13 abril 2019

jorgelina soulet


Cuando pelaste la cebolla
para la ensalada
supe
que darme un beso
no estaba en tus planes.
Dudé por un instante
porque cebolla más cebolla
se neutralizan
pero no
nunca miraste esta boca
que hace ya veinte años
solo sabe decirte cosas
con paciencia y deseo.
Cuando agregaste comino
semillas de hinojo
y una pizca de curry
pensé
solo falta el ajo
para ahuyentarme
cual vampiro
lejos
bien lejos de tu boca.
Si pudiera
si fuese capaz
de preparar
una ensalada para vos
no pondría ajo
ni romero
ni comino
tampoco cebolla.
No tendría la acidez del limón
pero sí la sutileza del vinagre
y la untuosidad del aceite de coco.
Si pudiera
no pensar más en tu boca
que no quiere
comerse la mía.
Pero no puedo
y mientras mastico la berenjena
tengo una epifanía:
jamás vas a mirarme
como te miro a vos.
Con semejante revelación
trago la zanahoria
sin masticarla
quiero irme pronto
para llorar tranquila
dejar de mirarte
y pelar la cebolla
que voy a comer
sola
esta noche
lejos
muy lejos
del deseo.

Quando descascaste a cebola
para a salada
soube
que dares-me um beijo
não fazia parte dos teus planos.
Duvidei por um instante
porque cebola mais cebola
se neutralizam
mas não
nunca olhaste esta boca
que h+a já vinte anos
só sabe dizer-te coisas
com paciência e desejo.
Quando juntaste cominho
sementes de funcho
e um bocadinho de caril
pensei
só falta o alho
para me afugentar
qual vampiro
longe
bem longe da tua boca.
Se pudesse
se fosse capaz
de preparar uma salada para ti
não meteria alho
nem alecrim
nem cominho
nem sequer cebola.
Não teria a acidez do limão
mas sim a subtileza do vinagre
e a untuosidade do óleo de coco.
Se pudesse
não pensar mais na tua bocadinho
que não quer
comer a minha.
Mas não consigo
e enquanto mastigo a beringela
tenho uma epifania :
jamais me olharás
como eu te olho
Com semelhante revelação
engulo a cenoura
sem a mastigar
quero ir já embora
para chorar tranquila
deixar de te olhar
e descascar a cebola
que vou comer
sozinha
esta noite
longe
muito longe
do desejo.



10 abril 2019

blanca lema


Este doble temblor

Hay pensamientos que llegan
y uno no sabe qué hacer con ellos.

Dónde dejarlos
cómo apoyarlos.

Parecen una rosa
sosteniéndose con esfuerzo
dentro de una espiral
que ya no crece.

Si tan sólo yo supiera
salmodiar la belleza
de su doble temblor.

He muerto poco.
Debo morir más.

Estar más cerca del momento
en que se forma el gesto del pájaro.

Un segundo con el plumaje
de la mañana
piadosa
a pesar de todo.

El eco es salvaje.

Este duplo tremor

Há pensamentos que chegam
e não sabemos o que fazer com eles.

Onde os deixar
como os apoiar.

Parecem uma rosa
sustendo-se com esforço
dentro de uma espiral
que já não cresce.

Se ao menos eu soubesse
salmodiar a beleza
do seu duplo tremor.

Morri pouco.
Tenho de morrer mais.

Estar mais próxima do momento
em que se forma o gesto do pássaro.

Um segundo com a plumagem
da manhã
piedosa
apesar de tudo.

O eco é selvagem.

07 abril 2019

kim moore


If We Could Speak Like Wolves

If I could wait for weeks for the slightest change
in you, then each day hurt you in a dozen
different ways, bite heart-shaped chunks
of flesh from your thighs to test if you flinch
or if you could be trusted to endure,

if I could rub my scent along your shins to make
you mine, if a mistake could be followed
by instant retribution and end with you
rolling over to expose the stubble and grace
of your throat, if it could be forgotten

the moment the wind changed, if my eyes
could sharpen to yellow, if we journeyed
each night for miles, taking it in turns
to lead, if we could know by smell
what we are born to, if before we met

we sent our lonely howls across the estuary
where in the fading light wader birds stiffen
and take to the air, then we could agree
a role for each of us, more complicated
than alpha, more simple than marriage.

