Dans ma bouche,
je collectionne des mots-crapules.
Parfois, les mots se mettent à enfler
et quand ma langue me pique,
c’est qu’ils s’apprêtent à déborder.
Ces petites ordures forment une palissade
qui retient ma fureur.
Et ma bouche s’alourdit,
et ma langue se fatigue.
C’est pourquoi,
de temps à autre,
je dois vider ma bouche,
soulager mes tempêtes.
Il n’y a qu’une chose à faire :
se tenir debout
face aux murs de ma chambre
desserrer les mâchoires
et hurler.
Les mots tombent comme des feuilles,
je les piétine en paix.
Dentro da minha boca,
colecciono palavras-crápulas.
Às vezes as palavras começam a inchar
e quando a minha língua me pica,
é porque estão à beira de extravasar.
Estes pequenos resíduos formam uma cerca
que retém a minha fúria.
E a minha boca fica pesada,
e a minha língua cansa-se.
É por isso que,
de vez em quando,
tenho de esvaziar a boca,
aliviar as minhas tempestades.
Só há uma coisa a fazer:
ficar de pé
de frente para as paredes do meu quarto
desbloquear as mandíbulas
e gritar.
As palavras caem como folhas,
Piso-as em paz.