converter-nos em terminações capilares
que se processam sozinhas.
Tal como é difícil a deformação da ausência
também o é a saída enlouquecida de qualquer planeta contra a gravidade.
Torna-se santo o último gesto proferido
sabe cair ao pé da cinza na casa vermelha do xadrez de pano.