Se pudéssemos falar como lobos

Se eu pudesse esperar semanas pela mais pequena mudança
em ti,aí todos os dias te magoaria de uma dúzia
de maneiras diferentes, morderia bocados em forma de coração
da carne em tuas coxas para ver se estremeces
ou se és credível para suportar,
Se pudesse esfregar meu aroma ao longo de seu acne
para fazer-te meu, se um erro pudesse acontecer
de uma retribuição instantânea e acabar contigo
rodando para expor a barba de três dias e a graça
da tua garganta, se pudesse esquecer o momento

em que o vento mudava, se os meus olhos
pudessem tornar-se amarelos, se viajássemos
milhas todas as noites, revezando-nos para conduzir,
se pudéssemos saber pelo olfato
para que nascemos, se antes de nos conhecermos,

enviássemos nossos uivos solitários através do estuário,
onde no meio da ténue luz as garças se endereçam
e empreendem o voo, então podíamos
determinar um papel para cada um de nós, mais complicado
que o Alfa, mais simples que o casamento.


04 abril 2019

franca mancinelli


Indosso e calzo ogni mattina forzando, come avessi sempre un altro numero, un’altra taglia. Cresco ancora nel buio, come una pianta che beve dal nero della terra. Per vestirsi bisogna perdere i rami allungati nel sonno, le foglie più tenere aperte. Puoi sentirle cadere a un tratto come per un inverno improvviso. Nello stesso istante perdi anche la coda e le ali che avevi. Da qualche parte del corpo lo senti. Non sanguini, è una privazione a cui ti hanno abituato. Non resta che cercare il tuo abito. Scivolare come un raggio, fino al calare della luce.

Visto e calço fortemente todos os dias, como se tivesse sempre outro número, outro figurino. Na escuridão continuo a crescer como uma planta que bebe o negro da terra. Para nos vestirmos é preciso perder os ramos largos do sonho, as folhas mais ternas abertas. Podes ouvi-las cair de repente como se tocadas por um inverno imprevisto. No mesmo instantes perdes a cauda e as asas que tinhas. Sentes isto em algum lugar do corpo. Não sangras, é uma privação com que te formataram. Não fica nada para te vestir. Deslizas como um raio até que a luz te caia.


01 abril 2019

julia szychowiak


szłam pod wodę, żeby myśleli, że tonę

Weszłam pod wodę, żeby myśleli, że tonę.
Miałam sen w wodzie o dziecku, które biegło
po szkle, gubiąc za sobą palce, włosy, paznokcie.

Nie było widać, którędy w nie weszło to światło,
za którym stoję. Marzły mi oczy, kiedy nie patrzyłam.

Potem, kiedy mnie wszyscy słyszeli, chcieli
wiedzieć, jak bardzo boli. Nie powiedziałam nic
i chciałabym zrobić to raz jeszcze.

Andei debaixo de égua para os convencer que me estava a afogar

Na água sonhei com um miúdo que corria
em cima do cristal ia perdendo os seus cabelos, unhas e dedos.

Não ficou esclarecido como esse rapaz foi atravessado pela luz
e eu ia atrás dele. Os meus olhos congelaram enquanto o olhava.

Depois, quando todos me conseguiram escutar, quiseram
saber se me doía. Não disse nada.
Gostaria de voltar a fazê-lo



29 março 2019

zehra cirak



Strange Wings On One’s Shoulders

You are righthanded I am lefthanded
as if by nature then we dream of flying
you have a wing on your left shoulder
and naturally I have one on my right
so in beating our wings we would wish
shoulder grown closely to shoulder
for liftoff.

On solid ground
we have agreed here for a long time
but woe betide there in the skies we could
be torn to bits
and so dependably we hold each other´s hand
my left hand in your right
and spend the evening mutually
scratching our itching shoulder blades

Raras asas nos ombros de alguém

És destro, eu sou surda
como se por natureza então sonhássemos voar
tens uma asa no teu ombro esquerdo
e naturalmente eu tenho uma no direito
assim ao bater as nossa asas queríamos
aproximar cada vez mais os nossos ombros
para poder descolar.

Em terra firme
encontrámo-nos aqui muito tempo
mas o constrangimento jaz ali no céu onde conseguimos
ser despedaçados
e assim em tanta dependência demos a mão
a minha mão esquerda na tua direita
e passamos a noite mutuamente
arranhando o ardor nas nossas costas

23 março 2019

ximena rivera



El vacío
No sé modular la palabra amor,
ese verbo grande y final.

Grande, grande es mi súplica,
mi ruego es comprender por qué
el amor demora siglos en llegar a ser amor.

