02 abril 2022

julie cayeux


Dans ma bouche,

je collectionne des mots-crapules.


Parfois, les mots se mettent à enfler

et quand ma langue me pique,

c’est qu’ils s’apprêtent à déborder.


Ces petites ordures forment une palissade

qui retient ma fureur.

Et ma bouche s’alourdit,

et ma langue se fatigue.

C’est pourquoi,

de temps à autre,

je dois vider ma bouche,

soulager mes tempêtes.

Il n’y a qu’une chose à faire :

se tenir debout

face aux murs de ma chambre

desserrer les mâchoires

et hurler.


Les mots tombent comme des feuilles,

je les piétine en paix.



Dentro da minha boca,

colecciono palavras-crápulas.


Às vezes as palavras começam a inchar

e quando a minha língua me pica,

é porque estão à beira de extravasar.


Estes pequenos resíduos formam uma cerca

que retém a minha fúria.

E a minha boca fica pesada,

e a minha língua cansa-se.

É por isso que,

de vez em quando,

tenho de esvaziar a boca,

aliviar as minhas tempestades.

Só há uma coisa a fazer:

ficar de pé

de frente para as paredes do meu quarto

desbloquear as mandíbulas

e gritar.


As palavras caem como folhas,

Piso-as em paz.