O vazio
Não sei modular a palavra amor,
esse verbo grande e final.

Grande, grande é a minha súplica,
a minha prece é compreender porque é que
o amor demora séculos para chegar a ser amor.



20 março 2019

teresa bravo bañón


Mudéjar

Posiblemente nunca vuelva la música a esta plaza
y la fiesta del estío se amortigüe en mi memoria
hasta desprenderse de toda circunstancia.

El ángel del pináculo
nunca tocará para mí su trompeta de piedra,
ni existirá el mañana que me sueña
a lomos de mi suerte echada,
mientras yo me construyo otro sueño,
bien distinto y a extramuros de los hijosdalgos,
en el barrio mudéjar, con los hideputas.

Mudéjar

Talvez nunca volte a música a esta praça
e a festa do verão se amorteça em minha memória
até se libertar de todas as circunstâncias.

O anjo do pináculo
nunca fonará para mim a sua trombeta de pedra
nem vai existir um amanhã que me sonha
nas costas da minha sorte lançada,
enquanto construo um outro sonho,
muito diferente e fora das paredes dos fidalgos,
na bairro mouro, com os filhos da puta .

17 março 2019

maría magdalena


Edema de glotis

Caen los rayos de luz
en el sur del mundo.

Cuando la piel llama a respirar,
es mejor tomar aire.

Incluso el paraíso tiene sus
monstruos:
acechan al disiparse la bruma
en el instante de mayor claridad.

La vespula germánica sabe
dañar sin perder, como toda
reina madre. Sus rodeos
son como las vueltas sigilosas
que da el animal antes
de cazar a su presa.
Bella carnicera, inocula
el veneno a través del aguijón
o muerde: un ritual silvestre
desprovisto de magia.

Me expulso de los lugares
sagrados donde otra vida
parece posible.

Allí donde la tormenta
amenaza con destruirlo todo
recobro el aliento.

Pero el cuerpo no tiene memoria
para combatir la inteligencia
de la naturaleza.

Edema da glote

Caem raios de luz
no sul do mundo.

Quando a pele pede para respirar,
é melhor apanhar ar.

Até o paraíso tem os seus
monstros:
espreitam quando se dissipa a bruma
no instante de maior claridade.

A vespa germânica sabe
danificar sem perder, como qualquer
rainha mãe. Os seus rodeios
são como as voltas sigilosas
que o animal dá antes
de caçar a presa.
Bela carniceira, inocula
o veneno através do aguilhão
ou morde: um ritual silvestre
desprovido de magia.

Expulso-me dos lugares
sagrados onde outra vida
parece possível.

Ali onde a tormenta
ameaça destruir tudo
recobro o alento.

Mas o corpo não tem memória
para combater a inteligência
da natureza.


11 março 2019

nahilí jarcovsky


Instante

no sé exactamente
cómo capturar con mis manos
el amor y el olor
del verde de las plantas
o cómo perpetuar en el tiempo
este mismo instante

dicen que
las cosas minúsculas
son las que se olvidan fácilmente

pero no
no quisiera
dejar de ser pequeña

Instante

não sei exatamente
como capturar com as minhas mãos
o amor e o cheiro
do verde das plantas
o como perpetuar no tempo
esse mesmo instante

dizem que
as coisas minúsculas
são as que se esquecem facilmente

mas não
não queria
deixar de ser pequena


08 março 2019

mercedes alvarado


Había una manzana sobre la mesa
mañana estaba podrida, agusanada,
pasadomañana volví a mirarla
menos brillo, quizá. No se ha movido.

Nada sin mi mano se mueve en esta casa.

Ayer voy a comprar la manzana
que debí comer mañana cuando todavía
no había llegado a teñir su color.
En los siete días próximos olvidé el tiempo
que la vi junto a la estufa, quieta,
antes que el olor me recordara
que hoy mi casa no huele

Havia uma maçã em cima da mesa
amanhã estaria podre, com vermes,
depois de amanhã voltei a olhá-la
menos brilho, talvez. Não se moveu.

Nada sem a minha mão se mexe nesta casa.

Ontem vou comprar a maçã
que tive de comer amanhã quando ainda
não tinha chegado a tingir a sua cor.
Nos próximos sete dias esqueci o temporal
que a vi ao pé da estufa, quieta,
antes que o cheiro me recordasse
que hoje a minha casa não cheira



05 março 2019

marisa martínez pérsico


Autoerotismo de los moluscos

Nuestro amor
no es amor de visitante
sino de un inquilino
intimado por orden judicial
a despedirse
de una casa
que ha sentido suya.

No hay peligro.
No te irás de mi piel
por desalojo.

También las caracolas
van tocando a solas su sonata profunda
en recuerdo del mar.

Auto-erotismo dos moluscos

O nosso amor
não é amor de turista
antes de um inquilino
intimado por ordem judicial
a despedir-se
de uma casa
que sentiu sua.

Não há perigo.
No sairás da minha pele
por despejo.

Também os caramujos
tocam sozinhos a sua sonata profunda
em lembrança do mar.

02 março 2019

lorena sanmillán


Ok consciente

Nunca te enteraste
que mamá había perdido los dientes
preferiste pensar
que era exagerado hacerle una papilla.

Nunca te enteraste
que hacía mucho tiempo que no caminaba
asumiste
que ese día prefirió estar sentada.

Nunca te enteraste
que si confundía tu nombre
no era por hacerse la graciosa
era sólo una muestra del extraño baile
de su memoria.

Nunca te enteraste
que si hablaba de los abuelos
no era por nostalgia
era porque en su fantasía ese tiempo era actual.

Nunca te enteraste
que si repite la misma noticia de la tele o del radio
no es porque le haya impactado
es porque en su mente resuena una y otra vez.

Nunca te enteraste
que abandonó hilazas, aros y ganchos
dijiste
¡Milagro! Por fin tiene descansadas las manos.

Nunca te enteraste
que no era casualidad que estuviera apagado el radio
sólo te dio gusto
encontrar la casa en silencio.

Nunca te enteraste
que la cocina se quedó desierta
en cambio te serviste porción doble
de la dos veces amarga ensalada agria del Pollo Kentucky.

Nunca te enteraste
has sido más inteligente
envidio tu talento
no es fácil, no
sentirte huérfano.

Ok consciente

Nunca deste conta
que a mãe tinha perdido os dentes
preferiste pensar
que era exagerado fazer-lhe uma papa.

Nunca deste conta
que já há muito tempo que não andava
assumiste
que nessa altura preferiu ficar sentada.

Nunca deste conta
que se confundia o teu nome
não era para fazer charme
era apenas uma mostra do esquisito baile
da sua memória.

Nunca deste conta
que se falava dos avós
não era por nostalgia
era porque na sua fantasia esse tempo era atual.

Nunca deste conta
que se repete a mesma notícia da televisão ou da rádio
não é porque se tenha sentido chocada
é porque na sua cabeça ressoa uma e outra vez.

Nunca deste conta
que abandonou filamentos, aros e ganchos
disseste
Milagre! Finalmente descansou as mãos.

Nunca deste conta
que não era casualidade que o rádio estivesse desligado
só gostaste de
encontrar a casa em silêncio.

Nunca deste conta
que a cozinha ficou deserta
em troca serviste-te de uma dose dupla
da duas vezes amarga salada azeda do Frango Kentucky.

Nunca deste conta
foste mais inteligente
invejo o teu talento
no é fácil, não
sentir-te órfão.

27 fevereiro 2019

trinidad gan


Diccionarios

Al enfrentar lenguajes construimos
un muro para apartar las sombras
y trazamos, llevados por el pánico,
fronteras que contengan la vida y su avalancha.

Mas, cuando ella nos toca,
con su borde afilado, con su frágil belleza,
es tarea perdida.

Si restalla en los labios,
¿qué muralla podremos alzar entre los hombres?

Era tu noche triste, la mía de abandono.
En aquel alfabeto que yo no conocía
me hablabas, extranjero,
de los años pasados: deseo y literatura.

Bajo la lluvia fría vi mezclarse
las raíces comunes de nuestros diccionarios
y ya sólo escuché arder un eco:
dos voces conjugando la soledad vencida.

Dicionários

Ao enfrentar linguagens construímos
um muro para separar las sombras
e traçamos, com a mão do pânico,
fronteiras que contenham a vida e sua avalanche.

Mas, quando ela nos toca,
com a sua ponta afiada, com a sua frágil beleza,
é tarefa perdida.

Se estala nos lábios,
que muralha poderemos levantar entre os homens?

Era triste a tua noite, la minha de abandono.
Nesse alfabeto que eu não conhecia
falavas-me, estrangeiro,
dos anos passados: desejo e literatura.

Sob a chuva fria vi misturarem-se
as raízes comuns dos nossos dicionários
e já só escutei a arditura de um eco:
duas vozes conjugando la solidão vencida.

24 fevereiro 2019

virginia benavides


Pabellón B Este

as lesiones del lenguaje, la lengua que tritura silencios, los destilamientos del asombro en barcos anclados, la pena que despena. Incidir y exceder las palabras supurando lo indecible. Las estancias de la cicatriz, la costura que se deshilacha como la vida ¿Qué vida? La que escuece, la que cavas,

la que navega estando quieta, la que abordas a todo babor, la que no sabes de qué se trata, la incurable, la de pájaros restauradores de los cielos que tocaste, la imperdible, la que es comarca arrasada por bandos contrarios en tu mente y la que se erige isla sitiada por los anhelos como peces transparentes y escurridizos. La entubada, la de cuidados intensivos, la que se interna para nunca más salir sino es volando, fugando o reinventándose. La de adentro, la vida ida.

Y así se cuaja el silencio en ejercicios de lenguaraz, así se retira la venda para no ver y por fin mirar lo que navega. Así ibas rumiando el rumbo mientras atravesabas el pasillo en una camilla como una barcaza de entre guerras. los peces como pacientes en los umbrales te saludan invitándote a desembarcar. No quieres. Así debería navegar sin puerto te dices, mientras el enfermero no sabe si vas a endocrinología o a siquiatría y relee la orden médica. Sonríes. Todo es comprensión de lectura pero somos pésimos actores que llegamos en un río paralelo a otra isla, a otro puerto que se deconstruye apenas lo tocamos con el anhelo de quedarnos. Fluimos como el antibiótico dorado por nuestra carne adorada por algún gusano pasajero, no deseamos permanecer más que lo que desaparece en el suelo soleado el escupitajo. La maroma médica como un aplazamiento, un zurcido invisible para lo incurable, este decir que se escurre por el sumidero de lo eterno, poesía caudal, remedio vencido, párpados que se cierran como un poema dormido.

Pavilhão B Este

as lesões da linguagem, a língua que tritura silêncios, os destilamentos do assombro em barcos ancorados, a pena que consola. Incidir e exceder as palavras supurando o indizível. As permanências da cicatriz, a costura que se esfiapa como a vida. Que vida? A que dói, a que cavas,

a que navega estando quieta, a que abordas a todo o bombordo, a que não sabes de que se trata, a incurável, a de pássaros restauradores dos céus que tocaste, a imperdível, a que é comarca arrasada por bandos contrários na tua mente e a que se erige ilha sitiada pelos anseios como peixes transparentes e escorregadios. A intubada, a de cuidados intensivos, a que se interna para nunca más sair se não for a voar, a evadir-se ou a reinventar-se. A de dentro, a vida ida.

E assim se coagula o silêncio em exercícios de linguarudo, assim se retira a venda para não ver e finalmente observar o que navega. Assim irias ruminando o rumo enquanto atravessavas o corredor numa maca como uma barcaça de entre guerras. os peixes como pacientes nos umbrais saúdam-te convidando-te a desembarcar. Não queres. Assim deveria navegar sem porto, dizes-te, enquanto o enfermeiro não sabes se vais para endocrinologia ou para psiquiatria e relê o boletim médico. Sorris. Tudo é compreensão de leitura mas somos péssimos atores que chegamos por um rio paralelo a outra ilha, a outro porto que se desconstrói mal o tocamos com o desejo de ficarmos. Fluímos como o antibiótico dourado pela nossa carne adorada por algum verme passageiro, não desejamos permanecer mais que o que desaparece no solo ensolarado o vómito. O cordame médico como um adiamento, um cerzimento invisível para o incurável, este dizer que escorre pelo sumidouro do eterno, poesia caudal, remédio vencido, pálpebras que se fecham como um poema adormecido.

20 fevereiro 2019

eva r. picazo


hay algo roto en el silencio
allí donde la pupila baila,
vemos amor domesticado
como un animal primario
la necesidad de comprender
cuantos pedazos seremos capaces
de sostener en las manos
un cuerpo incompleto llora,
como lloran las heridas nuevas
haciéndose ruido en el mapa
como lloran estos ojos
tan estúpidos
tan ajenos a mi

há uma implosão no silêncio
no lugar do baile da pupila,
estampido de amor amestrado
como um animal básico
a necessidade de compreender
quantos estilhaços seremos capazes
de suster nas mãos
um corpo incompleto chora,
assim choram as feridas novas
tornando-se ruído no mapa
assim choram estes olhos
tão estúpidos
tão alheios meus